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Finalmente aquele maravilhoso dia tinha chegado, o dia em que eu conheceria a minha completa liberdade outra vez. Eu estava sentada na cadeira de espera, com a perna esticada pelo gesso, pela ultima vez.
Olhava inquieta para o numero no painel, que indicava que eu era a próxima a ser atendida.
Nathan estava ao meu lado, mexendo no celular, com o maior mau humor que poderia ter. Mas ainda sim, ele tinha deixado seu treino para me levar ao médico.

Desde a noite em que o confrontei, querendo conhecer mais da sua história, ele tinha se fechado completamente comigo. Mal parava em casa, e quando estava lá me ignorava, como se fosse um martírio para ele estar ali.
Eu já tinha dito para ele ir embora, já tinha gritado, chorado e o expulsado, mas ele continuava lá, me levando comida e me ajudando a vestir roupas limpas sem ter que rasga-las.

Meu numero apareceu no painel, e eu não consegui conter um sorriso animado.

-Adeus dias cruéis!- levantei, cantarolando para Nathan, que me olhava sem nenhuma emoção no olhar.

Com a ajuda das muletas entrei na sala do medico, que me esperava com as placas negras, que mostravam meus ossos recuperados, brilhando através de um suporte luminoso. O homem estava com o mesmo sorriso que eu, estampado no seu rosto, olhando para mim como sentisse meu alivio.

-Estou livre?- perguntei a ele.

Ele balançou a cabeça confirmando, o que me fez agitar as mãos no ar, em uma dança improvisada de comemoração. O homem sorriu, me deixando constrangida, e fazendo com que eu sentasse na maca ao lado da sua mesa para analisarmos juntos as imagens do meu Raio X.

Em seguida subi na maca com dificuldade e escorei o pé no chão, enquanto olhava para ele ansiosa.

Ele começou a remover o gesso com a ajuda de um utensílio prateado, que parecia uma tesoura derretida pelo calor. Pó de gesso clareava a minha calça de moletom de uma perna só, que havia sido confeccionada para a minha condição de fraturada que precisava comparecer em lugares públicos.

-Você sabe que não vai sair daqui caminhando normalmente não é?- perguntou ele, fazendo o sorriso murchar em meus lábios.

Claro que eu sabia que não ia ter meus movimentos normais no segundo que me livrasse daquele peso, tinha completa ciência que ia levar alguns dias para me acostumar a colocar o pé no chão outra vez, mas não gostei da forma como ele falou.

-Sei que vou ter que fazer fisioterapia.- disse seca.

O homem continuou o que estava fazendo, já estava quase no fim da minha canela, e eu já podia sentir a pressão no lugar fraturado aparecer. Não era propriamente dito uma dor, mas ainda sim era desconfortável. Me contrai quando a luva dele encontrou a minha pele embaixo do gesso, assim que ele segurou minha panturrilha para progredir com a retirada do gesso.

-Você esta sentindo dor?- ele perguntou preocupado.

Eu apenas engoli seco, e neguei com a cabeça, morrendo de medo que ele desistisse de tirar aquilo de mim.

-Não precisa ficar com medo de me dizer que dói, isso é completamente normal. Você vai precisar de tempo para se acostumar com a sua perna outra vez. Sua pele esta sensível por causa do gesso, e agora seu osso vai ter que se acostumar a ficar na posição correta sem a ajuda da imobilização.

Apenas concordei com ele, desejando estar sem aquele peso completamente.

Cinco minutos depois eu podia encarar minha perna murcha e toda marcada na minha frente. Meus músculos pareciam flácidos, mas a sensação de liberdade era indescritível. Com a ajuda do médico eu coloquei o pé no chão, mas pude sentir uma fisgada ao sentir o chão frio sobre o meu pé.

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now