Capítulo 1 | Opostos

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Beatriz

Era apenas mais um dia normal de aulas, normal e cansativo... que tinha chegado ao fim, anunciado pelo toque irritante de saída. Todos festejamos internamente o fim da interminável aula de matemática e saímos. Mais uma vez, a sensação de que não pertencia ali atingiu-me. Eu era a única a vaguear sozinha por aqueles corredores, enquanto os rapazes iam a falar de futebol e as raparigas a comentar sobre o mais novo aluno da escola. Onde raio estava a Luana quando precisava dela?!
No entanto, ao aproximar-me da porta do corredor, vi alguém. Vi-o a ele.
E, como sempre, aquela sensação desapareceu.
Demos por nós sozinhos ali, ambos cansados. Claro, isso trouxe consequências: eu falei e disse o que não devia.
_Olá, professor! - cumprimento-o mas arrependo-me logo de seguida, o ambiente era agora constrangedor. Ele sorri, mostrando as suas covinhas.
_Beatriz! Ainda por aqui? - ele olha para o relógio - O dia foi longo hoje, hum? - rio-me porque ele está na mesma que eu. Levanto o olhar e percebo que ele já me encara. Aqueles malditos olhos...
_Firme e forte! Aquela aula de matemática nunca mais acabava. É um inferno, não percebo como há quem goste daquilo. - ouço uma risada e só nesse momento percebo que estou a falar com um professor e não um amigo...mas para mim ele era ambos, daí eu não ter notado a diferença - Desculpe, distraí-me, não devia ter falado consigo dessa forma. - digo, atrapalhada.
_Não há qualquer problema, relaxa. - aproxima-se - Então queres dizer que não me percebes, certo? - distraio-me enquanto ele fala. Era sempre assim. Parecia que o tempo parava nestes momentos, tudo acontecia em câmera lenta - Estás a sentir-te bem? Bea? - desperto do transe.
_Hum? Estou bem, porque não haveria de estar? - ele solta uma risada nasal - E para que saiba, não, não o percebo de todo.
_E porquê? Não me considero uma pessoa complicada! Aliás, números são muito mais fáceis de entender do que letras. Eu é que realmente não percebo como é que estás sempre com um livro novo a cada semana. - baixo a cabeça e coro.
_Ler é muito benéfico. Já resolver equações não tem outra função a não ser provocar dores de cabeça e desespero. - ele olha para mim e levanta a sobrancelha. Fico a olhar para ele á espera que me contra-argumente, mas não o faz.
Em vez disso, torna a distância entre nós inexistente e passa o braço pelo meu ombro. Baixa a cabeça e sussurra ao meu ouvido, palavras que ficariam para sempre gravadas em mim.
_Pois é...mas sempre se disse: os opostos atraem-se.
Coro, claro. Ele sabia usar as palavras. Sabia fazer-me sentir coisas...que eu nem queria sentir. Odiava-o por isso. Pelo facto de estar tão atordoada, nem comentei nada sobre o facto de estarmos a andar na escola juntos. Até demais. Ao chegar ao parque de estacionamento vejo o meu namorado á minha espera, encostado ao carro. Noto o seu sorrisinho desaparecer ao ver-me sair do edifício com o meu querido professor. Com medo do que pudesse acontecer se eu desse mais um passo sequer continuando lado a lado com o Felipe, afastei-me dele.
_Odeio-o, mas sabe disso, certo? - disse com ironia. Sorriu-me em resposta. Pareceu relutante a deixar-me ir com o Pedro, os dois encaravam-se com tanta intensidade que se isto fosse um filme já tinham os olhos em chamas.
Ao aproximar-me do meu namorado aquela sensação de conforto que eu tinha há vinte segundos atrás desapareceu. De uns tempos para cá, isto acontecia com bastante frequência, bem diferente do início da nossa relação. Ele era muito querido e preocupado, ia tudo ás mil maravilhas, mas depois de eu começar a ter física com o Felipe, muita coisa mudou. Ele tornou-se tóxico e possessivo, era muito sufocante. Assim que fiquei a poucos centímetros dele, o meu pulso foi puxado e ele beijou-me com muita intensidade...agressividade até.
Quando nos separamos os meus olhos estavam marejados e os meus lábios doridos. O meu primeiro impulso foi olhar para trás: vi-o virar as costas no mesmo instante.
O Pedro virou a minha cara para si novamente, com força.
_És minha. - rosnou e abriu a porta do carro, para que eu entrasse, agora sem querer.
Segurei as lágrimas e durante toda a viajem até casa o silêncio tomou conta do carro. Nos meus pensamentos, havia apenas um nome...e um facto:
os opostos atraem-se.
***
A obra está a ser reescrita, espero conseguir melhorar e atualizar com mais frequência!

Bjoo <3

Meu Querido ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora