30

238 37 5
                                    

Eu tinha perdido a fome, mal conseguia me concentrar no filme que Nathan tinha escolhido para nós. Minha cabeça estava longe, mais precisamente, presa a um par de olhos verdes intimidantes.

Não conseguia parar de pensar que tinha pego pesado de mais, dito coisas que talvez não fossem necessárias. Mas aquilo era tudo que eu sabia ser, quando o assunto era ele. Boa parte da minha personalidade forte tinha sido criada por suas brincadeiras maldosas, assim como as perdas que tive em minha vida. Eu até andava indo bem no quesito mau humor, mas existem feridas que não podem cicatrizar, ou que demoram anos para isso. Eu era um ferimento em processo de recuperação, mas jamais conseguiria evoluir enquanto ele estivesse perto de mim. Só de olhar para o Harry, eu lembrava dos piores momentos da minha vida, e aquilo não me deixava ser tolerante com a infantilidade dele, mesmo que ela fosse quase, sem querer.

Odiava ser subestimada em qualquer aspecto, mas mais do que isso, odiava a sensação de estar sendo humilhada, cobrada por algo que eu não podia controlar. Claro que por muitas vezes me questionei se o que Harry alegava sentir não era verdadeiro, mas se realmente fosse, ele não teria cometido erro após erro. Só de lembrar daquilo, percebi que não, eu não estava errada. Você há de concordar comigo, ninguém consegue ficar em paz estando na presença de alguém como ele.

-Você esta ai?- Nathan me cutucou com o pé.

Eu estava deitada no sofá menor, enquanto ele se esticava no maior para chegar até mim. A sala estava escura, iluminada só pelo brilho da Tv, e sinceramente mal tinha prestado atenção no filme.

-Sim, não existe muitos lugares para ir com esse gesso.- tentei fazer piada, mas saiu grotescamente forçada.

Nathan ficou em silencio por um momento, medindo as palavras provavelmente. Seu semblante era sério, mas nem assim ele conseguia deixar de ser tão atraente.

-Acho que ele gosta mesmo de você.- disse ele me pegando completamente desprevenida.

Olhei para o lado, me inclinando em um dos braços, completamente intrigada com o que ele estava tentando me dizer.

-Do que você esta falando?- perguntei, mesmo que já soubesse a resposta.

-Do Harry.- disse ele com sarcasmo.

-AH!- revirei os olhos, e voltei a deitar com a cabeça apoiada no escoro para braço do sofá.- Você não sabe o que esta falando, aquele lá não consegue gostar de ninguém.

Eu não queria ter aquela conversa com Nathan, na verdade nem queria falar sobre o assunto. Harry estava se tornando o meu ponto fraco, e se não assumisse o controle da situação provavelmente estaria chorando por ele a qualquer momento.

-Eu posso não conhecer ele Anne, mas sei o que eu vi.

Suspirei alto.

-Olha, sei que você esta tentando ser legal, mas Harry e eu somos de mundos diferentes. Eu não tenho paciência com a arrogância dele, assim como não sei se consigo gostar de alguém.- parei para pensar por um momento, e se aquilo fosse mesmo verdade? E se eu fosse incapaz de gostar de alguém por que tinha perdido a vontade de amar. Quando minha mãe morreu, foi um baita baque para mim, e sinceramente nunca mais me senti em paz depois daquele dia.

Os únicos momentos em que eu conseguia respirar com tranquilidade era quando estava lutando, mas isso não contava, já que naqueles momentos, quase sempre estava exausta.
De alguma forma eu tinha perdido tudo de bom que existia em mim, então era incapaz de dar o meu melhor para as pessoas, uma vez que já não tinha mais ele.

-Não estou dizendo isso para ajudar o cara, por mim quero mais que ele se exploda.- disse Nathan tranquilamente, como se aquilo fosse algo normal de se dizer de alguém que não se conhece.- Mas a forma que ele te olha, desesperado por qualquer coisa sua, é impossível de não ser vista.

Olhei outra vez para Nathan, completamente em silencio.

