54º Dia.

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25 de junho de 2017, San Diego.

Continuo na preguiça, brincando com Melaine. Como tinha e tenho saudades da minha filha. Ela tão pequena deveria estar sempre comigo e não nestas circunstâncias de ir para um lado, ir para outro.

"Fico-vos admirando e perco as horas." - Sinto-o a entrar no quarto. "Vocês são tão especiais para mim." - Olha para Mel, que me olha com ternura. "Ela é tal como tu. Tão inocente, tão linda, tão inteligente, tão frágil. Sabes, eu sonhei várias vezes em ser pai, quando namorava a Camilla. Quando ela morreu, esse meu sonho morreu de igual modo. Saber que sou pai dessa menina linda me enche de orgulho, me enche de paz."

Ele pega na Melaine ao colo e a mesma ri-se. Vejo eles brincarem durante uns minutos e ele continua.

"Sei que certamente vou partir e só peço que eu sofra muito."

"Joshua, não digas essas coisas." - Falo, sentindo as lágrimas pesar-me nos olhos.

"Eu já fiz sofrer tantas outras pessoas. O que irei sofrer não é nada. Eu merecia muito mais."

"Tu vais ver que vais sair vivo dessa batalha."

"Prefiro morrer a ter que voltar para a prisão." - Levanta-se, andando com a bebé nos braços. "Quando eu me comecei a apaixonar por ti, Camilla, tu eras tão frágil, tão inocente, choravas por tudo e por nada. Eu amo-te pela tua simplicidade e pela tua sensibilidade. Não gosto da maneira como demonstras ser forte agora, mesmo que eu saiba que só assim poderás sobreviver às mãos da minha irmã."

"Eu mudei, e a culpa disso foi tua e sabes bem disso."

"Eu sei." - Suspira. "Vou deixar aqui, nesta cômoda algumas coisas que se eu morrer quero que entregues a Melaine."

"Mas..." - Ele interrompe-me.

"Promete que lhe entregas estas coisas."

"Eu prometo."

"Eu sei que tu nunca poderias te apaixonar por mim. A alma da pessoa não é a beleza. A beleza de uma pessoa está nos olhos de quem a vê. Tu me vês e a Melaine me vê com outros olhos. Tu por mais que me queiras morto, eu sei que tem dentro de ti algo que te faz ferver a corrente sanguínea. E não vale a pena desmentires. Eu sinto que já me amaste, com a mesma intensidade que eu te amei."

"Eu te amei, Joshua. Custa-me admiti-lo agora, mas o que eu senti foi amor. Por mais que me castigue por causa disso, eu tenho de deitar isto para trás das costas e falar-te... Tenho pena de seres assim. Tenho pena também de termo-nos encontrado desta forma na vida. Se fosse noutra circunstância, nós seríamos uma família unida e o amor não faltaria entre nós."

"Eu agradeço-te por teres compartilhado isso comigo." - Sorri-me. "Sei que vais cuidar muito bem da nossa filha. Ela não poderia ter melhor mãe." - Sorrio-lhe. "Quero pedir-te desculpa, mais uma vez, por tudo. E quero agradecer-te pela noite de despedida."

"Não tens de agradecer. Só tiveste aquela noite porque eu quis. Sabes que não haverá mais nenhuma vez. Já não sinto nada por ti a não ser um carinho especial por seres pai do anjo da minha vida, e raiva de tudo o que me fizeste."

"Compreendo." - Murmura. "Quero apenas dizer-te que nesta clínica." - Entrega-me o papel. "Eu falei e paguei à recepcionista Ruth para ter lá espermatozóides meus."

"Aonde queres chegar com isso?" - Ele senta-se ao meu lado.

"Tu amas mais alguém?" - Nego. "Não gostavas de ter mais filhos?"

"Eu gostava mas não é para já. A Mel ainda é pequena." - Coloco a minha filha no outro braço, enquanto ela brinca com as suas mãos, numa tentativa de levar as mesmas à boca.

"Por isso mesmo. Lá estarão espermatozóides meus, com o dinheiro que recebeste do pai do Richard podes fazer uma inseminação e teres outro filho a qualquer altura. Basta falares com a Ruth e ela encaminha-te para o médico que falei também."

"Tens isso tudo planeado há quanto tempo?"

"Desde que Camilla morreu, ela tinha poucos óvulos e então decidimos tentar inseminação, porém nunca chegámos a tentar, pois ela morreu."

"Pois... Eu depois vejo isso..."

"Eu sei que ainda não me perdoaste, porém quando perdoares tem outro filho meu, por favor."

"Ok...."

"Promete-me." - Prometi e ele saiu.

Continuo com a princesa nos meus braços e faço-a dormir.

Só consigo pensar em quando tudo isto vai acabar. Parece que isto não tem fim e eu só quero que tenha. Só espero que o plano de Joshua dê certo, porque se não der, Mel, eu e Joshua podemos morrer. Isso é o pior pesadelo de sempre.

O homem voltou para a cama, quando Melaine adormeceu nos meus braços. Deitei-a ao meu lado na cama e o pai dela deitou-se ao lado dela, do outro lado. Entreolhamo-nos enquanto a pequena dormia calmamente.

"Eu amo-te Camilla." - Olho-o e vejo as lágrimas formarem-se nos seus olhos. "Tudo o que puder fazer por vocês, eu faço. Só não vos quero mortas, isso seria demasiado insuportável."

"Nós não vamos morrer, Joshua. Nós vamos conseguir vencer Elaine. Tu vais ver." - Coloco a minha mão sobre o seu braço.

"Tenho saudades tuas..."

"Já falamos sobre isso hoje. Não vai haver mais. Tenta perceber."

"Tudo bem..." - Vira-se de costas para mim.

Eu sei o quanto ele mudou. Tenho de admitir. Desde que fomos sequestradas pela Elaine, ele não fez nada de mal a nós. Ele salvou Mel e ajudou-me tantas vezes. Vê-se que ele está do nosso lado, mas ainda assim, eu não quero dar-lhe mais nada. Ele já teve a sua despedida e não precisa de mais nenhuma. Não posso fazer aquilo novamente. Não consigo. Era bom que ele compreendesse sem ficar chateado.

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71 Days Of PainWhere stories live. Discover now