Capítulo XXII

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Busan, Coreia do Sul, Atualidade (Correspondente a: Capítulos VI, VIII)

Abri os olhos de repente, inspirando o ar para dentro dos pulmões como se tivesse estado prestes a sufocar. Sentia que tinha dormido muito, apesar de terem sido apenas algumas horas, mas ainda assim estava exausto. Não fisicamente, mas psicologicamente. Afinal, o meu cérebro nunca tinha descanso. Estava sempre à espera de um ataque vindo de algum lado e isso não me deixava dormir profundamente. Estava mesmo exausto.

Apoiei as mãos na cama e soergui-me de forma a ficar sentado. Tinha apenas uns boxers vestidos, que nem eram os meus, e estava perfeitamente limpo. Como isso tinha acontecido é que eu não fazia ideia. Recordava-me de um belo anjo que me alimentava e cuidava de mim nos meus sonhos. Talvez não fosse um sonho ou um anjo, afinal.

Olhando em volta percebi que estava sozinho num quarto que cheirava muito a mim, pelo tempo que lá estivera fechado, mas que cheirava também a ómega. Esse cheiro estava entranhado em tudo. Na cama, nos móveis, nas paredes... Associei rapidamente o cheiro ao ómega que eu vira entrar naquele apartamento. Parecia que ele me tinha levado com ele para casa. Correndo o risco de ser atacado...

Abanei a cabeça para afastar a nuvem de pensamentos negativos que parecia querer apossar-se de mim de vez em quando. Voltei a examinar a divisão, aspirando o odor a morangos, a minha fruta favorita. Reparei numa nota na mesinha de cabeceira. Fora escrita de forma apressada, mas a letra era bonita e perfeitamente legível. Era um aviso do dono da casa, que me pedia para não estragar nem roubar nada. Como se eu o fosse fazer por escolha própria, não é? Voltava às 15:30h. Olhei para o despertador digital que assinalava 14:05h com uns números vermelhos brilhantes que quase ofuscavam os meus olhos sensíveis. Jimin. O seu nome era-me familiar. Sim, de certeza que ele mo tinha dito algures na noite anterior. A parte final da mensagem fez o meu estomago roncar. Estava tão esfomeado...

Suspirando, levantei-me e comecei a procurar uma casa-de-banho. Felizmente era a primeira porta que se via quando saia do quarto. Eram uma ao lado da outra. Depois das necessidades básicas resolvidas, procurei pelas minhas roupas. Deviam estar algures por ali. Finalmente encontrei-as numa pequena divisão que parecia ser uma lavanderia. Estavam penduradas num pequeno estendal de teto. Reparei que essa divisão da casa tinha uma temperatura mais quente que as outras e era ventilada, o que significava que lá as roupas secavam mais depressa, mesmo no inverno. Tirei os bóxeres de forma rápida, colocando-os no monte da roupa suja, e substitui-os pelos meus. Vesti a minha roupa também. Infelizmente as sapatilhas estavam molhadas, pelo que decidi ficar descalço. Parecia já nem saber como me vestir com calma. Tudo para mim era pressa.

Praticamente corri até à cozinha e deparei-me com o ramen, conforme dizia a nota do Jimin. Fiquei satisfeito por ser caseiro. Já não comia comida caseira há imenso tempo... Geralmente só parava para comer ramen instantâneo. Aqueci-o no micro-ondas e comi de pé, não querendo sequer perder tempo a sentar-me. A minha intenção era ir embora mal o dono da casa chegasse. Queria agradecer-lhe e seguir caminho. Ficar ali demasiado tempo poderia ser perigoso para mim, mas principalmente para ele. O tigre andava sempre no meu encalço, sempre a caçar-me como o excelente predador que era.

Já sem nada para fazer, regressei ao quarto para compor um pouco a cama. Nunca tinha tido muito jeito para as lides domésticas, mas desenrascava-me o suficiente para ajudar um pouco. Enquanto terminava de tentar alisar as mantas, vendo o relógio já a passar da hora que o Jimin dissera que voltaria, uma moldura de madeira escura chamou-me a atenção. Era a única moldura naquele espaço e a única coisa que parecia realmente revelar algo sobre o habitante daquela casa. Tudo o resto poderia ter sido escolhido por um ómega qualquer. Mas aquilo não.

Hesitante, avancei até ter o objeto ao alcance dos dedos. Ponderei antes de lhe pegar, sentindo-me dividido entre invadir ou não a privacidade de alguém que me ajudara quando mais ninguém o tinha feito durante tanto tempo. Anos... Séculos... Deixei-me guiar pela curiosidade, tocando no aro em volta da fotografia como se assim pudesse descobrir os segredos que ali se escondiam. Finalmente, peguei-a com cuidado e observei a imagem. Um rapazinho de bochechas cheias, cabelos negros, boné preto de lado e uma camisola vermelha surgia com um pequeno sorriso e uma pose adorável. Não pude evitar sorrir imaginando aqueles pequenos olhos semicerrados num olhar inocente e alegre de criança. Quer dizer, devia ser um adolescente naquela fotografia, no entanto, parecia extremamente pequeno aos meus olhos.

Pure Wolf (JiKook - ABO)Where stories live. Discover now