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Clarissa olhou o espelho pela última vez, assegurando-se que seus olhos não a enganavam

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Clarissa olhou o espelho pela última vez, assegurando-se que seus olhos não a enganavam. Seria possível que fosse ela aquela linda noiva refletida no espelho? Mas seus olhos não tinham brilho algum. Seu vestido era de organza e usava uma camélia no cabelo. Levaria um buquê da mesma flor, amarrada por uma fita de cetim. Ela pensou se o refinamento do seu casamento a transformara naquela estranha. Ou aquilo se devia a recôndita esperança que no momento em que o padre perguntasse se ela aceitava Joaquim Alencar como seu marido, ela diria não e fugiria da igreja. Claro que ela não faria aquilo. Estava infeliz demais para lutar por sua felicidade. Afinal, sua felicidade estava morta como Daniel.

Chegou à frente da igreja que um dia fora batizada no bairro das Laranjeiras. Uma nostalgia se apoderou dela. Lembrou-se da mãe que morreu quando era apenas uma menina. Foram tempos difíceis. Sua mãe dizia que ela se casaria naquela igreja e com o amor de sua vida. Clarissa erroneamente acreditou. Não era o amor de sua vida que estava lá dentro, era um desconhecido que a faria infeliz na mesma proporção que seu pai fizera com sua pobre mãe.

Com um suspiro resignado, Clarissa entrou na igreja de braços dados com o pai. A igreja estava repleta de convidados. Um homem soberbo a esperava no altar.

A medida que se aproximava de Joaquim, Clarissa conseguia divisar a expressão do rosto dele. As maçãs do rosto claramente delineadas, o nariz arrogante e a boca levemente rígida. Aquela era uma boca que parecia não suavizar nunca. Joaquim Alencar não parecia ser um homem adepto ao sorriso. O rosto dele era tão implacável quanto ameaçador, mas ainda assim, tremendamente belo.

Ela fincou ao lado dele e em nenhum momento Joaquim a olhou. O sacerdote pronunciava sua reza em latim. Clarissa entendia latim, mas naquele momento nada ouvia. De repente sentiu um toque brusco em suas mãos e viu-se sendo virada em direção ao noivo. O padre deve ter falado que era o momento de pronunciar o juramento e ela nem havia se dado conta. Então nesse momento ambos se olharam nos olhos. Por trás do véu que Clarissa usava, ela viu um estranho brilho nos olhos daquele homem bonito. Parecia raiva. Ou seria rancor?

Depois do juramento e do aceito, ele levantou o véu, como era esperado, e tocou os lábios na testa de Clarissa. Aquilo não parecia um beijo. Clarissa pensou se, de fato, ele beijara sua testa ou sequer encostara os lábios em sua pele, pois não sentira nada.

O padre os declarou casados. Foi como ouvir uma sentença de morte. Para ambos.

A festa foi regada a tudo do bom e do melhor e com todos os convidados da alta sociedade fluminense. A mãe de seu marido era extremamente atenciosa e simpática. Parecia ser uma boa pessoa, pensou Clarissa. Era hora de embarcar em sua nova vida. Clarissa viveria na fazenda de café do marido, em Petrópolis. Se afastaria do lugar que conheceu durante toda a sua vida e o pior, Malaika, sua mucama, não iria com ela. Viveria em meio a desconhecidos.

Era uma vez... Os Alencar (FINALIZADO)Where stories live. Discover now