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Aquela noite estava sendo pesada para mim. Tinha perdido uma luta, que achava já ser ganha. Minha nota, em anatomia, estava me deixando com a corda no pescoço. E não conseguia arranjar mais tempo e nem equilibro, para manter os estudos e os treinos, ainda mais com a frequente irritação que Harry era na minha vida.
Estava começando a levar os problemas que ele me causava para dentro do tatame, e o mestre estava percebendo aquilo.
Era sexta feira, e meu braço doía muito, depois que a garota me finalizou com um armlok, mais conhecido como chave de braço por aqueles que não conhecem jiu jitsu.
Eu mal conseguia esticar o braço, e doía sempre que movimentava os dedos, de forma que temi ter me machucado de mais. Sabia que o mestre ficaria desapontado se soubesse que eu não tinha me entregue antes de me machucar, ele odiava muito me ver não aceitar perder. Meu dia estava uma droga, e tudo que eu queria era ficar sozinha e beber até que esquecesse completamente o caminho de volta para casa.

Estava sentada num banco alto, em frente ao bar, segurando uma dose de vodka. A música era alta, e minha cabeça já começava a pesar além do normal, mesmo assim eu não queria parar. Empinei o copo pela quinta vez.

-Olha quem esta aqui!- disse Alicia, com Holly bem atrás dela.

As duas garotas estavam vestidas com um tecido pequeno, que deveria ser caro de mais para algo que cobria muito pouco de seus corpos. O vestido de Holly era colante na cor dourada, ao passo que o de Alicia era rosa. As duas estavam chamando toda a atenção do lugar, mas nem assim eu me importei em olhar na direção delas. Só sabia que elas estavam vestidas daquela forma, pelo reflexo que eu via do espelho, atrás do garçom que me atendia tão educadamente.

Levantei meu sexto copo, em uma tentativa de comprimento, depois o empinei também.

-Não sabia que você tinha virado alcoólatra.- Holly tentava me provocar.- Parece que chegou ao fundo do poço mesmo.

Ela e Alicia trocaram sorrisos, debochando do meu estado, mas estava em outra dimensão já, então não me importei.

Fechei os olhos e deixei a musica me levar, para um lugar onde eu não conseguia ouvir mais nada. Ignorei o mundo ao meu redor, me permitindo respirar lentamente. Eu não iria perder a cabeça, não ia ouvir mais nada, só queria me desligar daquele mundo.

Pedi o sétima dose, e fiquei segurando o copo enquanto curtia o som pesado em meus ouvidos. As duas pararam de falar, e me senti agradecida quando percebi que elas tinham ido embora.

Pelo canto do olho vi os caras da equipe entrarem, logo atrás de Nathan. Não achei que eles frequentassem lugares como aquele, e me arrependi por ter escolhido esse bar aquela noite.
Eles sentaram em uma mesa perto da pista de dança, e ficaram rindo ao mesmo tempo em que viam as garotas passarem.

Eu vestia calça preta de vinil, até a altura do umbigo, de um jeito bastante provocante, e tinha colocado uma blusa que mostrava parte do meu umbigo e a tatuagem nas minhas costas. Estava até usando sapatos de salto, assim como tinha deixado meus cabelos soltos. A intenção era parecer outra pessoa, mas nem assim consegui passar despercebida.

-Olha quem esta aqui.- ouvi aquela frase pela segunda vez em menos de vinte minutos. Eu estava na frente da mesa dos caras, sem nem ter percebido sair do meu lugar. Encarava Nathan com um sorriso sombrio, e mal conseguia me manter de pé, então sentei ao lado do garoto com quem tinha divido o quarto por quase dois meses.
Naqueles meses eu e Nathan mantemos uma amizade descontraída, claro que às vezes rolava umas indiretas, mas ele estava com Mag naquela época, então foi mais fácil deixar de me sentir atraída por ele. A gente conversava muito, até tarde da noite, e treinávamos juntos nos tempos disponíveis, até que a namorada dele descobriu e vetou qualquer aproximação que pudéssemos ter.
Odiei ver Nathan como um cachorro, obedecer todas as exigências dela, mas não me opus à nova condição para estar ao seu lado. Ela tinha razão, também não ia gostar de ver meu namorado dividir o quarto com uma garota, ainda mais se soubesse que ela estava interessada nele. Então obviamente deixei bem claro para ela o quanto era maravilhoso acordar todos os dias com a presença do seu namorado, mas sem que ninguém soubesse, era o meu jeito de se vingar. Ela ate poderia ficar com ele, mas eu não ia facilitar aquilo como ela esperava.
Ele não tinha entrado no seu mundo obscuro ainda, naquele tempo, e por um bom tempo achei mesmo que a nossa amizade poderia dar certo.

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now