Capítulo 40🌙Não esqueces quem tu és

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Nota inicial:

Boa leitura ♥

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Se nós pudéssemos amar e odiar com um coração tão bom quanto o das criaturas mágicas, provavelmente evoluiríamos e nos tornaríamos longevos como eles.
– O eclipse celta,
de Willian Butler Yeats (1893, 1902)

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Thranduil abaixou os olhos e respirou fundo, sugando todo o oxigênio orvalhado da Floresta Verde, a Grande, que por tantos anos foi chamada de Floresta das Trevas. Mas agora, livre de todo mal, ela estava com seu nome original mais uma vez. E ele devia isso a ela. Aranel Vellenmar. Quando no passado jurou nunca unificar seu reino a Ninquëwood, quando prometeu a si mesmo que a família Vellenmar era, e sempre seria, seu maior e mais odioso inimigo; não pôde imaginar que Aranel se tornaria tão importante em sua vida e na vida de seus súditos. Ela não era apenas a esposa de seu filho, a mãe de seus netos, e não certamente sua aliada política mais forte, mas sim era sua amiga. Porém, ele nunca falaria isso em público. Abaixo de suas botas grossas de couro negro corria uma grama cor de esmeralda e a terra afofada parecia brilhar em tons sutis de chocolate, as árvores, muito altas, subiam e subiam, sadias e acastanhadas. Havia carvalhos e faias, grandes e robustos, inúmeros eram seus galhos, e, macias e perfumadas eram suas folhas. Cintilantes e orvalhadas pelas gotas finas de outono, dançavam com a brisa. E as esculturas escarpadas, incrustadas, e tão bem preservadas, luziam em prata e branco – o mármore estava pouco molhado aquela hora do dia. Ali fora estava calmo, contudo.

Dentro de seus salões, porém, os elfos se divertiam no banquete. O som melódico das flautas, harpas e do piano ecoava pelos salões e através das paredes. Ele ouvia o som das risadas e, do canto suave e macio dos elfos. A festa de despedida de Aranel e Legolas estava perfeita. Mas não para ele.

Como partir sabendo que as pessoas que você mais magoou estão esperando-lhe em seu destino? Ele não queria ir, não suportaria reencontrá-los, pois tudo – todo o rancor e a desgraça que atingiu seu reino nos vários séculos que ele governou, poderia destrui-lo. Thranduil passou a vida escondendo-se da dor que dilacerava seu coração, escondendo-se da vergonha e da sensatez. Resultado disso foi a criação de uma personalidade fria, distante, severa, ponderada e sábia, mas também conturbada, cruel e autoprotetiva. Se muitas vezes ele foi feroz e irredutível era porque aprendeu que, para um rei, seu reino e seu povo são prioridades. Ele foi cruel muitas vezes, mas também foi justo muitas vezes.

A Coroa repousou em sua cabeça quando ainda era muito jovem, enquanto sua atividade favorita era caçar no Ermo junto com Caos. Mas ele teve que aprender na força como governar, como manter seu reino seguro e, como e quando agir em prol de uma causa maior. Porém, em meio aos fantasmas que o assombravam, ele sabia que não havia feito o bastante.

Seus pais, Oropher e Ellora, estavam em Aman, aguardando-o. Mas o que eles iriam pensar? Thranduil, jovem e tranquilo, nem um pouco amargo, prometeu aos pais que nada de mal aconteceria a Floresta Verde, a Grande. E que o acordo com a Floresta Branca seria honrado. Porém, não cumpriu com sua palavra. A Floresta tornou-se o lar das aranhas, das trevas e, em suas terras no sul, tornou-se lugar da decadência e da escuridão. O casamento com Silmalótë foi cancelado, o Acordo rompido, e os reinos que antes eram poderosos aliados políticos, tornaram-se inimigos implacáveis.

Se era culpa dele? Thranduil tossiu e fungou. Ele era o Rei, o Poder no Trono, o Soberano dos elfos silvestres, o único dentre todos que não poderia cometer erros. Mas ele cometera, graves e desastrosos danos que abriram um buraco em seu coração, uma trincheira tão profunda e bem-trabalhada que o fez enterrar-se ainda mais. Como contaria aos seus pais que não foi o Rei que prometera ser? Como encarar os seres que lhe confiaram tal joia?

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOWhere stories live. Discover now