A história começa em 1871 onde os abolicionistas comemoram uma grande conquista na luta contra a escravidão: a lei do ventre livre, onde crianças nascidas a partir de 28 de setembro do mesmo ano nascem livres.
Mas a escravidão ainda é vigente no Br...
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Mariana abriu os olhos ao ouvir a voz grave, masculina. Não estava mais deitada de lado. O vestido tinha subido, deixando à mostra uma de suas pernas até o joelho. Situação nada apropriada para uma dama.
Piscando várias vezes, conseguiu discernir uma figura alta a seu lado. Parecia um gigante, com longas pernas fortes cobertas por calças justas, de couro, e botas lustrosas. A cabeça do Golias era recoberta por cabelos castanhos, desmanchados pelo vento. O rosto, escondido na sombra, tinha um quê de misterioso.
- A ninfa está acordando. Está se movendo, mas não demonstra medo. - continuou a voz, num tom brincalhão.
Tentando acordar completamente, Mariana sentou-se e puxou a saia até os tornozelos. O estranho tinha se mexido um pouco e o sol batia direto no rosto da moça, tornando impossível para ela ver o rosto do desconhecido.
- Por favor, senhor, ajude-me a levantar. Daqui não posso enxergá-lo, o que me deixa em desvantagem.
- Realmente! Explicou a sua situação em termos bastante delicados! - respondeu ele, envolvendo as mãos dela nas suas.
Mariana tinha só um metro e sessenta de altura e percebeu que o desconhecido, apesar de bem mais alto que o normal, não era o gigante que tinha pensado. Usava camisa branca, aberta no pescoço, deixando entrever pêlos castanhos avermelhados. Ela o observava com interesse desmedido. Como não tinha irmãos e seu pai era uma pessoa muito modesta, jamais tinha visto o peito de um homem.
Finalmente, levantou os olhos para o rosto dele e percebeu que ele a olhava, divertido. Olhos que riam, contornados por espessas pestanas, pareciam lagoas azuis. As maçãs do rosto eram altas e aristocráticas, o nariz longo, o queixo quadrado, com uma covinha, a boca larga e firme. E sorria para ela.
- Está me olhando como se quisesse me comer! — exclamou a moça, sem pensar.
O cavalheiro riu, bem-humorado, numa verdadeira explosão de alegria.
- Por que parece verdadeiramente deliciosa, ninfa!
- Acho que não o compreendo, senhor. - replicou ela, mostrando uma certa confusão. - Mas tenho certeza de que minha mãe não aprovaria o fato de eu falar com um estranho. O que está fazendo aqui? O senhor está nas terras do meu pai!
- Nas terras de seu pai? - repetiu ele, olhando para as roupas simples e velhas.
Mariana entendeu o ar cético e enrubesceu. Pôs as mãos nos quadris e replicou:
- Terras de meu pai, sim senhor! Sou a srta. Mariana Almeida Prado!
- Talvez uma das criadas da srta. Mariana Almeida Prado, suspeito. Se fosse a criada de quarto, estaria mais bem vestida. Por outro lado, é muito refinada para ser uma criada qualquer e muito jovem para ser uma governanta. Isto é um verdadeiro quebra-cabeças... Mas talvez seja mesmo uma ninfa!