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7 ANOS ANTES

Harry estava escorado no seu carro, olhando para o nada, enquanto esperava o amigo que tinha pedido que ele o esperasse. O garoto já estava irritado, odiava ter que esperar, ainda mais quando desconfiava que os motivos para aquilo fossem idiotas. Mas apesar de achar Austin um babaca, podia ser alguma coisa referente a mãe de Anne, que ainda não tinha contado a verdade para a filha.

Meses antes, Harry tinha encontrado a mãe da garota saindo do médico, que por coincidência do destino, ou não, era o seu tio. No segundo que encontrou com a Sra. Mcgregor ele se preocupou, porque sabia a especialidade que o tio tinha seguido. E ele não era o tipo de médico que cuidava de pacientes fáceis. Os oncologistas nunca são.

-Harry?!- disse a Sra. Mcgregor com os olhos arregalados.

Ele olhava para a porta do consultório do tio, o mesmo que dizia "especialista em câncer". Depois voltou a olhar para mulher, que era a versão da garota que amava, bem mais velha, e seu coração se torceu ao imaginar como a garota ficaria quando descobrisse.

-É muito sério?- ele perguntou.

-Sim.- disse ela, o que era tudo que ele não queria ouvir.

A mulher desviou o olhar para o chão, conhecia o garoto de algumas reuniões que a filha tinha feito na sua casa. E como era uma boa observadora já tinha percebido o que o garoto sentia pela filha, tanto que passou a orientá-la sempre que podia, sobre o coração bom que ele tinha.
Chegou a comentar com o próprio marido, como sempre imaginou o garoto perfeito para a sua filha. Ela via a alma que ele queria esconder, e mais de uma vez rezou para que ele não deixasse nada de muito mal acontecer a Anne.
Mal sabia a mulher como aquele desejo seria atendido no futuro.

-Quanto tempo?- perguntou.

-Não muito.

Ele suspirou, completamente arrasado ao se por no lugar da garota.

-Ela precisa saber.- disse ele de olhos fechados, não tinha coragem de olhar para frente, e imaginar como Anne ficaria arrasada quando descobrisse aquilo.

-Eu pretendo contar em breve.

Austin chegou com uma garota, tirando Harry de suas lembranças. O garoto parecia feliz de mais para alguém que já sabia sobre a doença da mãe de sua namorada, fato que ele tinha certeza que ele sabia, já que ele mesmo tinha contado ao amigo.
Então Austin se aproximou de Harry, e levou a mão ao bolso traseiro de sua calça jeans tão moderna. Pegou de lá um pacote de camisinha usada, utilizando de apenas dois dedos, ele jogou a embalagem no amigo.

-Eu ganhei a aposta.- a principio Harry não entendeu o que estava acontecendo, mas quando viu o sorriso presunçoso no rosto do seu amigo a ficha caiu.- Sua garotinha não é mais tão ingênua assim. Parece que Harry Collins não é tudo aquilo que imaginava.

Harry olhou para a embalagem no chão, com o coração completamente destruído, não conseguia acreditar que a garota mais esperta que conhecia, tinha se entregado para alguém como Austin. Ele gostava dela, amava aquela garota como nunca tinha amado alguém, e mesmo assim não foi capaz de desistir de tudo por ela.
Mas em algum momento aquilo tinha que terminar, e naquele precioso segundo o coração do indomável Harry foi mudado.

Ele se aproximou de Austin, que ria como o bom idiota que era, e o segurou pela camisa com raiva. Seus olhos ardiam em brasa na direção do amigo.

-Como você pode fazer isso sabendo tudo que esta acontecendo com ela? Como você pode ser tão babaca, Austin?- ele gritou.

A garota que antes estava com Austin se afastou, completamente confusa com aquela reação. Geralmente os dois nunca brigavam, Austin e Harry eram amigos desde o primário. Cresceram juntos e se tornaram grandes amigos, mesmo que vivessem competindo um com o outro, nada ficava entre eles.
Até que Annelise Mcgregor apareceu para destruir tudo aquilo.

-Qual o seu problema?- Austin perguntou.

