Pure Wolf (JiKook - ABO)

Capítulo XLIX

Busan, Coreia do Sul, Atualidade (Correspondente a: Capítulos XLIV, XLV e XLVII)

Fiquei sem apetite para jantar pelo que decidi optar por uma simples sandes. Apenas para dizer que não tinha ficado sem comer. Estava demasiado nervoso e ansioso. Nervoso porque Jimin estava sozinho com aquela bruxa, que era a sua mãe, e um homem desconhecido, que era o patrão dela. Ansioso porque a qualquer momento chegaria o tigre alfa e não sabia como correria aquela conversa.

Tinha um mau pressentimento sobre tudo naquela noite e não sabia como lidar com isso. Liguei a televisão apenas para ter ruído de fundo enquanto esperava. Não estava a prestar atenção, a minha mente divagava, tentando captar alguma coisa da parte do Jimin. No entanto, recebia apenas silêncio absoluto. Ele parecia decidido em fazer com que eu não percebesse nada do que ele estava a sentir ou a pensar. Isso só me deixava mais preocupado. Algo de mal, com certeza, estava a acontecer.

A campainha despertou-me, arrastando a minha mente para o meu corpo novamente. Finalmente, foquei-me no momento e no que poderia fazer para ultrapassar uma parte da minha história que podia ser considerada negra e destruidora.

Ao abrir a porta o tigre alfa de cabelo verde olhou de mim para o chão, nervoso. A mão estendeu-se na minha direção para um aperto de mão e correspondi de forma quase automática. O ambiente entre nós ficou pesado durante um momento, depois desse cumprimento inicial.

- Queres entrar? – Convidei, sem saber bem como proceder. O meu coração parecia querer correr pela colina e o lobo dentro de mim estava em estado de alerta.

- Obrigado. – Afastei-me para o deixar passar à medida que avançava para o interior da casa.

Em silêncio conduzi-o para a sala e indiquei o sofá para que se sentasse. Instalei-me a seu lado, mas virei-me para ele de forma a conseguir olhá-lo enquanto conversássemos. Ele fez o mesmo, encolhendo-se um pouco sobre ele mesmo. Eu sabia que ele estava assustado, tal como eu.

- Pedi para falarmos porque há muita coisa que ficou por dizer. – Começou ele num tom calmo e triste. Respirou fundo, como se assim conseguisse reunir alguma coragem. – Naquele dia, quando descobri que o teu pai tinha morto toda a minha família, o meu cérebro não aguentou. Foi como se tivesse desmaiado e perdido todas as forças.

- O meu pai apenas fez o que pôde para sobreviver. – Interrompi, sentindo-me imediatamente na defensiva.

- Eu sei. Sempre soube que ele não era verdadeiramente o culpado. – O Yoongi olhava para mim como se tivesse uma necessidade pura de ser compreendido. – O que aconteceu foi que o meu espírito, sabendo que perdi a família toda, fraquejou. Perdi a vontade de viver e afoguei-me em mim próprio porque podia fazê-lo. Tinha um companheiro dentro de mim a proteger-me. – Fez uma pausa para organizar os pensamentos e eu mantive o silêncio, aguardando. – O meu tigre e eu sempre fomos companheiros e ele sempre foi muito mais forte do que eu. Ele sempre me protegeu quando precisei dele. Naquele dia, ele decidiu proteger-me e assumiu o controlo total do meu corpo. Eu estava lá dentro, semi-consciente, mas sem vontade de viver ou lutar. Ele por outro lado ficou cheio de sede de vingança e deixou-se consumir pela raiva. Por isso,... – Levantou-se do sofá e ajoelhou-se no chão à minha frente. Curvou-se e tocou com a testa no chão, as mãos juntas à sua frente. - ... peço perdão. Peço que me perdoes por ter permitido tudo o que te aconteceu de mal. Peço que me perdoes por não ter tido forças para o parar. Peço perdão por tudo o que ele te tirou. – O alfa chorava copiosamente, tão destruido quanto eu com toda a situação.

Olhei-o, ponderando tudo aquilo. Não podiamos passar a vida a culpar-nos. Nem um ao outro, nem a nós próprios. A verdade é que alguém, uma entidade externa a nós, mexera os cordelinhos e afetara a nossa vida. No entanto, se as coisas tivesem sido diferentes poderiam ter tido o mesmo desfecho. Quem sabe... Os puros tinham sido condenados à extinsão ao longo dos anos. Isso significava que chegaria o nosso dia e das nossas famílias também, independentemente das opções que tomássemos?