47º Dia.

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19 de junho de 2017, San Diego.

O sol já ilumina todo o mundo e eu, apesar de sentir o calor do mesmo, continuo na escuridão, porém agora sei que Mel está viva e também sei que tenho de lutar para sair daqui.

O que Joshua me disse, não sai da minha cabeça. Gostava de saber qual é o seu plano. É capaz de ele matar Elaine, mas porque não a mata já? Para quê esperar tanto tempo?

As memórias da noite de ontem continuam a vaguear a minha mente, torturando-me de certa forma. Ainda não sei como fui capaz de falar sim. Aceitei o que ele queria e dei-lhe o que ele desejava. E sinceramente, eu gostei. Não admiti, nem vou admitir para ele, pois podia dar esperança de algo que nunca vai acontecer, porém eu sempre disse que isto também não ia acontecer e aconteceu. Mas o que raio se passa comigo?!

Ainda sinto os seus beijos em mim. O seu perfume. Antes, eu não queria as suas mãos em mim, mas ontem, depois de ouvir aquelas palavras vindas dele, fiquei emotiva e deixei-me levar. Demasiado cedo? Talvez. Não era algo que havia programado. Eu queria odiá-lo por tudo o que ele me fez e por continuar a apoiar a irmã, ainda que ele ache que não é o mais correto, mas eu não consigo. Não mais.

Queria poder matar os dois e sentir o sabor a vingança na boca. Se matar Joshua vai-me valer de pouco a sua morte.

Caminho até à porta e ando para trás novamente. Não há muito para fazer aqui. A não ser pensar. Pensar que tortura mais do que qualquer outra coisa no mundo, neste momento.

A porta do quarto abre-se lentamente e Joshua entra com o pequeno almoço. Há dias que já não como. As panquecas ainda estão quentes e o leite achocolatado está de igual forma.

"Come depressa, antes que Elaine venha." - Assinto, caminhando até ele.

Como depressa e agradeço no fim.

O seu olhar ficou parado e o seu corpo também. A bandeja ainda presente na sua mão está estável. Gostava de saber o que ele pensa.

"Camilla, apesar do que se passou ontem, não penses que vou deixar de te ajudar."

"Eu sei. Já me ajudas muito. Obrigada por não teres matado a Melaine." - Murmuro.

"Se tu soubesses o quanto eu penso em ti." - A sua mão pousou na minha bochecha e por leves momentos fechei os olhos, apreciando o afeto.

"Mas o que raio se passa aqui?!" - A voz alterada de Elaine ouviu-se e Joshua deu um sobressalto, tal como eu.

Estamos tramados. Ela vai descobrir tudo, isso se já não descobriu. Estamos a brincar com o fogo e de que maneira.

"Elaine, não é nada do que estás a pensar." - O homem fala, de repente, indo até ela.

"Eu sei que não, meu amor." - A sua mão agarra o seu pescoço e ela beija-o. Aquilo doeu em mim. Depois da noite de ontem, vê-lo a beija-la dói e era suposto não doer. "Agora preciso que vás embora. Eu e Camilla temos um joguinho para fazer." - O seu olhar caiu sobre mim, depois de parar o beijo em que estava envolvida.

Antes de sair o homem que me trouxe o pequeno almoço, lançou-me um olhar e soletrou um "desculpa". Elaine continua a andar na minha direção e a porta fecha-se.

"Decidi aceitar o teu duelo. Vamos ver quem ganha esta porra." - Engulo em seco e sem contar algo afiado é espetado na minha barriga, do lado esquerdo. Levo a mão ao local, tirando a faca do sítio. Um grande grito foi abafado na minha boca.

Cambaleando vou para o meio do quarto, onde Elaine pega nos dois ferros. Pego em duas facas que se encontravam em cima da mesa pequena. O seu olhar é fixo e apesar de estar com medo de nunca mais ver a minha filha, não tenho medo dela.

Andamos à roda, até que ela veio até mim. O ferro bateu-me num braço e quando ela ia fazer o mesmo no outro esquivei-me e espetei a faca no seu abdómen.

A mulher geme de dor no chão e espeto a outra na perna e de imediato, o ferro bate na minha cabeça.

Tudo está turvo e está a andar à roda. Levo a mão à cabeça, sentindo já um leve inchaço. Levanto-me devagar e mais uma vez levo com o ferro.

Elaine está de pé, com raiva. Muita raiva. Vejo as facas ainda no sítio onde as coloquei. Arrasto-me no chão, para trás. Vejo que as outras facas que a morena trouxe estão longe de mim.

Atiro-lhe a cadeira às pernas e a mesma cai. Levanto-me com algum esforço e trinco-lhe um dos braços. Seguro o ferro antes que o mesmo me toque e atiro um para cima da cama. Pego no outro e dou-lhe na barriga e na cabeça.

Algo me agarra por trás. Joshua.

"Camilla, estás a sangrar." - Leva a sua mão até à minha barriga. "Vou levá-la daqui." - Aponta para a irmã, adormecida no chão. Era bom que estivesse morta, porém acho que bati com pouca força, devido às dores na minha barriga.

Joshua saiu, arrastando a morena consigo. Será que ela não morre nunca? Ou será que morreu mesmo?

"Tu estás a surpreender-me." - O homem entra. "Nunca pensei que fosses capaz de fazer isso."

"Tive de defender-me."

"Todos nós erramos, sabes?" - Olho-o confusa.

"Aonde queres chegar?"

"Quero apenas dizer que apesar de todos os erros que eu cometi, eu ainda posso ser um ótimo marido e pai para a tua filha."

"Joshua, ontem foi apenas ontem. Não vai haver mais vez nenhuma. Achas que matar tantas pessoas é um erro? Um mero e simples erro? Não, não é! Eu não te posso ter na minha vida." - Vi o seu olhar destroçado e o mesmo saiu.

Voltou apenas para me tratar da ferida e saiu, em silêncio.

Por mais que o esteja a admirar, não posso esquecer tudo o que ele fez e o que se passou. Não foi um erro. Foi vários homicídios.

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71 Days Of PainWhere stories live. Discover now