55º Dia.

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26 de junho de 2017, San Diego.

Acordei verificando que apenas Mel estava ao meu lado dormindo profundamente. Deixo Melaine na cama e vou verificando se Joshua está em casa. Não o vendo, dirijo-me à tal cômoda onde ele me falou que tinha umas coisas para a filha. O primeiro envelope, num tom rosado claro, diz "Melaine", porém, noutro ao lado, vermelho, cor de sangue, não diz nada.

Olho novamente para fora do quarto, não vendo sinal dele. Pego no envelope e fecho a cômoda. Sento-me ao lado da bebé e retiro umas folhas soltas de dentro do envelope encarnado.

Custa-me acreditar que mataste o nosso filho à minha frente. Ainda não acredito que o fizeste. Na verdade, não percebo o porquê de me estares a fazer sofrer desta maneira. Eu, que sempre te dei tudo, tu só me deste dor e sofrimento. Dei-te sorrisos, um filho, algo que sempre quiseste, e ainda assim, desprezaste-o.

Vi a maneira bruta de como o arrancaste do meu ventre, rasgando-me violentamente o meu interior. O sangue escorria-me pelas pernas e o suor descia o meu rosto avermelhado. Tinha sido uma hora a fazer força para que ele tivesse nascido. Quatro horas de dores insuportáveis, ainda te ouvindo falar "não é nada de tão insuportável".

Se soubesses o que é carregar um filho no ventre, saberias que apesar das dores insuportáveis, tudo vale a pena quando o temos nos braços.

Se soubesses o que é carregar um filho no ventre, saberias que vê-lo morrer antes de ti, é muito pior que as dores de fazê-lo nascer.

Ele não merecia. Eu não merecia.

Tu foste insensível, e se me dizias durante a gravidez que estavas mudado, era uma mentira e das grandes. Tu nunca mudaste! Tu nunca irás mudar! Podes até mudar a tua atitude de ser durante uns meses, mas isso acaba e tu ficas como um viciado em cocaína. Necessitas mesmo de matar alguém e quando encontras a tua presa, fazes sem piedade. Tu ficas cego e matas qualquer pessoa.

Passei este ano contigo. Sequestrada, muitas vezes, sem comida e por vezes davas-me pedras para comer. Óbvio que não as comia, mas ainda assim, deixavas elas lá. Se algum dia encontrares isto, quero que saibas que provavelmente estou ao lado do meu anjinho. Era um menino tão perfeitinho. Iria chamar-se Harry tal como tu querias. Porque lhe fizeste isso?! Ele não tinha culpa!

Cortaste-lhe aos pedaços há minha frente! Eu estava impossibilitada de lutar por ele. Levantei-me com grandes custos, tentando tirar ele do teu colo, empurraste-me. Bati com a cabeça e pouco depois de deixar de ouvir o seu choro, apercebi-me que tinhas morto aquele que tinha saído de mim. Aquele que arrancaste sem consciência e ainda ligado à placenta.

Mas não devia ser tudo... Eu sabia lá no fundo que ia sofrer mais... E tu chamaste o Richard.

Eu já estou morta. Morri com o último choro do Harry.

Amanhã tu e Richard podem fazer-me o que quiserem. Já não me importo mais.

Beatrice.

Limpo as lágrimas que inconsolavelmente  saíram dos meus olhos durante a leitura. Joshua também me diz que mudou, mas ele tinha dito o mesmo a Beatrice. Essa parte da história de Beatrice estar grávida, nem ele nem o Richard falaram sobre isso. Eles sempre me esconderam coisas. Eu não posso confiar mais no pai da Mel. Ele vai matá-la de igual forma. E eu não vou aguentar.

Se tiver de morrer por ela, eu morro, mas ele também não sai vivo desta guerra. Ninguém sabe o quanto amor de mãe é forte e nos dá coragem para fazermos o que quer que seja. Ele não me conhece. Se ele pensa que sim, está redondamente enganado.

"Bom dia." - Ouço de longe e arrumo a carta debaixo do colchão. "Trouxe pão quente e café." - Entra no quarto. Finjo um sorriso. "Estás bem?"

"Sim, porque não haveria de estar? Estamos bem, estamos seguros, é tudo o que queria."

"Pois é... Só espero que Elaine não nos encontre nunca mais."

"Ela tem que morrer para que não nos procure mais, será que não compreendes isso?"

"Eu sei, mas ao irmos ao seu encontro ela vai-se vingar na Melaine." - Até parece que ele não matou o seu filho da última vez.

"Deixamos ela num sítio seguro. Não podemos viver sobre medo, e outra, também não quero estar aqui contigo." - Vi a maneira como fiquei perturbado e aconcheguei a bebé que ainda dorme perto de mim.

"Tu olhas-me como se não confiasses em mim e eu preciso que confies." - Senta-se há minha frente.

"Sabes que é difícil. A Mel é tudo para mim. Ela é a minha razão de viver, portanto devendo-a com unhas e dentes. Se tiver de morrer por ela, não penso duas vezes. Faço de tudo para que ela esteja bem e segura. Só te peço para agirmos o mais rápido possível."

Um estrondo é ouvido. Joshua levanta-se rapidamente e eu pego na minha filha ao colo. Elaine nos descobriu. Só pode ser isso.

Joshua sai do quarto e após alguns minutos, volta acompanhado por dois homens. Um está com a arma apontada à sua cabeça e o outro aponta para a Melaine.

"Mexa-se! Está à espera do quê? Quer que mate a sua filha?!" - Um deles, grita-me.

Saio atrás de Joshua e atrás de mim está o outro homem com a arma apontada. Só consigo olhar para a minha filha. Como eu não queria que isto acontecesse.

O homem da frente coloca o psicopata dentro da bagageira do carro. Quando o outro tenta-me tirar a bebé dos braços, fazendo a mesma chorar, envolvo-me numa briga com o mesmo. O torro deposita algo no meu braço. Olho uma última vez para Mel que ainda chora, olhando-me e apago-me.

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71 Days Of PainWhere stories live. Discover now