Pure Wolf (JiKook - ABO)

Capítulo X

Busan, Coreia do Sul, Ano de 614 d.C.

- Que secaaaaa! – Exclamei, arrastando as palavras.

Sentia-me extremamente aborrecido. O meu irmão mais novo tinha ido comprar roupas novas com os meus pais e eu ficara sozinho em casa. Já não tinha amigos para convidar porque o que havia mais por ali era humanos. Namjoon era o único puro que eu conhecia e ele tinha ido embora já fazia um pouco mais de um ano.

Suspirando de frustração e tédio, decidi sair de casa para ir escutar. Os meus sentidos eram muito desenvolvidos e eu adorava escutar à distância. Por vezes surpreendia-me com vozes magníficas, outras vezes surpreendia-me apenas com aquilo que elas contavam. Assim, fui sentar-me na orla da cidade, rodeado de árvores centenárias magníficas e um céu azul maravilhoso e fiquei imóvel a escutar a vida citadina de pessoas comuns.

- Eu tenho a certeza. – Dizia uma voz feminina bem aguda.

- Coisas da tua cabeça... Onde é que já se viu? – Resmungava um homem. Parecia muito indignado com a conversa que estavam a ter.

- Mas eu vi. – Retorquiu a mulher, aumentando mais o tom de voz.

- Viste o quê mulher? – O homem estava a falar com um tom de gozo. A conversa tinha conseguido intrigar-me e, pelo menos, queria ouvir qual era o escândalo. Fechei os olhos para me envolver ainda mais no som.

- Um tigre. – Disse a mulher. Tive vontade de rir. Um tigre? Em Busan?

- Andas a passear demasiado com aquela maluca que vende fruta no mercado. – Resmungava o homem. Realmente, até eu estava a duvidar da mulher. A escolha do animal deveria estar errada com certeza.

- Mas eu vi. E era tão grande como um urso! – As suas palavras fizeram-me estremecer. Talvez a mulher não fosse maluca, afinal. O que é que um tigre puro andava a fazer por ali?

Os puros eram raros, mas as espécies geralmente mantinham-se muito na sua zona de conforto. Os tigres gostavam de estar isolados e viviam em zonas mais tropicais, o que fazia deles ainda mais raros. Não andavam em zonas mais costeiras assim. Talvez fosse um tigre renegado, condenado a andar sozinho. Ou talvez andasse à procura de parceira.

- Estranho seria se encontrasse uma parceira por aqui. – Suspirei e deitei-me no chão, falando em voz alta. – Aqui não há ninguém puro. Só a nossa família e um ou dois ursos.

- Olá. – A voz era grave e baixa. Parecia quase inexpressiva. A proximidade surpreendeu-me. Como é que eu não detetara o seu cheiro ou o som dos seus passos?

- Olá. – Ergui-me de forma a ficar sentado e olhei na direção do recém-chegado, avaliando-o.

Cheguei rapidamente à conclusão de que aquele era o tigre puro cuja existência tinha acabado de descobrir. Tinha a aparência de 20 anos, mas provavelmente seria muito mais velho. Era um alfa, apesar de disfarçar o cheiro com muita mestria. No entanto, o que mais me surpreendia era a sua aparência delicada. A sua pele era tão pálida como a lua, os seus traços suaves e arredondados. Tinha o cabelo preto como asas de corvo. Seria ele a inspiração para o conto de fadas da Branca de Neve, que os humanos tanto gostavam de contar uns aos outros?

- Parece que não estás muito surpreendido por me ver, lobo. – O seu tom era monocórdico e não esboçou qualquer expressão facial. Mas o seu olhar brilhante transmitia muitos sentimentos. Parecia nervoso.

- Não. Acabei de ouvir falar de ti. – Expliquei sorrindo da forma mais simpática que consegui.

- Tens por hábito ouvir as conversas alheias? – Ergueu ligeiramente uma sobrancelha. O movimento era quase impercetível, mas ainda assim não escapara ao meu olhar.