Capítulo 35🌙As sombras vindas do Norte🌙Parte 2

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Nota inicial:

Boa leitura ♥

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Cresceu-lhe então muito mais inveja; e ele também assumiu forma visível; mas, em virtude de seu ânimo e do rancor que nele ardia, essa forma era escura e terrível.
O Silmarillion [Ainulindalë],
de J. R. R. Tolkien (1917)

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Parte II

Legolas chegou no acampamento no começo daquela manhã e se jogou perto da fogueira, levando as mãos na cabeça e suspirando. Cansado! Ele estava cansado e preocupado com a irmã caçula. Temia que algo de muito pior houvesse acontecido com ela porque Bard, Nëssa e Driën estavam muito machucados. Bard estava moribundo, com os cabelos emprastados de lama e limo, e gelo e sangue viscoso de peixe subterrâneo, e tinha pesadelos constantes. Havia hematomas por seus braços, garganta e barriga; seus olhos estavam fundos e vermelhos, cansados e possuíam um brilho estarrecedor de medo e culpa. O jovem meio-elfo pediu desculpas ao príncipe por não ter protegido mais Eáránë, e chorou enquanto contava o que fez no fundo da montanha por um ano e um mês depois que saíram da Floresta das Trevas.

— Eu comia um peixe viscoso que tinha duas cabeças por dia, mais ou menos. — Ele franziu — Era tão assustadoramente escuro lá embaixo que tive que fazer meus próprios dias, e comecei a contar a quantidade de gotas que caía na baía, geralmente caía duas gotas por minuto e eu comecei a contar a partir disso. — Bard se jogou para trás e suspirou — Eu saía para perambular pela caverna, mas não ia muito longe do som das gotas. Havia começado a fazer marcações grosseiras na rocha para me localizar, mas ficar lá dentro, cercado de um escuro palpável, deixou-me apavorado! Eu saí depois que decidi deixar minha zona de conforto e entrar em uma fenda, havia uma brisa quente e um odor silvestre que vinha daquela direção, mas eu estava tão profundamente enterrado que acredito ter levado mais que um mês e meio para chegar a superfície.

Legolas deu um sorriso tranquilizador e pegou a mão dele. — Está seguro agora, Bard. — ele olhou para a princesa Ayla que espremia algumas ervas para fazer um emplastro para ele. — Ayla vai cuidar de você.

Bard suspirou, e se ele estava ruim, Nëssa e Driën estavam piores.

Os dois foram encontrados em um estado catatônico perambulando pelas Montanhas Cinzentas. Nëssa tremia, estava suja de grama, lama, neve, sangue e suas roupas estavam rasgadas. Ela apresentava arranhões profundos e infeccionados por todo o corpo –  seus braços estavam inchados, e de alguns ferimentos, podia-se observar o osso. A princesa dos noldor tremia e estremecia a maioria do tempo, mas estava se recuperando mais rápido que ele imaginava.

Driën havia sido atacado por alguma coisa realmente grande e cruel – seu braço estava quebrado, havia um corte profundo em seu pé esquerdo e um arranhão em seu rosto, atravessando entre o olho até o lábio. Queimava de febre e o pior ferimento era a mordida que estraçalhou seu cotovelo direito. A pele caiu como se estivesse sido queimada, e a carne pulsava e granguenava a medida que a pele em torno da ferida crescia de inchaço. Vê-lo daquele jeito fez o coração dele doer.

Como sua irmã estaria?

Legolas apoiou a cabeça nas mãos e suspirou profundamente.

— Ah, padrinho! — Ayla chegou e sorriu, espantando-se ao vê-lo ali logo cedo. Ela carregava ervas e flores silvestres nas mãos. — Voltou! Onde está Gimli e Kayke?

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora