Prólogo

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P r ó l o g o

Light

Florença, 2017

—E como você se sentiu Light? Qual foi a sensação? — Ele finalmente fez a pergunta e pela primeira vez nos meus 22 anos eu senti-me confuso. Não esperava que ele fosse tão directo, ou tão destemidos. Ele escolhera essa pergunta de entre as várias que poderia ter escolhido.

Quem se importava?

—No quê isso interessa? Eu gostei, eu sempre gosto. —Respondi calmo, mas meu tom de voz falhou, o que quase nunca acontecia. Sim, quase. Esse homem era incovenientemente chato.
—Light, eu conheço você desde seus cinco anos, quando você entrou por aquela porta junto com seus pais, eles estavam preocupados e muito assustados. —Ele fez uma pausa e respirou fundo antes de me fitar-me. Seus pés cruzados em quatro balançavam o que me deixa inquieto. —Beatrice Alencar Bonnatero entrou de mãos dadas com um rapaz moreno de olhos intensamente azuis que tinha postura de um homem, e ela estava preocupada, uma vez que seu filho matou o coelho de estimação da irmã estrangulando-o e fez o mesmo, a sangue frio com o gato de estimação da outra irmã. O preocupante Light, era que esse mesmo garoto repetia precisamente que eram necessário cinco facadas para que o pobre gatinho parasse de se mexer, de se debater.

Dr. Nataniel Scott era o psiquiatra da minha família — sim, eramos tão loucos que tínhamos um psiquiatra para nós. Ele era renomado e muito bem pago, mas eu preferia chamá-lo de analista mental, era o correcto certo? O homem de cabelos grisalhos e pele negra, olhos fodidamente acastanhados e postura um tanto quanto erecta. O conhecia desde cedo, pelo menos desde os meus cinco anos de idade. Uma vez por semana, o meu pai me obrigava a sentar nessa mesma poltrona de couro reclinável que possuía três falhas, o couro era espesso demais, o pé esquerdo frontal tinha uma pequena falha, o que o faz balançar pouco — era quase imperceptível e o encosto era duro, nada confortável.

—O que chamou-me atenção Light, foi a falta de remorso naquele ser pequeno. O quão certo ele se portava e o quanto seus olhos eram um espelho de frieza. —Lá estava ele de novo. — Então isso interessa sim. Como você se sentiu Light? Eu sou seu analista certo? É isso que eu faço e é para isso que estou sendo pago aqui. Você foi o caso de sociopatia mais jovem que tive e por algum tempo eu achei que fosse evoluir para uma possível psicopatia, mas você ama seus pais, luta pelos seus irmãos mesmo dizendo que não os suporta. Você matou-o por ela.

—Isso é tão chato.— dei de ombros assumindo-se uma postura de puro tédio. — De início eu apertei sem o intuito de machucar, seria apenas um susto que eu daria nele, mas ai. —Fiz uma pausa e sorri com a lembrança. —Sua cara de desespero e falta de ar foi prazeroso, ai eu apertei, apertei mais e ele ainda assim se debatia, como o coelho da minha irmã. Mas não foi tão rápido como o Rabit. Mas na verdade o que encheu-me de prazer e claro a melhor parte, foi fazê-lo olhando em seus olhos. Então Nataniel eu senti prazer, foi prazeroso estrangular até a morte meu melhor amigo.

Pisquei para ele.

—Você está fazendo a medicação que prescrevi semana passada? —Ele mudou o rumo da conversa, sempre o fazia quando sabia que eu estava jogando com ele, sendo sincero demais e invertendo os nossos papéis, ou manipulando meus sentimentos o fazendo sair da sua zona de conforto.

Grunhi lembrando da ameaça feita pela minha mãe. Ela havia dito que arrancaria o meu molar se eu faltasse as minhas consultas e enfiaria a minha cabeça no vaso sanitário caso eu não tomasse os meus remédios.

—Tenho uma mãe coruja, e acredite, eu tenho medo dos anjos da Baronesa. —Disse-lhe.

—E como você se sente em relação ao casamento? —Meu corpo enrijeceu em desconforto, não era um assunto que eu gosta de tocar apesar de saber que era parcialmente por ela que matei Louis. —Como está sua noiva?

—Minha esposa e não noiva. —Corrigi-o. —Já está na minha hora. — Levantei-me ajeitando minha roupa.

Nataniel Scott olhou-me com pena e eu detestava que me olhassem assim, sentia-me mais sujo e miserável do que eu na verdade era, e isso aumentava a minha vontade de ver alguém sangrar.

—Light, nós ainda não terminamos. —Disse ele duas notas mais alto que o normal, mas eu já estava de saída. Merda que sim, nos terminamos,  pensei comigo mesmo.

Minha vida era puramente fodida e meu mundo era completamente distorcido, cansei das sessões ridículas que não ajudavam em nada. Criaram-me para ser um assassino cruel e sem remorso, e agora temiam por eu ter me tornado exactamente no que queriam.

Mas talvez nem todos eles fossem culpados.

—Você não, mas eu já. — Retruquei, sem me virar para encará-lo. Saí da sala fechando à porta a minha trás.

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Com amor, CupcakeeyV
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O Filho do Barão [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora