17º Dia.

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8 de abril de 2016, San Diego.

Mexi-me um pouco para me sentir mais confortável quando algo apertou-me as mãos. Abri os olhos rapidamente vendo as minhas mãos amarradas com uma corda à cama. Olhei para o meu lado vendo Joshua dormir descansado.

"Joshua!" - Gritei para que ele acordasse.

O homem deitado ao meu lado grunhiu baixinho, resmungando qualquer coisa depois. Os seus olhos abriram e pela primeira vez, reparei que os mesmos são verdes.

"O que foi?" - Ele falou, tirando-me do meu devaneio.

"Podes desamarrar-me, por favor?" - Pedi.

"Não." - Vira-se de costas para mim.

"Mas, está a magoar-me imenso." - Resmunguei.

"Terás de lidar com isso." - Quase que cuspiu as palavras.

Como entendê-lo, mesmo? Ele tem aquele jeito de menino abandonado e magoado, porém, ao mesmo tempo, ele tem aquele jeito assustador que me faz tremer por todos os cantos. Devia haver um manual para percebê-lo, seria muito mais fácil.

Lembrei-me, enquanto o outro dormia, daqueles pedidos de socorro onde estávamos antes. Quem poderá ser? Eu acho que Joshua sabe. Certamente, ele deve ter encontrado a pessoa que possuía aquela voz de desespero, todavia, ele não me disse de quem se tratava.

"Joshua..." - Murmurei.

"O que foi, desta vez?" - Disse, parecendo incomodado pelo facto de eu ter falado, de novo.

"Vamos dormir durante todo o dia?"

Ele grunhiu em desaprovação e retirou os cobertores de cima do seu corpo. O seu tronco estava nu e agora pude reparar em todas as suas tatuagens berrantes. Ele levantou-se, passando na frente da cama, levando as mãos ao seu cabelo agora com algumas madeixas loiras. Ao sentar-se ao lado do meu corpo, estremeci.

"Estou acordado." - Suspira. " O que queres fazer?"

"Passear..." - Por momentos - muito poucos -, relembrei-me dos passeios que dava à beira mar com Mason e por vezes com a minha família ou com Tyra. Quem me dera ter isso tudo, novamente.

"Passear?" - Clareou a garganta. "Não podemos." - Dirige-se à corda que aperta as minhas mãos, uma contra a outra, desamarrando a mesma.

Esfreguei as mãos uma na outra e suspirei em satisfação e por finalmente estar confortável, apesar de estar a doer-me muito ainda.

"Porque não?" - Falei, vendo-o de costas.

"Porque temos de seguir viagem." - Olha-me. "Anda." - A sua mão ficou esticada por inúmeros segundos, até que ele próprio puxou-me.

Fomos até à casa de banho. O chuveiro foi ligado e ele começou a despir-se. Não acredito que vou vê-lo como ele veio ao mundo! Virei-me de costas para o corpo nu que entrava na base do duche.

Ouvi a água cair repetidamente e continuei de costas viradas.

Aquele estranho ser humano expõe-me a situações constrangedoras e perigosas. Qual das duas a pior? Sinceramente, estar com ele, em qualquer um das duas situações, entre muitas outras. Ele intimida qualquer pessoa.

Finalmente, a água parou de correr e de bater na base do chuveiro, dando-me a entender que o homem tinha acabado de tomar o seu banho.

"Porque não te viras?" - Ouvi.

"Porque não." - Senti as minhas bochechas arderem e um grande calor passou também por elas. Devo estar um tomate, neste preciso momento.

Após um tempo, as suas mãos viraram-me e pude estar frente a frente com aqueles olhos verdes escuros.

"Estás vermelha." - Disse e sorriu.

Ele acabou de sorrir? Será que ele está a ficar lúcido?

"É do vapor." - Menti, rapidamente, para que acabasse aquela situação desconfortável para mim, claro.

"Toma banho e quando acabares diz." - Ele ia sair, quando falei.

"E que roupa vou vestir?" - O seu dedo apontou para o canto atrás de mim, onde pude ver um vestido floral.

"Okay." - Acabei por dizer, quando a porta foi trancada pelo outro lado.

Ele, certamente, comprou roupa tanto para mim como para ele.

Após o banho e de ter saído da WC, dirigimo-nos para o salão onde estavam a servir o almoço.

A senhora que estava de pé a distribuir alguns sorrisos, sorriu-nos timidamente. Joshua apertava a minha mão cada vez mais, a cada passo que dávamos.

Sentamo-nos na primeira mesa desocupada que vimos. Ele olhava-me com algum receio - receio que eu pudesse desatar a gritar ou até fugir -, porém, por mais que eu quisesse fazer isso, eu tenho a certeza que ele acabaria por me encontrar e como eu estou muito longe de Nova Iorque, antes estar aqui e ter comida do que andar por aí sem comer.

"Vão querer qual dos almoços?" - A senhora que nos tinha sorrido estava agora de pé ao lado da mesa.

Olhei para o menu em cima da mesa e escolhi o primeiro.

Joshua preferiu o segundo mas sem sopa.

Começamos a comer e de segundo a segundo, Joshua fixava o olhar na mesa à nossa esquerda. Olhei disfarçadamente para quem estava na tal mesa e era um jovem rapaz todo sorridente.

Lembrei-me logo de Mason.

Como tenho saudades do meu namorado.

"Queres olhar mais de perto?!" - Acordei dos meus pensamentos com a voz do psicopata.

"Joshua, o que estás a fazer?" - Falei, entre dentes, vendo todas as pessoas a olhar-nos.

"Aquele merda ainda não parou de olhar para ti!" - Grita-me.

"Deixa estar."

"Os olhos foram feitos para ver e eu não tenho culpa dos meus estarem fixados numa jovem bela como a senhora que tem na sua mesa." - O jovem falou, sorrindo no fim.

O homem sentado na mesa comigo, levantou-se.

Arrepiei-me.

"Pois fica sabendo que da próxima vez, ficas sem olhos!" - Pegou no meu braço, puxando-me com alguma força.

Olhei para a senhora que já não sorria e fiz-lhe um olhar de que estava em apuros.

"Socorro." - Mexi apenas com a boca, não deixando sair nenhum som da mesma, pois Joshua mataria-me.

Entrei no quarto e ele andou de um lado para o outro.

"Temos de ir embora." - Falou e entrou na casa de banho.

Bateram à porta e eu abri a mesma, vendo a mesma senhora de à pouco.

"O que se passa?" - Ela entrou e ficou de pé a olhar-me.

"Ele raptou-me e tem-me sequestrada junto dele há dezassete dias." - Falei baixo e a mulher levou a mão à boca.

Senti um líquido ser projetado para o meu rosto e para o meu corpo e logo a mulher caiu ao meu lado, no chão.

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71 Days Of PainWhere stories live. Discover now