Capítulo 1🌙 30 Anos depois

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Nota Inicial: Sejam bem-vindos ao primeiro capítulo de Lua de Cristal. Vamos começar? A narração será privilegiada... Quem estava com saudades dele?

Boa leitura ♥

🌙


Gimli ajeitou o casaco e espirrou. Não seria a primeira vez e nem a última, mas se manteve quieto na cama. O dia começava a raiar. Um sol morno, quase frio, levantando atrás das muralhas do castelo e inundando todo o quarto com uma luz tênue e pálida. Havia nuvens pesadas pairando pelos céus, que era tingido de vermelho e laranja; e um vento entrou pela janela fazendo as cortinas se agitarem. Sentei-me no sofá, onde havia dormido, e coloquei os braços apoiados nos joelhos. Curvei-me e encarei o piso de pedra lisa, cinzento, como os olhos dela. Engoli em seco. Respirei fundo e voltei a encarar a janela.

As muralhas maiores, ao longe, reluzindo em pedras polidas, escovadas e cinzas como prata. O vento soprou novamente e eu suguei o ar, tinha um aroma pedregoso e metálico, muito diferente do gosto adocicado que a Floresta das Trevas começou a exalar depois da Última Batalha do Anel. Era diferente de tudo que eu me lembrava - e eu me lembrava de muita coisa! O som agudo do vento contra as rochas do castelo invadiu meu quarto, e eu me joguei para trás. Apoiei a cabeça no encosto do sofá e suspirei.

Hoje!

Senti uma dor apertar meu coração e minha garganta arranhou. Coloquei as mãos no rosto e chorei.

Trinta anos!

Trinta anos se passaram e eu não pude fazer nada! Não encontrei nada além da armadura e da coroa que ela usava naquele dia... No dia em que ela foi tirada de mim. E eu não me perdoava por isso. Fui inútil! Eu não pulei para pegá-la porque Mormacil, e mais alguns guardas, me seguraram, e eu nunca vou me perdoar por isso. Eu devia ter procurado mais.... Incansavelmente. Mas algo mudou depois de procurar por três anos; talvez ela estivesse em Aman, e eu logo iria encontrá-la.

Mas ela não estava. E eu ainda procurava, pois eu a sentia. Ela ainda estava viva, eu sabia disso, mas a cada ano que passava, essa dor só se tornava mais intensa e sufocante. E me afogava.

Aquele sorriso... Aquele olhar... Aquele rosto... Aquele beijo...

Eu ainda sentia seu corpo no meu. Sua boca na minha. Suas mãos apertando as minhas mãos, seus lábios buscando meu consolo e seus braços me envolvendo. Eu a amava com todas as minhas forças, e isso nunca mudou. E nunca iria mudar. Mas, a dor que eu sentia era esmagadora, cruel, sufocante, abominável e terrivelmente egoísta. E ela não transmitia trégua, pois tudo em minha volta, lembrava-me ela. Do vento à areia, do chão aos céus. Em todo canto, a lembrança dela era constante. E isso acabava comigo.

Eu chorei e agarrei as próprias pernas como uma criança desesperada, então, peguei o cobertor de lã e enrolei nas costas. Fiquei no escuro até que comecei a soluçar.

Eu estava quebrado por dentro.

Então senti uma mão puxando o cobertor e levantei o olhar. Gimli bocejou e passou a mão na longa barba ruiva, encarando-me com aqueles olhos castanhos.

— Não fique assim. — falou ele, compadecendo-se com meu estado deplorável. — O dia já começou e temos uma festa hoje.

— Não tenho motivos para comemorar, mellon. — disse, tentando engolir um pouco das lágrimas.

— Não diga isso. — Gimli se sentou no chão — Você é padrinho da princesa...

— É hoje. — o interrompi. O anão ficou calado por um bom tempo antes de estalar os lábios. — Hoje faz trinta anos.

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora