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Nathan tinha saído para o treino, e não quis me levar com ele, o que me fez desconfiar sobre o que as pessoas saberem da estadia dele aqui.
Eu sabia como o novo Nathan agia, e ele estava sendo completamente diferente naqueles últimos dias. Me servia nas refeições horríveis, que ele mesmo preparava, puxava assunto comigo sempre que me auxiliava em alguma coisa que eu não conseguia fazer sozinha. O que acredite, descobrir ser muitas coisas.
Alguma coisa estava bem errada naquela história, ou eu tinha batido a cabeça e fantasiado os últimos anos.

Eu estava entediada, olhando pela janela, e vendo o mundo inteiro seguir com suas vidas, quando a minha tinha me sido tirada tão repentinamente. Sempre que eu pensava no assunto ficava deprimida ou com muita raiva, então tentava manter a minha cabeça longe daquelas ideias de nunca mais poder voltar aos tatames.

Não existiria medico para me convencer de que aquele era o fim, não eu, a pessoa mais teimosa do mundo. Eu ia voltar, e não parava de repetir aquilo na minha cabeça, sempre que o assunto surgia nos meus pensamentos.

Meu celular vibrou em cima da mesa, mas a distancia entre mim e aparelho não me faria levantar. Fiquei encarando a mesa, como se em um passe de magica o telefone parasse de vibrar, e minha curiosidade não me obrigasse a levantar.
O que acabou não acontecendo.

Com dificuldade peguei as muletas mais uma vez, tentando só por um momento não quebrar tudo até chegar do outro lado da sala. Quando peguei o aparelho nas mãos haviam dez mensagens e duas conversas.

A primeira conversa era acompanhada de uma foto de Agnes com o Jay, os dois riam para a foto, como aqueles casais apaixonados que me causavam ânsia de vomito só de olhar.

ESPERO QUE VOCÊ ESTEJA SENDO BEM CUIDADA ;)

Suspirei e balancei a cabeça, enquanto revirava os olhos com a ironia do que estava lendo. Claro, como não havia pensado, aquilo era coisa de Agnes.
Nos últimos anos ela tinha me ouvido falar de Nathan, mais do que podia aguentar. Ela era a única pessoa que eu tinha, e quando eu decidi que ela precisava parar de falar de Harry, contei tudo que eu sentia na presença do faixa marrom silencioso.
Ela sabia que eu gostava de Nathan, e provavelmente achava que estava ajudando quando mandou ele ir cuidar de mim.
Agnes não entendia nada de ser melhor amiga, assim como eu.

QUANDO VOCÊ CHEGAR, PROMETO QUE VOU FAZER VOCÊ PAGAR POR ISSO!!! E NÃO É UMA AMEÇA, SÓ UMA CONFISSÃO!!!

Me escorei na mesa para poder digitar a mensagem com mais eficiência, rindo enquanto acrescentava carinhas nervosas ao texto, antes de apertar em enviar.

KKKKK DEIXAREI ESSA MENSAGEM GUARDADA, PARA SER USADA COMO PROVA DO CRIME QUANDO A POLICIA ENCONTRAR MEU CORPO.

Ela acrescentou um anjo, me fazendo sorrir.

Não respondi mais, eu já tinha mandando meu recado, assim como ela já tinha entendido. No fim das contas, ela era uma boa amiga. Só alguém assim para ter paciência com meu mal humor.

Rolei a lista de conversas, em busca da outra que tinha pendente ali, e quando a foto de Harry apareceu no visor respirei fundo. O que ele queria?

SEI QUE VOCÊ NÃO VAI ME RESPONDER, TEREI SORTE SE LER ANTES DE APAGAR.

ESPERO QUE VOCÊ ESTEJA BEM, E NÃO PENSE QUE EU QUERIA TE AFRONTAR QUANDO PAGEUI PELO HOSPITAL.

SEI QUE VOCÊ ESTA GUARDANDO SEU DINEHIRO PARA OS PLANOS DO FUTURO, NÃO QUERIA QUE VOCÊ TIVESSE QUE DESISTIR DE TUDO POR CAUSA DE UM ACIDENTE.

