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A primeira luta foi mais fácil do que eu esperava, já a segunda, tinha me trazido um pouco mais de trabalho. A terceira tinha me feito gostar de estar naquele lugar, mas lá pela sexta eu já me sentia cansada.
A chave ia diminuindo, mas cada vez que eu olhava para o painel de lutas, parecia que a distancia entre o primeiro lugar e o meu nome, aumentava. Já havia se passado quase dez horas de campeonato, mas meu corpo insistia em dizer que eram apenas minutos.
Alexander tinha gritado com o juiz, em uma luta de Nathan, e havia sido expulso da mesa de instrutor, lugar que os professores deveriam ocupar perto do tatame para instruir seus alunos. O clima era tenso entre todo mundo da equipe, o que só deixava os competidores menos experientes, ainda mais nervosos. Com toda certeza aquela punição, de Alexander, não tinha ajudado em nada.

Apesar de cansada eu me sentia tranquila, com os fones de ouvido, olhando para as lutas a minha frente, mesmo com aquela ruga entre as sobrancelhas. Quem me olhasse de longe, diria que eu estava com raiva de algo, de alguém, mas a única coisa que eu conseguia era absorver o sentimento, que a musica alta em meus ouvidos, me transmitia.
Dizem que a musica pode fazer isso com a gente, transformar um sentimento em algo real, como chorar ao ouvir uma musica triste ou romântica. Experimente ouvir algo que te incentive a se sentir superior, você vai descobrir como é fácil deixar o sentimento de coragem, substituir qualquer medo, que possa ter no momento.

Eu usava meu kimono novo, preto com detalhes em verde limão, cabelos soltos, já que o comprimento não me permitia prendê-los. Me sentia pronta para qualquer coisa, conforme a musica enchia minha cabeça de bravura.

Alguém me cutucou, me obrigando a olhar para o lado e sair do meu estado de espírito.

-Geralmente eu já tenho medo de você, mas confesso que essa cara ai, esta me assustando mais que o normal. Esta planejando matar alguém?- disse Agnes, com um sorriso ridículo, e um tanto quanto debochado, na minha direção.

Demorou para que eu saísse do meu estado de transe e sorrisse para ela. Com o tempo eu e Agnes tínhamos nos tornado mais amigas, posso dizer até, que ela é a coisa mais próxima de melhor amiga que eu já tive.
Depois que ela me explicou melhor sobre o seu estilo de "conseguir as coisas", passei a respeitá-la, porque é preciso muito sangue frio para interpretar um papel afim de seus interesses pessoais. Vale tudo para se chegar aonde se quer no fim das contas.
Ela seria uma boa escritora, disso eu tinha certeza.

Tirei um fone, para dar atenção para ela.

-Mesmo que eu não seja capaz de matar alguém, preciso que essas garotas pensem isso.- sussurrei para ela.

-Na verdade acho que todo mundo tem certeza de que você é capaz sim.- Agnes apenas piscou para mim, depois sorriu enquanto olhava para frente. -Perdi as primeiras lutas, mas você quase arrancou o braço daquela garota, na sua ultima disputa.- comentou ela.

-Aquela luta foi divertida.- disse, mais para mim mesma do que para qualquer um, com um sorriso sádico no rosto.

-Que coisa doida de se dizer.- disse ela horrorizada.

Ela tinha me ouvido falar sobre aquele campeonato a semana inteira, nos dias em que me permiti deixar os treinos para ir a faculdade, e mesmo assim resolveu aparecer. No inicio ela ficou um pouco espantada com os machucados no meu corpo, mas com quase dois anos de amizade contei a ela de onde eles vinham. Ela não entendeu nada, achou que eu participava de algum tipo de luta livre, e que provavelmente levava socos na cara e chutes nas canelas, o que não explicava as marcas escuras nos meus punhos e braços.
Agnes mal tinha ouvido falar sobre boxe na vida, quanto mais sobre outras artes marciais menos conhecidas, então resolvi levar ela na academia em um dia normal de treino. Ela se chocou com a minha transformação em cima do tatame, a forma como eu era tranquila e equilibrada era surreal para ela, tanto é que mal me reconheceu de Kimono quando Alexander iniciou os rolas.

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now