Capítulo 35🌙As Sombras vindas do Norte🌙Parte 4

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Nota inicial:

Boa leitura ♥

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O Reino Encantado é uma terra perigosa, em que há armadilhas para os incautos e calabouços para os demasiado audazes.
– Sobre contos de fadas (Árvore e Folha),
de J. R. R. Tolkien, 1964

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Parte IV

Ó, não vês aquela estrada estreira

Coberta de urzes e de espinhos?

Pois é a trilha da Honradez,

Poucos perguntam de tais caminhos.

E não vês aquela estrada larga

Que passa pelo campo liso?

Pois é a trilha dos Perversos,

Que chamam de Estrada do Paraíso.


E não vês aquela estrada linda

Que pela escarpa agreste desceu?

Pois leva a bela Terra dos Elfos,

Lá vamos à noite, tu e eu.

A música parou com um suspiro profundo. Aranel ergueu o queixo para a lua e sentiu seu corpo quente, como todas as outras vezes que a admirava, e como sempre costumava fazer em noites como aquela. Porém, naquela madrugada, uma lágrima escorria por sua face e um medo enfadonho esmagava seu coração. As chamas bruxuleavam em torno de si, e refletiam, em seu vestido vermelho, uma cor de sangue intensa; enquanto que seus cachos castanhos balançavam com a brisa quente que soprava da floresta. Ela queria se sentir confortável dentro do quarto, daquelas roupas e, especificamente, sob o peso da coroa, mas não conseguia. Uma sensação terrível se inflamava dentro dela, algo abominável e cruel – de que através daquelas árvores, seu marido e seus amigos corriam perigo. O perigo que até aquele momento ficou escondido dentro das sombras da floresta, e se alimentavam da felicidade estúpida que eles sentiam sempre que conseguiam triunfar sobre o inimigo. Mal sabiam eles, que o pior ainda estava por vir.

— Olhe, devo confessar — A voz dela soou ainda mais autêntica e melodiosa, sob o grosso manto que usava no pescoço. —, é uma bela canção.

Nel se virou e encarou aqueles grandes olhos dourados. Reluzentes e irreais, cor de ouro, brilhavam de modo sério e reservado. Os lábios da Valier se abriram em um sorriso torto, como se não fizesse muito aquilo, e foram estalados. Seu corpo oculto por vestes tão negras que mais parecia um fantasma em meio a luz tênue das velas.

— Devia cantar para os Valar, um dia. — disse-lhe calmamente.

A rainha Aranel mexeu os ombros e olhou para a lua mais uma vez, esperando ela responder, mas se manteve calada, e o vento não soprou, tampouco. Então, voltou-se novamente para Nienna.

Ela mexeu os lábios, contraindo-os e seus olhos brilharam ainda mais. — Está preocupada.

Aranel suspirou, sentindo o peso da realeza e da monarquia cair sobre seus ombros.

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOWo Geschichten leben. Entdecke jetzt