-Mas definitivamente ele não merece você.- ele continuou, olhando para mim intensamente, mas não de maneira provocante. No seu olhar existia um misto de tranquilidade e admiração, e fazia muito tempo que eu não via aquilo na minha direção. -As coisas que você disse pra ele, a forma como você falou. Se algum dia cheguei a pensar que você era igual a todas as outras me enganei.

-Como assim?

-Você não se vende, acredita fielmente nos seus princípios. E mesmo que não consiga perceber, ainda tem o coração puro que diz ter perdido.- ele deu de ombros.- Ele só esta perdido no meio dessa sua necessidade de manter as pessoas longes.

Odiei a forma como ele me deixou exposta, supondo coisas de mim que eu nunca cheguei a cogitar. As pessoas sempre disseram que quem estava de fora enxergava as coisas melhor, naquele caso eu rezava para que elas estivessem erradas ao criar aquela teoria.

-Não sei se concordo com você.
Ele levantou e andou até mim, com aquele abdômen tão bem definido. Seu olhar no meu era preocupado. Depois sentou na beirada do sofá, o restante que meu corpo pequeno não cobria. Eu podia sentir o calor do seu corpo através da minha camisa, e tive que ter todo o auto controle do mundo para não desviar meu olhar para o seu corpo.

-Vou te contar uma coisa que não deveria, mas que ando pensando muito ultimamente.- ele começou, depois baixou a cabeça, olhando paras as mãos entrelaçadas em frente ao seu corpo, as mesmas que estavam apoiadas em suas pernas.- No dia em que eu te conheci achei que você era só mais uma garota mimada, que descontava as suas frustrações nas pessoas. Mas quanto mais te conhecia mais te admirava, por tudo que passou e como fez isso. Tanto foi que seu mau humor não era algo insuportável mais.

Soqueei seu ombro de brincadeira.

-Eu não sou mal humorada.

Ele olhou para mim, depois revirou os olhos enquanto eu o arrancava com um sorriso contido. Claro que eu era.

-Mas naquele dia que você me beijou, me senti estranho.- ele voltou a olhara para as mãos, mas daquela vez um rubor apareceu em seu rosto. Tudo bem, aquilo tinha sido fofo.- Naquele momento, mesmo que me sentisse atraído por você, soube que jamais seria digno de tê-la ao meu lado. Porra, olha o cara que eu sou, fiquei quase dois anos com uma garota, pelas vantagens que isso me trazia. E foi você...- ele voltou a olhar para mim.-... que me mostrou que eu podia ser melhor, que eu podia fazer sozinho, sem a ajuda de ninguém. Eu sai da minha cidade, encarei os desafios da vida que eu queria, para me entregar para a primeira tentação. E só quando eu percebi que você era forte, sem ser conivente com o que não te agradava, foi que entendi que estava fazendo tudo errado.- ele desviou os olhos dos meus mais uma vez.- Não estou dizendo isso para puxar o seu saco, obviamente estou interessado, mas só queria que você soubesse que você também pode ser muito mais do que isso.

Nunca alguém tinha me dito algo tão bonito, nem remotamente perto daquilo. Me sentia intrigada de varias maneiras com a sinceridade que ele colocava nas palavras, e talvez por alguns minutos quis mesmo ser a pessoa que ele descrevia. Ela parecia ser digna de ser admirada de uma forma que eu nunca seria. Até eu me apaixonaria por ela, mas bem lá no fundo eu sabia que eu não era assim. Me sentia feliz por ter sido responsável pela mudança dele, mas ele tinha interpretado tudo errado.

Aquela não era eu sendo inspiradora, era só eu não aceitando sair por baixo.

Coloquei a mão no seu ombro.

-Fico feliz por saber que te ajudei de alguma maneira.- sorri simplesmente.
Ele olhou para mim com carinho, depois acariciou minha mão com a sua, que estava por cima do seu ombro.

-Você salvou a minha dignidade, e eu nunca te agradeci por isso.- disse ele.

-Você esta fazendo isso bem agora.


Natan sendo fofo... qualquer erro sinto muito, escrevi pelo celular esse, assim como editei. Primeira vez que faço isso, e não gostei kkkkkk
Obrigada por acompanhar 😍

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now