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Aquele mês foi difícil, mas eu estava sobrevivendo.
Eu já conseguia andar, com certa dificuldade, mas ainda sim conseguia deixar cada vez mais de lado as muletas, que um dia foram tão minhas companheiras.
Eu pegava o taxi em frente ao meu prédio sempre na mesma hora, e depois disso passava minhas tardes cansativas ao lado do Dr. Young, mas quanto mais me esforçava, mais lutava para ficar melhor, mais distante me via da minha antiga vida.

Eu já poderia ter voltado à academia, mesmo que para dar um oi para Alexander, e meus colegas de treino. Mas era fisicamente difícil para mim olhar para o tatame, pela primeira vez com medo de nunca mais voltar.
A cada dia que passava eu vi o quanto era real aquela possibilidade, mas eu não me entregava, não desistia, mesmo que me sentisse péssima toda vez que Young me mandasse dobrar o pé, e ele se limitasse a poucos movimentos.
Eu chorava e berrava quando chegava em casa, quando percebia que talvez tivesse perdido a minha ultima esperança.

Com isso a minha busca pela bebida aumentou, assim como o meu isolamento completo. A única pessoa com quem eu troquei algumas palavras naquela semana era com o médico que tentava me salvar.

Eu não atendia as ligações de Agnes, nem Nathan, Alexander e por muitas vezes meu pai. Nos fins de semana quando a clinica de fisioterapia não abria eu me afundava em garrafas de vodca, e fingia que não tinha ninguém quando a campainha tocava. Começava toda a rotina de novo na segunda, mas sempre nas sextas eu perdi parte de mim em delírios alcoólicos.

Perdi mais peso que o pretendido, e me sentia fraca de tantos modos que seria capaz de morrer sem que ninguém percebesse. A vida estava me testando mais uma vez, como tinha sido por tantos anos. E aquela era uma batalha que eu já não tinha certeza de querer vencer.

-Você tem visto Harry?- perguntou meu pai.

Suspirei de olhos fechados, ignorando o quanto ouvir aquele nome me deixava mal. Mesmo estando do outro lado do mundo, meu pai conseguia se preocupar comigo. Ele sabia que eu estava mal, mas não sabia mais dizer pelo quê.

-Não pai.- disse pegando minha mochila, e colocando por sobre os ombros.

Ele suspirou, eu pude ouvir.

-Bom, eu vou estar ai sexta. Finalmente!- ele disse animado.- Ai tudo vai voltar ao normal, estarei cuidando de você. Inclusive, quando você vai voltar para a faculdade?- ele quis saber.

Abri a porta da casa, depois de passar com dificuldade a fechei atrás de mim, para ir em direção ao elevador. Eu queria dizer a ele, que teria uma conversa seria com o Dr. Young, e que se ele não me desse esperanças reais, eu não voltaria mais para o campus. Não fazia sentido continuar, se nunca poderia chegar aonde queria.
Se eu não fosse capaz de voltar, ia desistir de tudo, e ia tentar me reinventar de alguma outra forma.

-As aulas começam na próxima segunda.- disse apertando o botão do elevador.- Fica tranquilo pai, esta tudo bem. Estou indo para a clinica agora, nos falamos mais tarde, okay?-tentei dispensá-lo.

-Okay querida. Boa fisioterapia.- revirei os olhos ao ouvir aquilo, naquele momento eu podia, ele não podia me ver.

-Obrigada.

-Te amo querida.

-Eu também.

-Eu também

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Quase, sem quererOnde as histórias ganham vida. Descobre agora