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Gabriel

Só fui ter a certeza de que eu tinha tomado a decisão certa de trazer Lia para a fazenda, depois de ver como ela estava feliz enquanto nadava sem medo pela pequena piscina de água cristalina que se formava logo abaixo da cachoeira.

Ela está na água desde que chegamos e todas as minhas tentativa de tirá-la foi em vão. Por fim, desisti e fui arrumar a toalha sobre a pedra e retirar da cesta uma pequena ceia, tudo que Lia pudesse comer sem colocar para fora no segundo seguinte.

— Lia, você vai parecer uma uva passa se não sair da água – falei chamando sua atenção.

— Quem liga? – me respondeu ficando em pé e tirando a água do rosto.

— Ninguém, eu acho, mas seria bom vir aqui e me ajudar a comer isso tudo – falei apontando para a toalha.

— Você deveria ter me escutado quando falei que não precisávamos trazer comida.

— Como se eu não conhecesse você...

Com a gravidez, seu apetite tinha aumentado, passando a assaltar a geladeira de madrugada, isso quando eu não tinha que ir para a rua em busca dos seus desejos.

Lia saiu da água a contragosto e sentou ao meu lado. Estava usando a mesma roupa que colocou quando chegou. Não passou por minha cabeça trazer roupa de banho, até porque achei que ela não fosse querer passar a tarde na cachoeira. Eu tinha colocado apenas uma bermuda estilo sufista, e uma camiseta.

Lia pegou um sanduiche de salmão que era minha especialidade e que ela adorava, uma garrafa de suco de uva natural, enquanto eu optei por uma cestinha de torradas.

— Isso era porque você não queria que eu trouxesse nada – falei quando a vi lamber os dedos e pegar outro sanduiche.

— Esse aqui é para o bebê – disse dando uma mordida enorme.

— Já reparou que tudo que você come em dobro, diz que é para o bebê?

— Ué, mas não é verdade?

— Tenho certeza que não, mas não vamos discutir.

Eu adorava ficar observando Lia, ainda mais esse momento. Ela estava com leve vermelhidão nas bochechas e nariz, por conta do sol que estava pegando. E havia o seu sorriso leve, como de uma criança que está em uma aventura pela primeira vez.

— Você não concorda?

Sua voz me trouxe de volta para a realidade, me obrigando a me questionar sobre o que ela estava falando.

— Perdão, o que você disse?

— Depois você precisa me ensinar como sair do corpo e viajar para outro lugar... – Lia revirou os olhos – eu estava dizendo que poderíamos vir aqui mais vezes.

— Sempre que você quiser e com mais calma.

Olhei para o relógio e vi que estava ficando tarde e que precisávamos voltar para a fazenda. Nosso vôo de voltar para o Rio estava marcado para as vinte horas e eu ainda teria que devolver o carro alugado.

— Precisamos voltar.

— Já? Mas acabamos de chegar – ela choramingou.

— Estamos aqui à quase três horas.

— Nossa, como passou rápido, nem me percebi.

*

Quando voltamos para a fazenda, dei um tempo para Lia trocar de roupa e fiquei conversando um pouco com minha avó na cozinha.

A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora