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Me ergui nos cotovelos, não acreditando no que estava ouvindo. Era tão surreal imaginar Harry ali, que se meus olhos não estivessem vendo ele, teria certeza de estar alucinando.
Mas era ele, em carne e osso. Vestindo uma flanela vermelha e preta, e uma touca que cobria parte dos seus cabelos.

-O que você esta fazendo aqui?- perguntei, com somente uma sobrancelha arqueada.

Nathan cruzou os braços na altura do peito, deixando a mostra uma porção de músculos bem esculpidos e tensionados a mostra.

-Você não é bem vindo aqui.- disse Nathan, seus lábios eram uma linha reta, assim como suas sobrancelhas estavam franzidas. Ele não estava brincando, e provavelmente colocaria Harry para fora sem nem pensar.

Mas estamos falando de Harry, e nem preciso dizer que ele não gostou nada de ouvir aquilo. Ele deu um sorriso sarcástico, depois encarou Nathan sem medo.

-E quem é você mesmo?- os olhos dele estavam na altura dos de Nathan, e nenhum dos dois parecia disposto a uma conversa amigável.- Deixa eu adivinhar, a babá que ninguém contratou?

No mesmo segundo Nathan segurou Harry pela camisa, encarando ele como se fosse capaz de mata-lo.

-Some daqui.

-Tire suas mãos de mim, agora.- Harry disse lentamente, sem nenhum pingo de medo.

Levantei do sofá com dificuldade, tentando de alguma forma encontrar as muletas o mais rápido possível, antes que eles acabassem se batendo na porta da minha casa, onde meus vizinhos certamente poderiam ver, e quem sabe contar ao meu pai. Aquilo era tudo que eu não precisava.

-Vocês dois querem parar?- tentei andar com pressa, e acabei me atrapalhando com as muletas, caindo no chão com muita força. No segundo em que meu gesso atingiu o piso duro e frio, senti uma fisgada no meu tornozelo, e mal consegui conter o grito, quanto mais a expressão de dor que surgiu no meu rosto.

Imediatamente Nathan largou Harry, vindo na minha direção com pressa, afim de me ajudar a levantar do chão. As mãos dele eram rápidas em me erguer, e com um simples impulso eu já estava de pé, escorada no seu corpo.

-Você se machucou?- ele perguntou preocupado, me olhando tão carinhosamente, que quase esqueci que Harry estava ali, adentrando meu apartamento e nos encarando com incredulidade nos olhos.

- O que esta acontecendo aqui?- disse Harry sem emoção.

Nathan e eu olhamos para Harry, que estava parado, com as mãos na cintura, como se de alguma forma exigisse explicações da qual não tinha direito.

-Qual o seu problema?- perguntei.

-Qual meu problema?- ele disse se aproximando, o que me faz ficar preocupada outra vez.- Eu pago suas dividas do hospital, cuido para que nada te falte, estou lá penando que você esta aos cuidados de alguém especializado, e quando chego aqui você esta com um cara?

Me afastei de Nathan no mesmo segundo, completamente indignada com o que estava ouvindo.

-Desde quando te pedi alguma coisa?- Nathan tentou me deter, mas eu pedi que ele esperasse, que me deixasse dizer o que era preciso. Afinal sempre soube me defender sozinha de Harry. –Você entra na minha casa, como se tivesse algum direito sobre mim, e depois fala esse monte de merdas. O que você quer aqui? Porque você não é bem vindo nessa casa, nunca foi.

Harry chega ainda mais perto de mim, seus olhos são o reflexo do próprio inferno, e eu já não sei mais se devo me preocupar se uma briga acontecer ali. Só por aquele olhar, chego a imaginar que Nathan poderia levar a pior.

-Maldito dia em que te conheci, maldito dia que me deixei levar por uma pessoa que mal consegue ser agradecida. Depois de tudo que eu fiz por você ainda tem coragem de me por pra fora?

O ar parecia ter sumido, meu coração estava a mil, e a minha vontade era de avançar no pescoço daquele garoto insolente.

-Quem você pensa que é para vir aqui e me dizer essas coisas? Logo você, a pessoa mais desprezível que pode existir. Você passou a vida tentando me diminuir, menosprezar e acabar com tudo que ainda me restava. E agora fala como se tivesse se importado comigo em algum momento da sua vida. A troco de que Harry? O que você espera com isso tudo?

Uma ruga surgiu entre as sobrancelhas dele.

-Esse é o grande problema, eu não deveria esperar nada de você.

-Eu nunca te pedi nada, nunca quis que você fizesse parte da minha, e quando digo isso não é pra te afrontar, só que somos de mundo diferentes, de onde eu vim o seu dinheiro não é nada.

Ele bufou, depois revirou os olhos. Eu sabia que aquele era o seu ponto franco, o assunto que sempre lhe ofenderia.

-E quem esta falando de dinheiro aqui?

Me aproximei ainda mais dele, colocando a mão no seu peito. Não aguentava mais aquela situação, ver o olhar perdido dele acabava comigo. Eu odiava me importar, odiava me sentir daquele jeito, muito menos na frente de Nathan.

Mas nem mesmo a minha ignorância podia negar o que ele tinha feito, ainda que não apagasse todos os seus erros do passado.

-De uma vez por todas, entenda, eu não sou como todas as outras garotas. Não importa pra mim o que você tem, e o que você pode me dar, seu dinheiro não faz diferença nenhuma para mim.- suspirei, antes de olhar mais uma vez nos seus olhos.- Algumas pessoas simplesmente não podem ser compradas, dinheiro nenhum vale minha dignidade, você esta perdendo seu tempo comigo ao imaginar que pode ser diferente. Não sou o tipo de pessoa que você esta acostumado.

Os olhos dele morreram antes de se tornarem sombrios. Eu podia ver que tinha ferido seu ego, tocado na sua maior ferida, e aquilo era de mais até para ele.

-Maldito dia que eu me apaixonei pelo monstro que você é.- disse ele, se afastando de mim. Depois seguiu para a saída, onde girou a maçaneta, e depois saiu batendo a porta com força.

Lagrimas nublavam a minha visão, mas ainda sim eu sentia um alivio enorme.
Eu precisava me livrar daquele sentimento, da sensação que ele me causava sempre que estava perto.
E ainda que eu tentasse disfarça o quanto me importava, não conseguia mentir para mim mesma, assim que percebi que aquela poderia ser a ultima vez que eu magoaria o coração de Harry.

Gente trabalhando muito... mas estou tentando postar pelo menos um dia sim e outro não :)

Quase, sem quererWhere stories live. Discover now