Capítulo 22🌙Chegam notícias

554 48 17
                                    

Nota inicial:

Boa leitura ♥

🌙

Há um toque de morte, algo que sabe a mortalidade nas mentiras.
Coração das trevas
– de Joseph Conrad

🌙

— Mamãe, olha isso!

Laura abriu os olhos, colocou as mãos em frente ao rosto e sorriu. O pequeno elfo de cabelos castanhos repetiu os movimentos e a lâmina do punhal dele rodou, sendo arremessada ao alvo e acertou o círculo vermelho com precisão. A ruiva bateu palmas e gargalhou quando ele a reverenciou.

— Hantalë, nana. Obrigado, mamãe. — ele se levantou, tirou os cabelos do rosto e caminhou até o alvo.

Laura suspirou, abrandando o sorriso dentro de si e abaixou a cabeça. O sol nascia no leste quando Elrond sentou-se ao seu lado.

— Círdan mandou um mensageiro. — disse o Senhor de Valfenda. Sua voz branda ecoou pela brisa fraca que soprava. — Há três vagas no próximo barco a deixar a Terra-média. — Ele a olhou e pegou a mão dela. Laura ergueu a cabeça e suspirou. — Você deve ir.

Mas ela negou. — Eu não posso.

Elrond olhou para o céu, para o sol e suspirou. — Já se passaram trinta anos. — Ele abaixou a cabeça e molhou os lábios. — Talvez ela esteja...

— Tio — ela encheu o peito de ar e fechou os olhos —, ela ainda está viva. Eu sei. Eu sinto. — Laura olhou para o filho que treinava. Tão pequeno porém, forte como seu lado noldo.

— Você quer que ela esteja viva. — ponderou ele. A elfa o fitou mas ele não se moveu. — Eu sei como é perder um irmão. Acredite, eu lutei para aceitar Elros sendo mortal e quando ele se foi... — a voz dele arranhou e se perdeu. Elrond abaixou a cabeça e respirou fundo. Ele parou, engoliu em seco e sugou o ar. —, eu sei como é terrível ficar sozinha no mundo.

— Eu não estou sozinha. — ela falou conseguindo a atenção dele. — Eu tenho você, Arwen, Elladan e Elrohir, tenho a vovó Galadriel, o vovô Celeborn. Tenho Legolas, Eáránë e papai Thranduil. Tenho Mormacil e Ëmmyth. — ela apontou o queixo para o pequeno filho correndo no jardim. Um sorriso tímido se formou nos seus lábios. — Eu não estou sozinha. Mas não posso partir enquanto ela não voltar...

Elrond ficou calado e respirou fundo.

Laura fechou os olhos, respirando o sabor salgado do vale e captou o som agudo dos pássaros. Tão nítido era a melodia do vento contra as rochas que chegava a se sobressair através dos outros sons do vale. Semelhante àquilo era a certeza de que sua irmã, Aranel, estava viva. Sabia que ela não estava além do Mar, sabia que Nel estava na Terra-média e estava bem. Quase era palpável a necessidade de sair cavalgando, buscando respostas. Buscando por ela....

Laura se debruçou sobre os joelhos e suspirou. Elrond tinha razão e ela tinha que parar de se martirizar por conta daquilo. Não foi culpa dela que Nel caiu no Rio Encantado. Não foi culpa minha. Mas eu devia ter evitado! Eu devia saber! Ela engoliu a saliva e suspirou. A carta que ela havia recebido do pai ainda estava em seu bolso. A quarta carta. Ela me pediu para cuidar do nosso povo! E assim eu o fiz!

Um vento forte soprou e Laura se ergueu novamente. As folhas rajadas das árvores tremulavam, tímidas e frias, assim como os dias que se sucederam ao desaparecimento de Nel. Laura cuidou do povo dela – assim como foi instruída –, alguns voltaram para o Sul. Outros foram para Aman e alguns poucos permaneceram com ela, em Valfenda. Alguns dias atrás viu Saphira e Clawren, Florine, Stevan e Edhel, e até mesmo as antigas damas de companhia da rainha. Todos viviam felizes em Valfenda – claro, a medida do possível. Eles perderam duas rainhas. Mas a paz nos corações dos elfos daquela fortaleza abrandara a chama incessante que havia dentro dos elfos da Floresta Branca. Elrond os ajudou. E ela sabia que se sairia melhor aceitando a decisão de cada um.

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOWhere stories live. Discover now