Capítulo 39🌙Vamos embora, minha rainha?

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Nota inicial:

Boa leitura ♥

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[Uma] mulher dos Sidhe (os seres encantados) veio, e disse que a [garota] fora escolhida para ser a noiva do príncipe do reino sombrio, mas para que a esposa dele não envelhecesse e morresse enquanto ele ainda estivesse no primeiro ardor de seu amor, ela seria presenteada com uma vida encantada.
– O crepúsculo celta,
de William Butler Yeats (1893, 1902)

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Quinze anos haviam se passado desde a morte de Aragorn, mas a falta dele nem tampouco abrandara. Quinze anos depois de tudo que aconteceu, Aranel estava ali, aos pés da colina, encarando o sol deslizar pelo céu até o oeste – igual a aquele dia. A estação era outono e as estrelas já pipocavam nos céus, brilhantes como pedras preciosas.

Ali, naquela colina, ela se sentou, retezando o corpo e suspirando. A coroa pousava em sua cabeça, o manto cinzento em seus ombros, e os Sapatinhos de Cristal de Doriath em seus pés. Uma angústia pairava em seu coração – um coração pesado e sombrio desde quando Rubel Blatter profanou uma maldição em sua primogênita, Arin Ëll, a 67 anos atrás. E Nel se calara sobre isso desde então – enterrada na sombria maldição, nos fantasmas que um dia perseguiram Blatter, e que, agora, alimentavam-se dela. Mas não sem temê-la. Aranel inspirava e expirava, molhando a boca com a língua e engolindo em seco. Estava ficando cansada.

Seus olhos se ergueram lentamente da grama baixa e percorreram todo o horizonte. Ao longe, beirando a linha do oeste, erguia-se as Montanhas Sombrias, golpeando o céu com seus picos cobertos de neve. Ladeavam a linha vertical da Terra-média, brilhando em cinza e branco com veios negros aqui e acolá. Abaixo vinha o prado, colinas e campinas vastas, cor de caramelo, róseos e amendoados daquela tarde outonal que se seguia lenta e continuamente. Sua saliva desceu rasgando em sua garanta e Nel fremiu os lábios, suspirando mais uma vez. As campinas seguiram até o limiar da Floresta Verde, a Grande. O Reino de Thranduil, agora, cintilava em um tom de esmeralda, os troncos pendiam sinuosos acima do solo – acastanhados e negros – a Antiga Estrada da Floresta estava limpa, reta e curva através das árvores. O calçamento da Estrada foi refeito e agora luzia em tons de branco e bronze, onde postes de aço forjado foram erguidos e fulminavam as chamas douradas de óleo no topo. A estrada agora era segura – assim como toda a floresta. Atrás de sua extensão o Rio cortava o vale; suas águas calmas e cristalinas dividam a campina. Então, nascidas ruidosamente do chão, erguiam-se as poderosas e únicas árvores da Floresta Branca – atrás de Aranel. Seus troncos negros como piche erguiam-se altos e majestosos, e lá do alto, balançando no mesmo ritmo calmo do vento de outono, suas folhas brancas brilhavam na luz vermelha ao pôr-do-sol.

A rainha abaixou a cabeça mais uma vez e acariciou a enorme barriga que possuía. Um sétimo filho. Um sétimo herdeiro. Uma última criança para representar a Casa Vellenmar. Ela sorriu, mas não estava tranquila e nem confiante com o futuro de sua filha. A maldição tornou-se um fardo ainda maior para todos ali. Mas aquela criança em seu ventre nasceria em uma era de paz... e veria o esplendor de Valinor. Aranel respirou fundo e ergueu a cabeça mais uma vez; encarou a moeda dourada reluzente e resplandecente deitar atrás das Montanhas Sombrias, lenta e suavemente, banhando, ainda, o Ermo com seus raios quentes de um dia calmo de outono.

A mente de Aranel corria pelos acontecimentos de 164 anos atrás. O dia em que ela chegou de sua viagem da Cidade do Lago, junto a seus caçadores, e encontrou uma pequena batalha nas portas do castelo. A conversa que teve com a mãe sobre as gemas de poder, e o dia em que conheceu Thranduil e Legolas. Ainda se lembrava do dia em que Silmalótë lhe incumbira a missão de encontrar o ladrão que sabotava seu reino – quase conseguia sentir o vento novamente em seu rosto, os cascalhos estalando sob suas botas e o aroma adocicado da floresta enquanto partia rumo ao sul. Lembrou-se do desagradável encontro com príncipe Legolas e a capitã Tauriel na Cidade de Mín; da comida caseira que experimentou na casa de Melinda, ainda podia ouvir o fogo queimando da lareira e Caesar sentado na sua enorme cadeira – o ferro e a madeira estalando. Lembrava-se de Paola com seus cachos ruivos e os olhos escuros no rosto sério. Aranel engoliu em seco. Melinda, Caesar e Paola a muito haviam partido... Assim como Aragorn, Sigrid, Leon...

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOWhere stories live. Discover now