24° Dia.

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15 de abril de 2016, Malibu.

Os meus olhos estão cansados. O meu corpo todo dói.

Será estranho sentir que estou ficando habituada a toda essa dor?

Levanto-me, espreguiçando-me e Joshua situa-se há minha frente, sentado numa cadeira de escritório já gasta e velha.

"Estás melhor?" - Ele fala e um sorriso assustador paira no seu rosto. Num movimento afirmei. "Ótimo." - Levanta-se e começa a mexer numa caixa.

"O que estás a fazer?" - Não devia ter perguntado, mas afinal de contas, mesmo que eu não pergunte nada, ele vai magoar-me.

"Hoje vou fazer-te algo diferente."

Senti uma tontura.

Cordas grossas presentes nas suas mãos neste momento, fazem-me ver o cenário que está prestes a acontecer.

A minha mão direita foi puxada pelo homem e mesmo com toda a minha resistência, ele conseguiu amarrar-me à cama. Pés e mãos atados e um pano a tapar-me a visão.

Os poucos sons que ouço são muito vagos e não me transmitem algo conhecido ou que possa descodificar o que é.

Sinto as mãos a tremer e a suar.

Certamente, Joshua sentou-se na cama pois o colchão da mesma afundou de um lado.

Mexo-me um pouco tentando sair daqui.

"Tu ainda dás resistência? Ainda tentas?" - A sua gargalhada é captada pelos meus ouvidos. "És tão inocente, Camilla."

Um breve silêncio instalou-se, porém ele não saiu da cama. Ainda sinto a sua presença aqui.

"A Beatrice era assim..." - A sua voz foi ouvida novamente.

Será que ele tinha pensado muito antes de falar isto?

"Tu amavas a Beatrice?"

"O amor não existe mais, Camilla. O amor é para os fracos!" - Senti o colchão voltar ao seu normal, verificando assim que o outro corpo havia saído.

"Mas tu já foste fraco." - Falei baixo.

"Mas por pouco tempo. Acho que canso-me das mulheres. Vocês são muito queixinhas. Qualquer dor e já estão a chorar e a gritar. Irrita-me profundamente." - Pôde sentir alguma irritação à medida que ele falava.

"Porque mataram a tua mãe?"

"O meu pai devia dinheiro a um homem... um homem muito poderoso e como tal quem sofreu foi a minha mãe."

"Porque não mataste os homens que fizeram isso à tua mãe? As outras mulheres e eu não temos culpa!"

"Foi uma mulher que matou a minha mãe! Ela morreu também..." - Ri-se. "Matei-a e gravei tudo tal como gravo aquilo que faço às mulheres que passaram pelas minhas mãos."

O quê?

Então, neste preciso momento, há uma câmara a filmar-me?

Ele é mais doentio do que eu pensava.

"Quando vocês adormecem, fico a rever os vídeos. Tenho vários. Os melhores são os das mortes. Quando corto às mulheres aquilo que pretendo delas. Quando tenho o que quero."

"Onde tens as partes que retiras às mulheres?"

"Nunca te direi."

Era fácil saber a sua resposta. Ele não iria revelar algo como isto.

Porém, ele já revelou tantas coisas que irá acabar por contar mais esta.

"Mas não estou aqui para falar."

O som dos sapatos dele no chão velho de madeira fazem como se eu estivesse vendo um filme de terror.

"Queres que te diga o que vou fazer?" - Não precisei dizer que sim, pois ele continuou. "Vou coser-te os lábios com linha."

"Não!" - Gritei.

Cada vez que a agulha entrava no meu lábio superior era mais lágrima que caíam. Mexo-me na cama sem parar. Tento parar esta dor, mas nada funciona.

Quando tento falar, a linha repuxa e assim percebo o que ele está a fazer.

É como se fosse uma boneca de trapos. Ele está a fazer-me o mesmo.

Ouço ele cortar a linha com uma tesoura, provavelmente por causa do som do objeto em causa.

Por mais que queira falar, a minha boca está fechada com a linha que vai do meu lábio superior ao inferior.

Tento imaginar a minha imagem agora, porém até a minha imaginação é horrível.

"Finalmente não vais falar ou perguntar mais nada." - O homem fala.

A porta é fechada com força e remexo-me na cama. Tento tirar os meus pulsos da corda que os circunda. É inútil.

Tudo é inútil.

A minha esperança está prestes a acabar.

Ouvi os mesmos passos pesados e largos no chão. 

O pano foi-me tirado dos olhos e pôde ver o rosto do psicopata.

Ele saiu do meu lado e foi até ao outro lado do quarto.

Voltou com um pequeno espelho.
Vi várias linhas paralelas entre si nos meus lábios, como se elas já estivessem ali há muito tempo.

Sangue é notório desde a minha boca até ao meu queixo.

"Agora irás morrer há fome." - Gargalha. "Nunca ninguém irá encontrar-te aqui, Camilla." - A sua mão imunda passa na minha testa.

Quero gritar ou apenas cuspir-lhe na cara de nojento que ele tem, mas não consigo.

Ele anda com um monte de chaves na mão até umas gavetas.

Não pôde ver aonde ele tinha colocado as chaves.

Os meus pés foram soltados e uma seringa é injetada no meu braço.

Ao Joshua passar pela cama, arrastei o meu corpo em sua direção e dei-lhe com o pé no rosto.

O homem virou-se para trás com a mão na face agora vermelha e com a barba de dias por fazer.

"Tu irás sofrer muito mais!" - Grita. "Muito mais!" - Sai do quarto, fechando o mesmo.

Puxo pelos meus braços várias vezes, fazendo alguns sons estranhos saírem pela minha boca fechada à força.

Um dos nós está a soltar-se, mas os meus olhos estão cansados.

Ele colocou algo naquela seringa. O que foi?

Os olhos insistem em ficar fechados e os meus membros não respondem aos meus comandos.

Deixo-me levar por uma sensação estranha.

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71 Days Of PainWhere stories live. Discover now