Capítulo 3🌙 Curadores de livros

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Nota inicial: O primeiro e segundo capítulos foram narrados em 1° pessoa para que tudo fosse apresentado, e vocês pudessem sentir um pouco da dor que eles estão sentindo. Voltamos a narração original: 3° pessoa. O capítulo foi escrito com carinho.

Boa leitura ♥

🌙

Está atrasada! — bradou o chefe com os braços cruzados e a carranca obscurecida. Era um homem alto, de poderio antigo, porém, seu rosto era demasiado severo e temível. Sua pele era morena, queimada pelos sóis que pegou em sua vida, e manchada. Por vezes, calejada e arredia, grossa como uma casca de dragão; e era forte. Seus olhos eram claros, como os picos cheios de neve das Montanhas Sombrias, muito a oeste daquele local, e brilhavam de forma cruel. Os cabelos dele eram castanhos e finos. Todavia, ele se assemelha mais a um guerreiro dos homens, do que o Chefe de Educação e Cultura da Nova Esgaroth. Chamava-se Phyllos Vilgor, e era estimado entre os comandantes daquela cidade.

Ele cruzou os braços, encarando Aranel, e bufou.

Nel se encolheu. Apesar da bela aparência, ele era carrancudo e grosseiro. Então, lembrou-se da péssima noite que teve. Não dormiu quase nada, e somente pegou no sono, quando começou a murmurar uma cantiga de ninar. Ela estava, por demasiada, cansada e irritada. Esperava que a restauração do texto do livro lhe ajudasse, de alguma forma, porém, levantou pela manhã ouvindo Sthyrp, o Canário, cantar, e percebeu estar atrasada. Então ela se apressou, entretanto sentia seu corpo dolorido e estanho – pesado como chumbo. Todos os dias, as consequências de ter dormido trinta anos a atormentavam, mas aquela manhã estava sufocante.

Ela subiu os degraus para dentro da biblioteca, e olhou para Phyllos, e respirou fundo.

— Desculpe-me, senhor. — pediu, gentilmente, recebendo um olhar rigoroso em troca. — Não dormi direito a noite.

— Hoje é o seu primeiro dia. — advertiu.

— Disso, sei bem. — disse ela.

— Escuta-me. — ordenou em tom severo. — Não me importa se você dormiu bem ou mal, se caiu da cama ou foi tirada, se foi atacada por vespas ou abelhas, no caminho até aqui, ou não; pontualidade é prioridade para seu cargo. — ele franziu as grossas sobrancelhas. — Que isso não se repita, ou darei o livro para outro curador.

Ele se virou e sumiu em meio as estantes de livros. Aranel suspirou, descontente, e seguiu para os andares inferiores da biblioteca. Era um lugar não muito maior que o salão de festas da Casa Grande de Esgaroth, mas as pessoas que viviam ali gostavam de seus livros de contos, lendas e romances. Nel já havia lido dezenas de livros daqueles, mas havia um em especial que ela gostava mais que os outros – A Lâmpada Mágica, era o nome dele.

Certo dia, Bardon, o bibliotecário mais antigo, riu-se ao vê-la lendo a obra, pela quinquagézima vez, e comentou:

Deixe-me adivinhar. — ele colocou as mãos nas barba branca. —  A Lâmpada Mágica? Já não o leu cinquenta vezes?

Aranel sorria. — É o meu preferido. — comentou ela — Terras distantes, duelos de espadas, magia e um príncipe disfarçado.

Bardon sorria, e voltava a trabalhar.

Nel respirou fundo. O único momento em que se sentia em paz, era quando estava lendo. E esquecia de sua angústia, de sua dor, e de seu terrível destino. Ela só queria entender o motivo de tanto sofrimento, e de definhar em incerteza e maldade, pois em seu coração pairava uma neblina obscura e sombria. E aquilo a consumia.

Lua de Cristal - Ela é do Príncipe - Vol.3 - CONCUÍDOWhere stories live. Discover now