Quase, sem querer

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Por mais uma noite ignorei a bagunça que estava na minha cabeça. Tinha aceitado ficar, aceitado dormir na cama dele mais uma vez, assim como tinha aceitado usar as roupas dele novamente, após tomar um banho demorado.

Ele não tentou nada, só me beijou e me abraçou a noite toda. Deixou que eu escolhesse o lado da cama em que gostava de dormir, da mesma forma como me deixou escolher compartilhar ela ou não.

E a noite tinha sido perfeita de mais para que eu negasse que ela tinha existido. Eu sabia que era tarde para voltar atrás, mas mesmo assim insistia em ficar criando desculpas para não ter que ir embora.

O celular de Harry não parava de tocar em cima da cabeceira. Tinha acordado com a vibração do aparelho em cima do móvel, e mais de uma vez cogitei a ideia de ver quem era, mas ele estava agarrado no meu corpo. Seria impossível me mexer sem acordar ele.

Quando finalmente ele se virou, consegui esticar a mão e pegar o aparelho. Não tinha senha, ele não era o tipo de pessoa que esconde as coisas, então foi fácil de mais vasculhar sua privacidade. Havia cinco chamadas de um tal de Evan, duas da Alicia gatinha e varias da sua mãe.
Ele tinha passado o dia todo comigo, nem havia se preocupado com o aparelho, ou com a sua vida social fora daquela mansão. E eu não sabia dizer se gostava daquilo ou não.

Passei os dedos pelas mensagens dele. Milhares de conversas com os seus amigos apareceram, Harry era engraçado na maioria delas, de um modo sarcástico e sacana, mas ainda sim engraçado. Ele debochava de todo mundo, sem se preocupar com as consequências. Também achei inúmeras conversas com garotas, mas não me dei ao trabalho de ler, sabia que ele era pervertido e não precisava de mais evidencias. Anos ao seu lado tinham me provado aquilo, e não estava com estomago para o ver flertando com outras garotas àquela hora da manhã. Então fui direto para a galeria de imagens dele, e me impressionei com a quantidade de fotos que encontrei lá. Em quase todas ele ria feito um idiota, com aquele sorriso absurdo, que fazia as minhas pernas ficarem bambas. Maldito Harry.
Se havia fotos de mulheres peladas? Sim, havia milhares de putarias no seu celular, o que não me surpreendeu. Mas quando vi a pasta "Anne", fiquei intrigada.

Ele tinha inúmeras fotos minha no seu celular. Todas elas tinham sido tiradas sem a minha autorização ou consentimento. Eram os meus piores momentos, registrados de alguma forma no mundo dele. Encontrei uma minha dormindo na aula de sociologia, a mesma aula que a gente fazia juntos. Ele tinha pego um momento tranquilo meu, e não poderia negar que a foto tinha mesmo ficado boa. Era como se ele tivesse capturado toda a minha inocência naquele momento, colocando ela presa dentro de uma foto preto e branco.

-É a minha favorita também.- disse ele me pegando desprevenida.

Larguei o celular no mesmo momento. Deixando o aparelho cair entre nós, com o susto de ser pega no flagra, franzi a testa.

-Por que você tem fotos minhas no seu celular?- perguntei com uma sobrancelha arqueada.

Ele riu e pegou o celular entre nós. Depois relaxou na cama, folhando minhas fotos como se fosse algo pessoal em seu telefone.

-No inicio eu tirava elas só para te irritar. Postava fotos ruins suas na pagina da escola, para que as pessoas te zoassem sem que você entendesse o porquê, mas então comecei a gostar de guardar elas aqui. Parecia que você fazia de proposito, e eu gostava dos resultados.

Ele parecia perdido nas próprias palavras.

-Faço o que de propósito?- disse sem entender a quê ele se referia.

-Parece que sabe que eu estou tirado e faz o melhor para ficar linda em todas elas.- disse ele como se aquilo não fosse nada.- Eu simplesmente não consigo apagar, e nem parar de tirar. Parecia um segredo só nosso, mas agora vendo essa sua cara de espanto...- disse ele olhando para mim brevemente, antes de voltar sua atenção a tela do celular.-...sei que você não fazia.