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Meu dia tinha sido um tedio completo, como quase todos os outros daquela semana. Eu e Nathan estávamos mantendo o controle para falar um com o outro, mas nada tinha ficado bom, como antes, de fato.

Ele ainda estava de mau humor, assim como eu ainda ficava resmungando toda vez que o gesso me impedia de fazer alguma coisa.

Eu mal usava as muletas quando Nathan não estava, já que ele sempre me advertia por ficar pulando o tempo todo. Mas o fato é que eu odiava ter que depender daquelas pernas improvisadas. Doía os braços ficar apoiando todo meu peso neles, e ficar pulando como um canguru tinha me ajudado a conseguir um equilíbrio que nunca tive, o que devo confessar, foi maravilhoso e aquilo seria útil no meu futuro.

Pulei da sala até a cozinha, depois procurei por algo na geladeira, mas não havia nada interessante lá. Revirei os olhos, Nathan ia acabar com a minha comida. O garoto comia como um animal selvagem.

VOU MORRER DE FOME PORQUE UM ESFOMEADO ACABOU COM AS MINHAS COMPRAS DA SEMANA!!!

Eu não estava implicando por nada, muito menos brigando. A semana já estava quase no fim, e eu sabia que ia ter que comprar pela internet os itens necessários. Eu não achava justo cobrar algo de Nathan, ele já estava perdendo seu tempo comigo, não ia arrancar eu dinheiro também.

Segurando meu celular, fui para a sala outra vez, me joguei no sofá e zapiei alguns programas na TV. Qualquer coisa para me distrair.

TENHO QUASE CERTEZA QUE ESSA MENSAGEM NÃO ERA PARA MIM, MAS POSSO RESOLVER O SEU PROBLEMA, SE ME DISSER QUEM É O ESFOMEADO QUE ESTEVE AI!!!

A mensagem era acompanhada de carinhas de indignação, e só quando vi a foto no ícone do contato percebi que tinha mandado para a pessoa errada. E não podia ser ninguém menos que Harry. Que beleza, eu não precisava de inimigos, tinha a mim mesma.

OBVIO QUE FOI PARA A PESSOA ERRADA.
VOU REPETIR, CASO VOCÊ TENHA PROBLEMAS MENTAIS E NÃO ENTENDA.
NÃO PRECISO DA SUA AJUDA!!!

Digitei a mensagem com raiva de mim mesma. Logo para ele.

LOUCA!

Não me dei o trabalho de responder, apenas reenviei a mensagem para Nathan e depois bloqueei Harry na minha lista de contatos.

Assisti a quatro filmes e uma série, sem que tivesse recebido uma mensagem de volta de Nathan, o que só me deixou ainda mais deprimida. Eu sabia como ele ficava focado enquanto treinava e dava aulas para os iniciantes, da mesma forma competente que eu fazia a mesma coisa.

Se para mim jiu jitsu era importante, para ele era quase uma religião. Nada fazia ele perder o foco, assim como nada ra capaz de fazer ele desistir de chegar aonde queria.

Eu já estava adormecendo no sofá, com os cabelos espalhados pela almofada de escoro, e o corpo adormecido por estar na mesma posição quando Nathan chegou. Ele estava com as calças do kimono, moletom, tênis de corrida e o kimono amarrado nas costas, do mesmo jeito que o vi pela primeira vez.

Só pelas suas feições eu podia ver o quanto ele estava cansado.

-Sinto muito.- disse ele sentando ao meu lado, me pegando completamente desprevenida.

Olhei para ele sem entender do que ele falava, completamente confusa com a aproximação repentina dele.

-Do que você esta falando?

Ele suspirou.

-Pela forma como venho agindo.

Arqueei as sobrancelhas simultaneamente.

-Você esta falando dos últimos dias ou dos últimos anos?- disse sarcasticamente, fazendo com que ele revirasse os olhos.- Relaxa okay, esta todo mundo a for da pele. Você vivendo em um lugar que não é seu ambiente, eu com essa merda aqui.- apontei para o gesso. -Normalmente já não temos paciência um com o outro, imagina nas atuais circunstancias.

-Eu sempre tive paciência com você.- ele disse chocado, como se eu tivesse dito algo completamente absurdo.

-Claro que sim.- revirei os olhos.

Ele deu um tapa na minha barrigada, de uma forma brincalhona, da qual eu já nem estava acostumada vir dele. Tentei não ficar surpresa, mas foi impossível negar que era bom ter ele de volta. O velho Nathan, aquele de quem eu gostava secretamente.

-Toma.- ele jogou seu celular simples em cima de mim.- Pede uma pizza enquanto eu tomo um banho. É por minha conta hoje.

Ele levantou do sofá, agindo como se aquele momento fosse algo completamente normal entre a gente.

-Esta achando que eu sou sua empregada?

Ele sorriu e me deu as costas, seguiu para o corredor que ligava os quartos e o banheiro, gritando como um louco.

-Não, só uma morta de fome com quem divido o mesmo teto.

Parecia que uma trégua estava a caminho aquela noite, e até eu estava disposta a deixar meu mau humor descansar por um dia, já que era bom ter alguém ao meu lado.


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-Que filme é esse?- Nathan já estava de banho tomado, sem camisa, com as calças de moletom perigosamente baixa no quadril.

Eu estava tentando não olhar, mas era impossível, ele era adorável de mais daquele jeito para ser negado.

-Capitão américa.

-E por que vamos ver esse filme? Você já não viu umas mil vezes?- ele abraçou uma almofada, escorando o queixo na sua borda, de um jeito completamente fofo de mais para um cara do seu tamanho.

-Eu gosto desse filme.- olhei para ele de relance, e depois voltei a olhar para a TV, afim de encontrar Chris Evans em mais uma cena de combate.

-Isso não é justo.- ele se esticou, até conseguir pegar o controle de minhas mãos. Protestei, mas mesmo assim ele trocou de canal.- Uma vez na vida, eu vou escolher a programação.

-Nem pensar, nem meu pai manda nesse controle quando eu estou aqui.- disse com as sobrancelhas enrugadas.

-Para tudo tem uma primeira vez não é.- ele piscou na minha direção.

Revirei os olhos e quando estava prestes a protestar ouvimos o som da campainha. Meu cérebro associou aquele som com a pizza no mesmo segundo, rocando como a morta de fome que eu estava me tornando.

Nathan levantou, pegando a carteira que estava em cima da mesa de cetro, seguiu até a porta. Eu podia ver a felicidade dele ao pensar em se esbanjar com carboidrato gorduroso.
Mas quando ele abriu a porta, vi seu sorriso morrer, assim como a minha esperança de que aquela noite terminasse bem.

-Quem é você?- disse a voz rouca de Harry, me fazendo erguer meu corpo imediatamente do sofá.

-Não é da sua conta.- as sobrancelhas de Nathan se franziram, deixando uma ruga surgir entre elas.

-Você esta bem enganado.- Harry tentou passar por Nathan, mas o mesmo o impediu de seguir a diante. Eles se encaravam de perto, e mesmo que eu quisesse que alguém desse uma lição em Harry, não queria que fosse outra pessoa se não eu.

-Parem com isso.- gritei do sofá.

-Você anda trazendo qualquer um pra casa agora é?- disse Harry me fuzilando com os olhos.

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now