35º Dia Livre.

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7 de junho de 2016, Nova Iorque.

A médica passou um lenço sobre a minha barriga ainda com o gel frio e no meu rosto havia uma grande sorriso de felicidade extrema.

"Tudo está bem com o seu bebé, Camilla. Daqui a um mês volte novamente, sim?" - Assenti juntamente com o meu pai que acompanhou-me até aqui. "Vou-lhe receitar umas vitaminas e recomendo muito descanso, pois depois de tudo o que passou, esta gravidez é de alto risco." - Olhei-a seriamente, absorvendo o choque de que a minha gravidez é de muito risco e complicada. "Caso tenha um aborto, poderá nunca mais engravidar na sua vida." - Engoli em seco. "Não a vou assustar mais. Adeus, então e um resto de um bom dia." - Sorriu-nos depois de nos cumprimentar.

Saí do consultório ainda chocada com tudo o que ela tinha dito. Para além de está gravidez ter surgido à força e muito indesejada por mim, ainda tenho de estar preocupada com esta possibilidade de perder o meu bebé. Já para não falar que se eu tiver um aborto, talvez nunca mais vou conseguir ser mãe. Tudo isto por causa do Joshua! Apesar que antes eu não desejava este bebé, agora tudo mudou e eu preciso dele. Da esperança que ele me proporciona, da alegria, da felicidade que já não sentia à muito tempo. Preciso ter este bebé.

"Camilla, estás bem?" - O meu pai falou, quando entramos no carro.

"Só estou abalada com as informações que a médica me deu." - Falei e ele pousou o seu olhar cansado sobre mim. "Eu ouvi a discussão logo de manhã." - Um grunhido saiu da boca do homem ao meu lado e vi a sua desilusão ao ver que eu tinha ouvido.

"A tua mãe está a ser muito injusta contigo, Camilla. Não há maneira de tirar aquela ideia de abortares da cabeça dela. É como se ela estivesse possuída, ou algo do género. Logo agora que tu precisas de descanso e nada de discussões ou nervosismo, a tua mãe está a fazer todo este filme de terror, mais um para além daquele do Joshua."

"Pai, eu aprecio muito todas as vezes que me defendes. A sério." - Ele sorri-me. "Eu só não quero causar problemas entre a vossa relação."

"Filha..." - A sua mão pousou calmamente no meu ombro, fazendo-me encará-lo. "Tu nunca nos causas problemas. Nunca os causaste não era agora que os ias começar a fazer. A tua mãe ainda não aceitou bem esta revelação da tua parte, mas eu conhecendo-a da maneira que conheço, sei que ela vai acabar por dar o braço a torcer. Tenho a certeza!" - Exclamou, confiante. Já eu não estou tão confiante assim. Há um mês atrás, ela falou muito a sério quando disse que eu ia abortar, nem que fosse a última coisa que ela fizesse na vida. Levei aquilo como uma ameaça de morte, e de facto é. Ameaça de morte ao meu bebé, que não tem culpa por tudo isso que está acontecendo.

"Ela falou muito a sério, pai. Desconfio que ela vá mudar a sua opinião agora."

"Terá de mudar ou perderá a sua única filha." - Atrrgalei os olhos, não assimilando as palavras ditas à pouco.

"Como assim?!" - Afastei-me do seu toque.

"Iras para casa da tua tia ou eu compro-te um apartamento, só para ti. Lá poderás descansar e não vais ser incomodada por ninguém."

"Pai, eu não me vou sentir segura num apartamento estando sozinha."

"O Joshua vai ser preso, querida. Não há mais nada que possas temer."

"Há sim, pai." - Suspirei. "Elaine Bolivian, irmã de Joshua que está desaparecida desde o ano passado cujo vivia incesto com o próprio irmão."

"Essa história cada vez mais me parece um filme de terror." - Liga o carro.

Chegamos a casa e visualizamos a minha mãe e a minha tia Dinah conversando. Cumprimentei minha tia e sentei-me tal como o meu pai.

"Como correu a consulta, sobrinha?" - Aorriu-me.

"Bem, apesar de ter recebido algumas más notícias." - Murmurei as últimas palavras.

"Que notícias? É sobre o bebé?" - O olhar da minha mãe caiu sobre mim, finalmente.

"Por causa de toda a experiência desagradável que passei, tenho gravidez de risco e caso tenha um aborto espontâneo, posso nunca mais vir a ser mãe." - A minha tia olhou, cautelosamente para a minha mãe que abaixou o olhar em direção à chávena de chá, pousando na sua mão, agora trêmula.

"Trisha, acho que tens algo a dizer à tua filha, agora." - Olhei ainda que hesitante para o que ela poderia dizer e esperei, ansiosamente.

"Eu peço desculpa, Camilla. Não aceitei a revelação dessa gravidez da melhor maneira, mas quero que te ponhas no meu lugar. Como ficarias? Eu perdi-te. Não soube de ti durante um mês e mais alguns dias. Nem imaginas a preocupação que foi! Receber esta notícia não foi fácil e é claro que não podia ser levada no ânimo que pretendias. Acho que até para ti, esta notícia foi chocante e tiveste receio."

Assenti, afirmando com a cabeça enquanto ela continuou o seu discurso, até que a campainha tocou. O meu pai foi lá e a Megan entrou. Levantei-me preocupada.

"Passa-se algo?" - Falo e ela nega.

"Tenho aqui os papéis que o advogado do doutor William me entregou. Tens de assina-los pois o dinheiro já está na tua conta."

"Que dinheiro?" - A minha mãe questiona.

"O Richard, um dos que me raptaram, matou o pai, William, e nesse dia ele falou que tinha passado toda a sua fortuna para mim, pois eu merecia mais que o filho." - A minha mãe leva a mão à boca, parecendo não acreditar.

"Está escrito no testamento dele." - Megan falou, seriamente. "Como ele tinha apenas um filho, o tratamento é claro. Podes assinar?" - Pego no papel e assino com uma esferográfica da minha advogada.

"Encontraram o corpo do senhor William?"

"Sim, por isso estás a assinar os papéis. Ele foi encontrado na sua casa do campo, pela empregada que fazia a limpeza uma vez por ano. O enterro será amanhã." - Agradeci toda a informação e acompanhei-a até à porta. "Antes de ir..." - Vira-se para mim. "Tenho uma carta para ti, sei que não devia dar-te pois é contra a lei, mas acho que ias gostar de ler o que contém nela."

"De quem é?" - Pego no envelope já aberto. "Já leste?"

"Li, por isso sei que vais gostar do que está dentro. É a resposta que estávamos em dúvida. Lê e saberás de quem é. Até dia 10." - Despediu-se e saiu.

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71 Days Of PainWhere stories live. Discover now