ENFIM, SÓ FIQUE BEM.

ME LIGUE CASO PRECISE DE ALGUMA COISA.

EU AINDA PENSO EM VOCÊ.

Apertei o celular em minhas mãos, ao ponto de quase quebra-lo. Como ele ousava me mandar aquilo, depois de tudo que tínhamos passado?
Senti uma raiva enorme me dominar, a mesma que tinha quase me expulsado da faculdade, e a mesma que me fez odiar Deus quando ele levou minha mãe de mim.
Nunca na vida alguém tinha me humilhado tanto como Harry havia feito, e ainda sim ele se achava no direito de tentar consertar as coisas.
Ele não conhecia limites.
Maldito Harry.

EU VOU DEVOLVER CADA CENTAVO DO SEU DINHEIRO.
NÃO PRECISO DA SUA AJUDA!

Digitei furiosamente.

Mal eu tinha enviado aquela mensagem, e meu celular já vibrava, outra vez em minhas mãos.

NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ DIGA, VOCÊ AINDA PODE CONTAR COMIGO.

Não posso negar que uma pontada brotou no meu peito, mas logo ela foi soterrada pela raiva que eu sentia daquele garoto e de suas atitudes. Ele achava que o dinheiro dele podia comprar tudo e todo mundo.
Mas não a mim.

FODA-SE VOCÊ!

Larguei o aparelho em cima da mesa, antes que eu acabasse quebrando a única coisa que eu tinha para me comunicar com o mundo lá fora. Eu tinha a opção de bloquear ele, mas do que adiantaria aquilo? Ele conseguiria falar comigo a hora que quisesse, sempre foi assim.

Com dificuldade voltei para meu quarto, e abri o guarda roupa, ignorando a camisa de Harry que estava pendurada no cabide, e parecia sorrir para mim, do jeito mais debochado possível.
A verdade é que eu ia bem, não pensava nele mais, e muito menos ousava cruzar nossos caminhos na minha cabeça. Só que eu tinha com que me distrair, e sempre que ele agia como um otário na minha frente, facilitava ainda mais as coisas para mim.
Mas quando ele era atencioso, e eu não tinha com que ocupar cada segundo meu, me via sendo sugada para a sensação que só ele me causava. Odiava aquilo dentro de mim, aquela angustia e as lagrimas idiotas que embaçavam a minha visão.
Arranquei a camisa do cabide e joguei no fundo do guarda roupa, tentando de todas formas afastar tudo que vinha com aquele garoto.
Eu não podia cair naquele buraco outra vez.

Peguei roupas limpas e fui pulando em um pé só ate o banheiro. Um banho seria a melhor coisa naquele momento, além é claro, de evitar que Nathan se sentisse tentado em me ajudar quando chegasse.
Com muito cuidado deixei a perna para fora da banheira, depois que arranquei a camisa enorme e o sutiã. Nathan tinha razão, eu não podia ficar transitando pela casa sem roupas por baixo, parecia provocante de mais.

Durante todo meu banho, fiquei pensando em formas de colocar as roupas de baixo sozinha, mas nenhuma ideia útil foi eficaz quando tentei por em pratica. Rasguei o tecido lateral da peça, e contornei o gesso, para depois dar um nó na minha cintura. Exatamente como as pessoas amarravam os biquínis na praia. Aquilo ia servir até que eu pudesse tirar aquela porcaria pesada da minha perna.

Terminei de me arrumar, tudo sem tocar o gesso no chão uma vez sequer. Para uma coisa aquela porcaria estava servindo, eu andava com o equilíbrio perfeito nos últimos tempos.

Ouvi a porta ser aberta e me apressei para pegar as muletas, feliz em finalmente ter companhia. Quando passei pela porta encontrei Nathan com um sorriso no rosto, e um olho arroxeado nas bordas.

-Queridaaaaaaaa, cheguei.- gritou ele, assim que me viu.

Revirei os olhos, completamente sem emoção.

Aquele não era o Nathan, pelo menos não o que eu conhecia.

$q9h 

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now