Celestian

01. Herança

A vida em Celestian não é diferente das antigas "cidades grandes", a diferença é o espaço continental, a Grande Celestian é sustentada nos ares por uma grande força vital, o único jeito de chegar nela é pela ponte que liga a cidade ao ponto mais alto próximo à costa, o monte claro, nas redondezas do vale da Lua. O povo valoriza a arte, e a arquitetura gótica parece que é bem popular entre casas, templos, e até mesmo no castelo real. Por alguma razão, uma nascente brota no meio da área populada e forma um grande rio que percorre as ruas da cidade até chegar aos limites geográficos, caindo e desaguando em 7 pontos diferentes no mar logo abaixo, como se fossem 7 cascatas que rodeiam o lugar.

O dia de Afrody Angel, começa bem cedo, pois as reuniões do parlamento exigem a presença do príncipe herdeiro. Apesar das reuniões serem bem chatas, ele sempre se diverte com seus amigos de infância Shion e Dylan, os filhos do Comandante das C.E.L's (Corporação de Espionagem Liberal) o senhor Shifom, encarregado de zelar pela ordem e paz no continente. No fim de cada sessão no parlamento, o jovem príncipe sempre se reúne com seus amigos, que hoje estavam acompanhados de seu pai.

_Você não tem jeito mesmo Afrody, precisa aprender a dar penas mais duras para os infratores da lei. A sua "pena" vai acabar corroendo o tecido social que a CEL's é encarregada de manter. - disse o senhor Shifom, em um tom de reprovação.

_Eu acho que um futuro rei deve agir com misericórdia para com todo o seu povo! Que tipo de rei eu seria se mandasse todos para o exílio imediatamente, como você e os parlamentares sugerem? - respondeu Afrody.

_Mas você está aqui para aprender a governar, os parlamentares sempre escutam suas objeções e acabam relevando as penas, imagino como será quando você assumir o trono! - retruca Shifom.

_ Relaxa papai! Você agora quer ensinar o reizinho a governar? Ele tem sangue real, não nos decepcionará. E Além disso, é a melhor escolha na linha de sucessão, você não quer a senhora, digo, senhorita Relva dando ordens não é mesmo?. - Disse Shion debochando de seu pai.

_ Qual o problema com a tia do Afrody? - Pergunta Dylan à sua irmã.

_ Acho que o papai pode responder essa, não é papi? - Responde Shion jogando a responsabilidade para seu pai.

_ Aquela mulher não tem um pingo de decência, o reino certamente viraria um bordel! Que as estrelas nos livrem de tamanha desgraça! - Disse o senhor Shifom, envergonhado.

Os dias tem suas partes boas, como essa. O Senhor Shifom é bem rígido, mas assim como todos no reino, ele só está preocupado com o futuro. Desde que os antigos reis morreram, todos colocam muita expectativa sobre Afrody, e a única família que ele tem é sua Tia Relva, que o leva para sua casa todas as sextas-feiras para distraí-lo das "bobagens" do castelo.

_Tia você acha que a mamãe teria feito o mesmo que eu? - pergunta Afrody meio triste.

_ Afrody, você não tem que se preocupar com o que o Shifom ou os parlamentares te dizem, o futuro rei é você mas você ainda é um menino. Sua mãe teria orgulho do homem que você está se tornando, porque como ela, você vê luz em todos a sua volta, e isso faz com que suas atitudes reflitam misericórdia. - Responde Tia Relva.

_ Sabe... os dias que eu mais gosto são aqueles que eu posso sair do castelo e vir pra cá, parece que os problemas não conseguem me alcançar aqui. - Diz Afrody um pouco mais animado.

_ Bom, você pode vir quando quiser! Meu casebre é teu casebre, Ó honorável Sobrinho! - Brinca Relva passando a mão na cabeça de Afrody.

_ Você é a melhor tia! Quando você vai me ensinar seus dons ultra mega fantásticos? - Pergunta Afrody todo empolgado.

