XXVIII

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-  Não podes estar falando sério

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-  Não podes estar falando sério. - disse ele, perplexo.

- É claro que estou.

- Eu a pedi em casamento? - disse um tanto alterado.

- Sinto muito, mas não posso aceitar o seu pedido de casamento.

Esther se aproximou da janela e segurou com força no peitoril. Desejando imensamente que ele fosse embora. Ele se aproximou e a fez virar-se para ele. Suas mãos seguravam  braços dela pela lateral.

- O que foi que disse?

- Que não posso aceitar o seu pedido de casamento. - ela repetiu, trêmula, sentindo a pele queimar com o toque daquelas mãos grandes e quentes.

- Olhe para mim! Não diga absurdos. Terá de se casar comigo, sim!

Ela negou com um gesto de cabeça.

    - Sua tolinha. Será que esqueceu do que houve entre nós? - disse ele de maneira tão condescendente que a irritou.

- Tu me amas? - indagou ela com raiva.

Bento não esperava por aquela pergunta.

- Desde quando casamento tem a ver com amor?

- Tu lembras de Lúcia Cabral?

Bento passou a mão pelos cabelos, deixando-os desarrumado-os, num gesto claro de impaciência. Esther era linda e sedutora, mas extremamente teimosa.

- Diabos, Esther, que mudança de assunto. - disse, irritado.

Esther deu um sorriso que não lhe chegava aos olhos.

- Certamente não se lembra. Lúcia Cabral era nossa vizinha em Petropolis. Ela era linda. Os cabelos loiros encaracolados, com intensos olhos verdes. Tínhamos a mesma idade. Mas eu nunca entendi porque ela não brincava comigo, o que me obrigava a importunar a ti, teus irmãos e meu irmão nas brincadeiras. Mas era somente tu que me irritava. - ele sorriu com a lembrança. - Mas uma vez fora gentil comigo. Uma única vez. - ele franziu o cenho. - Seu pai tinha nos trazido fitas para enfeitar os cabelos. Ele me deu a violeta e Lúcia ficou com a verde.

Ela ficou com um olhar distante como se presenciasse a cena.

- Quando eu e ela estávamos a sós, ela puxou a fita violeta da minha mão.

Ele ouvia tudo sem nada entender o que aquela história tinha a ver com  a questão do casamento.

- Mas eu não permitiria que ela ficasse com a fita que seu pai escolhera para mim, então puxei de volta. Mas ela me disse coisas muitos feias. Ela me disse que eu não era bonita e que a fita violeta combinava mais com cabelos loiros, não cabelos castanhos e sem graça como os meus. Tu chegaste naquele exato momento e me defendeste tão ferverosamente que eu me apaixonei por ti naquele instante. Disseste que o violeta combinava muito mais com cabelos escuros. - Bento franziu o cenho. - Apesar da minha pouca idade. Apesar de sempre teres me aborrecido. Eu me apaixonei por ti naquele instante. Ninguém nunca tinha me defendido com tanta veemência. Lúcia saiu correndo e tu olhaste para mim e viste lágrimas em meu rosto. E tu disseste: "Não fique assim, ela é que é feia e parece uma gralha." Eu sorri mesmo em meio as lágrimas. E eu disse:" Sei Sei que não sou bonita, mas é uma indelicadeza dizer isso sem a menor cerimônia. Acho que deve ser por causa do cabelo e olhos castanhos. São sem graça." Tu sorriste e me disseste que preferias mulheres com cabelos e olhos escuros. Mas eu retruquei dizendo que ela também falara que minha boca era grande. Ainda me lembro se suas palavras exatas:  "Da próxima vez em que Lúcia Cabral lhe disser que tem boca gran­de, responda que os seus lábios são carnudos. E lábios cheios são muito mais interessantes do que os finos, pois são melhores para beijar." Eu fiquei muito envergonhada e disse que tu não precisarias me fazer sentir melhor. Mas tu disseste: " No futuro, quando for adulta, será tão bonita como já é inteligente."  Foste embora para Lisboa pouco tempo depois e nunca mais te vi. Eu me apaixonei por ti ainda menina, Bento. E é exatamente por isso que não posso me casar contigo. 

Era uma vez... Os Alencar (FINALIZADO)Where stories live. Discover now