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Eu estava sentada na bancada da cozinha, com a perna pendurada, pesando para baixo, por causa do gesso.

-Acho que eu ganhei uns 2kgs.- disse entre uma mordida e outra na minha torrada, que Nathan tinha preparado.

Ele lavava os pratos na pia, de costas para mim, vestindo o avental ridículo que meu pai tinha comprado. Aquele de estampa de corpo de modelo de sunga.

-Eu não percebi.- disse ele sem me olhar.

-Claro que não, vocês homens nunca percebem isso.- revirei os olhos.

Ele secou os pratos e os guardou no armário. Era incrível como ele já parecia habituado com a minha casa, até poderia dizer que ele morava ali há bem mais que três semanas. Nathan virou na minha direção, e olhou para o meu prato.

-Você precisa comer, não começa a inventar desculpas, como aquelas bulemicas, daquele programa que a gente viu na segunda.

Olhei para ele, e antes que conseguisse revirar os olhos fui sugada para a cena dele naquele avental. Era engraçado imaginá-lo de sunga, conversando na cozinha sobre assuntos banais, ele ficava engraçado de mais com aquele avental. Tanto que não consegui me conter.

-Do que você esta rindo?- ele colocou as mãos na cintura. Cobri a boca com a mão, tentando disfarçar, mas era quase impossível não cair na gargalhada.

Nathan ficou me encarando, com as sobrancelhas erguidas, até que veio para meu lado. Curioso com a piada que não tinha percebido.

-Eu não consigo conversar com você vestido assim.- disse, enquanto tentava segurar as gargalhadas. Mas fracassei.

Ele olhou para o próprio corpo e depois revirou os olhos. Pode até parecer idiota, mas naquele momento foi engraçado de mais para mim, e tive que me recompor muito pra parar. Já estava com os lábios pressionados, tentando pensar em qualquer coisa que não fosse naquele utensilio idiota, mas mesmo assim a risada insistia em querer sair.

-Acho que eu nunca tinha te visto rir assim.- disse Nathan, se aproximando ainda mais de mim, colocando a mexa comprida do meu cabelo para trás.- Você fica linda assim.

No mesmo segundo perdi completamente a vontade de rir, fiquei presa na sensação que a mão dele causava no meu rosto, assim como na intensidade do seu olhar na minha direção. Então ele se inclinou na minha direção, segurou meu rosto com delicadeza e pressionou seus lábios nos meus.
Não foi um beijo quente, assim como eu esperava, foi delicado e carinhoso de um jeito que eu nem imaginava que ele sabia ser.

Geralmente eu fantasiava com Nathan, mas nada como aquele momento. Depois de tudo que Harry fizera, e de eu ter decidido enterrá-lo no meu passado, passei a prestar total atenção em Nathan. Ele era lindo, focado e queria o mesmo destino que eu. Talvez fosse pelo fato, de admirar ele como atleta, que o tornava tão atraente para mim. Imagina você abdicar de tudo que gosta em nome de algo, ele tinha deixado à família e os amigos, administrava uma vida de regras, controlando a comida e os horários de treino. Nunca dormindo muito tarde, nem mesmo ingerindo bebida alcóolica, tudo em nome da vida que escolheu. Pare e pense, ele era um cara novo, com seus vinte e quatro anos, e mal tinha tempo para namoradas. Consegue ver o quanto isso é difícil? Eu o admirava por ter tanta determinação, tanto é que às vezes me pegava imaginando como seria se a gente ficasse juntos por um bom tempo.
Talvez eu devesse me dar aquela chance.

Abri meus olhos lentamente, quando ele se afastou de mim, quebrando nossa linda ligação.

-Sinto muito por isso, não consegui evitar.- ele parecia constrangido.

Sorri para ele e depois olhei para o meu prato, antes de pegar o que havia sobrado da torrada e enfiá-la na boca. Dei de ombro, como se ele não tivesse feito nada de mais e o mesmo revirou os olhos se divertindo com a minha atitude.
Depois beijou meus cabelos e saiu da cozinha, rumo ao seu quarto. Ou melhor, o quarto do meu pai.


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Faltava uma semana para que eu me livrasse do gesso, uma semana me separava da liberdade de poder fazer o que eu quisesse, a hora que eu quisesse. Sem ter que me preocupar em estar atrapalhando as pessoas ou não.

Eu mal podia esperar para me livrar daquele fardo.

Nathan tinha saído de casa, depois de se despedir de um jeito embaraçoso, mas totalmente fofo. E eu já estava jogada no sofá, como fazia em todas as tardes entediantes que passei naquele mês.

Então a campainha tocou, e me obriguei a fazer força para levantar. Pausei o filme que estava vendo, pela quinta vez diga-se de passagem, e calcei as muletas para chegar até a porta. Não fazia ideia de quem poderia ser à uma hora daquelas, e quando abri a porta não consegui conter a surpresa que se estampou na minha cara.

-Mark?- perguntei confusa.

Ele sorriu, daquele jeito provocante dele.

-Oi.

Ele estava vestindo uma camisa preta longa, por cima de um jeans claro. Parecia confortável, mas ainda sim levemente ansioso com a minha presença na sua frente. Estava impecavelmente bonito, do mesmo jeito que eu lembrava tê-lo visto sair todas às vezes da academia.

-O que você esta fazendo aqui?- tentei não parecer tão rígida, mas as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse contê-las.

-Queria saber como você estava, e resolvi vir te ver. - disse ele despreocupado.

Ele havia ignorado a minha falta de educação, e contornado a situação com tranquilidade. Estava merecendo uma chance, mesmo que aquilo não fosse uma boa ideia.

-Você quer entrar?- perguntei educadamente, da forma mais simpática que a minha alma negra permitia.

-Eu ia adorar.- ele sorriu, depois passou por mim quando eu abri um espaço entre meu copo e o arco da porta.

Quase, sem quererOnde as histórias ganham vida. Descobre agora