Harry sacudiu o corpo do amigo com violência, completamente indignado com a postura do amigo.

-Eu te perguntei se você gostava dela, perguntei se você se importava. Eu te ofereci qualquer coisa em troca disso, mas você disse que estava por ela, que não ligava mais para qualquer aposta que pudéssemos ter feito.

Austin sorriu diabolicamente.

-Eu menti.

Harry se afastou de Austin e acertou o amigo com um soco pesado, que o derrubou no chão, assim como partiu seu lábio ao meio, criando uma trilha de sangue dos seus lábios.
Austin limpou a boca, depois cuspiu no chão uma mistura de saliva com sangue.

-Você é ridículo!- Austin sorria enquanto falava.- Não teve coragem de se aproximar dela, achou que ela era de mais para você? Se apaixonou pela perdedora, não é?

Harry se aproximou do amigo mais uma vez, chutando sua cabeça, fazendo sangue escorrer do nariz do garoto também. O mesmo não parecia sentir dor, ainda ria como um maníaco vestido de mauricinho, atacando Harry da pior maneira possível.

-Você devia ter ouvido ela gritar meu nome.- disse Austin com dificuldade, enquanto limpava o sangue que se misturava a poeira no seu rosto de garoto bonzinho.- Ela gemia como uma puta.

-Seu filho da...- antes que Harry pudesse bater mais uma vez em Austin, Dreak apareceu segurando seu braço, o impedindo de perder o controle outra vez.

-Parem com isso!- gritou Dreak.- Vocês dois são amigos, vão brigar por causa de garota agora?- disse ele irritado.

Harry olhou furioso para o garoto que o impedia, com um movimento brusco se afastou dele também, respirando com dificuldade ele olhava com ira direcionada para Dreak agora.

-Você também, estava envolvido nisso o tempo todo.

Dreak levantou as mãos se defendendo.

-Eu estou fora disso, assim que soube do câncer da mãe dela, larguei fora dessa.- ele apontou para Austin.- Ele continuou isso porque quis, não me envolve nisso.

Harry olhou mais uma vez para Austin, com seu cabelo raspado, as roupas caras e em tons escuros, que ria como um maluco deitado no chão, parecendo completamente chapado. Provavelmente o garoto estava drogado ou bêbado, pela forma lunática que estava agindo.
Ele até podia ser um idiota, mas até os idiotas sentem dor, naquele momento nem isso ele sentia. Ele tinha se transformado em um monstro.

-Desde que eu a conheci você sabia o que ela significava para mim.- Harry disse sem nenhum vergonha, falando de irmão para irmão, como ele costumava considerar Austin.- Você sabia como eu estava preocupado com ela, sabia que essa garota não era qualquer uma para mim. E quando você falou que amava ela acreditei que você podia ser melhor do que eu, mas agora eu descobri que você é incapaz de gostar de alguém mais do que de você mesmo.

-Olha quem falando.- disse Austin.

Harry olhou mais uma vez para o amigo, depois cuspiu nas pernas do mesmo ao passar por ele.

-Nunca mais fale comigo otário.- disse Harry completamente devastado.

De uma coisa Harry tinha certeza, nunca mais iria esperar e acreditar que existissem pessoas em que se podia confiar. Seu ódio era enorme, e não só do amigo que tinha brincado com algo muito sério para ele, mas também da garota que tinha partido seu coração. Ele prometeu a si mesmo que aquela seria a ultima vez que Annelise Mcgregor o magoaria, mas anos depois, quando ele a encontrou na sua faculdade, depois de tudo que o destino tinha feito com os dois, percebeu que ele era a pior pessoa do mundo para prometer alguma coisa.
Assim que viu Anne passar na sua frente, sem que a mesma o percebesse, quando ela tinha se tornado o tipo de furacão que destrói casamentos e a sanidade do homem mais puro, refez a sua promessa.

Pela ultima vez na sua vida Harry fez outra promessa a si mesmo, mas daquela vez foi diferente, porque tudo que ele exigiu de si mesmo, era não ter medo de fazer qualquer coisa pela garota que sempre amou.

Quase, sem quererOnde as histórias ganham vida. Descobre agora