_ Eu já te disse que minhas habilidades não são para Jovens como você. Além disso, eu já te ensinei alguns truques. quando chegar a hora você vai despertar sua individualidade hereditária, que provavelmente será a do seu falecido pai, e então você vai treinar com o Dylan e os outros meninos da CEL's para aprender a usar a energia vital. - Explica Tia Relva.

_ Porque provavelmente vou herdar a individualidade do meu pai? O que ele tinha de tão especial? - pergunta Afrody.

_ O grande Rei Celsius, sua força física era tamanha que ele podia levantar um golem de pedra com uma das mãos, sua arma era a espada da luz ofuscante, tão pesada quanto luminosa, poucos conseguiam empunhá-la e menos ainda dominar seu poder. Assim como são os homens que definem o sexo dos bebês, eles também definem suas individualidades hereditárias na maioria das vezes. Isso acontece porque seu corpo físico influência na força vital que está em você. - Responde Relva.

_ Mas e a minha mãe, a rainha Clérion, sua irmã, o que ela podia fazer? - pergunta Afrody bem animado.

_ A minha irmã, bem... ela herdou as habilidades da sua vó, ela podia movimentar as coisas com a força do pensamento e fazer barreiras invisíveis para proteger a si mesma, ou algo que ela quisesse proteger. Muitos diziam que a personalidade dela era tão forte que até a própria matéria a obedecia se ela a mandasse se mover. Mas na verdade, eu acho que a matéria a obedeceria por sua docilidade e gentileza ao pedir. Enquanto eu, apesar de ser mulher, herdei as habilidades do seu avô que veio de Lunia para cá, ou seja, o gosto por poções e remédios naturais. - Explica Relva enquanto olha para o céu e sente a nostalgia das lembranças tomarem conta de si.

As coisas iam normalmente bem em Celestian, e depois de toda essa conversa com Afrody, a senhorita Relva convenceu os parlamentares a enviarem seu sobrinho para uma missão de diplomacia em Lúnia, para entregar mil litros de água. Acontece que a água que brota da nascente de Celestian é totalmente livre de outros resíduos, a água é purificada e consumível. Por essa razão, os reinos comercializam entre si, enquanto Celestian fornece a água purificada, Lúnia paga com remédios naturais que são feitos dessa água. 50% da água que é enviada, retorna para Celestian em forma de medicamentos.

Os parlamentares concordaram que Afrody fosse pessoalmente entregar o suprimento de água para Lúnia, e para isso encaminharam para a CEL's uma ordem para que disponibilizassem dois agentes para acompanha-lo nessa missão. Por conveniência e afinidade o Senhor Shifom achou melhor enviar seus próprios filhos para acompanhar o futuro rei, e assim estava tudo pronto para que Afrody iniciasse sua primeira aventura fora dos muros do castelo.

Mas não era só Afrody que estava pronto para fazer seus primeiros movimentos. Enquanto tudo isso acontecia, em uma gruta distante três seres das trevas tramavam seus futuros feitos...

_Chegou a hora minhas irmãs, de começarmos a agir... O selo que nos prendia já está fraco o suficiente, acordem de seu sono e unam seus poderes aos meus!

_Para isso precisaremos recuperar nossas forças, o meu corpo já não produz energia vital como antes... se sairmos deste exílio sem o sincero perdão da rainha vamos ficar nessas formas deploráveis para sempre!

_ A Rainha já morreu, eu posso sentir! Não sinto mais sua presença em nenhuma parte do selo que nos mantém aqui. Estamos aqui a muito tempo, os reis e rainhas do passado já não devem mais existir.

_ Talvez se visitássemos aquele lugar..., mas nesse caso haveria uma pequena pedra no nosso caminho, aquele lagarto velho não deve ter morrido, ele é conhecido por sua longevidade.

_ Isso é fácil, vamos removê-lo em um ataque surpresa. Mas antes, este selo maldito!

_ Conclamamos juntas as forças do universo, que as trevas da noite se unam à escuridão de nossas almas e destruam esse raio de luz que nos aprisiona. Selátus Escurêcerus!