39. A Discípula Viandante

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Em Animarium, todo o povo se preparava para uma verdadeira guerra, as tribos aceleravam a confecção de armas, e os animais afiavam suas presas e garras. Todos estavam cientes da luta iminente após o último discurso do rei Terano, que retornara dos mortos para lidera-los neste combate.

_ Soberano, tudo está acontecendo como planejado. Eu mesmo estou supervisionando cada tribo para que nossa força militar seja ampliada o mais rápido possível! – Diz o Conselheiro-mor Nilo, enquanto reverencia Terano assentado em seu trono feito dos galhos do castelo suspenso.

_ Ótimo! E nossa arma mais poderosa? Não teremos a mínima chance de vitória se entrarmos no combate sem ela. – Diz Terano.

_ A fé do povo continua acesa, e a história da antiga irmandade está sendo recontada nos refúgios tribais A, B e C, a fim de que alcance todas as pessoas e renove-lhes a crença nos irmãos ancestrais, em especial o nosso primeiro rei, o lendário irmão Ânimus. – Diz Nilo, de cabeça baixa e pausadamente.

_ Você cresceu como pessoa, Nilo... é muito bom ver toda essa esperança fluir do seu coração e transbordar pelos seus olhos. – Diz Terano.

_ Se cresci como pessoa, foi tudo graças à você, meu rei, que nunca se poupou de nenhum esforço para converter o meu coração e cultivar nele a fé na antiga irmandade. – Diz Nilo, enquanto deixava algumas lágrimas caírem ao chão.

_ Eu não a cultivei, Nilo. Apenas reguei e esperei que crescesse, agora vejo que ela finalmente está dando frutos de sabedoria. Mas levante a cabeça e seque suas lágrimas, ainda há muito trabalho a ser feito, e eu estarei com você, assim como estarei com meu povo. Por vocês eu vivo e enfrento até mesmo a morte, como já o fiz e faria novamente se fosse necessário. – Diz Terano.

_ De fato, você a enfrentou e saiu vitorioso! Mas a vitória desta batalha, apesar de vantajosa, não será suficiente para ganhar a guerra que está por vir, você sabe disso, não é Terano? – Diz o Oráculo de Animarium,que acaba de chegar à sala do trono.

_ Não cabe a mim ganhá-la, mas talvez possamos ajudar a equilibrar essa balança. Na verdade, estou convicto de que isso deverá ser feito. – Diz Terano.

_ Senhor? – Indaga Nilo, confuso com as palavras do soberano.

_ Nilo, vá averiguar novamente o andamento das coisas. O Oráculo e eu temos
alguns assuntos a tratar. – Diz Terano.
_ Sim senhor, agora mesmo! Com sua licença. – Diz Nilo, se retirando da sala.

_ Agora que estamos a sós, me diga Terano, como burlou minha profecia e ressurgiu das cinzas? – Pergunta o Oráculo.

_ Eu lhe disse antes, e torno a dizer, você estava certa e sua profecia também. Para vencer a morte, eu precisei antes acolhê-la, e foi essa antecipação que me permitiu estar aqui agora. Mas algo me diz que você já sabe dos detalhes, por que insistiu em vir me perguntar diretamente? – Pergunta Terano.

_ Algumas coisas precisam ser ditas em voz alta para que a força de tais palavras garantam a concretização de um futuro acontecimento. – Diz o Oráculo.

_ Então você teve outra visão? – Pergunta Terano.

_ Sabe, Terano, as estrelas revelam coisas a quem elas desejam revelar, especialmente àqueles que lhes são devotos. Entretanto... por mais devoto que alguém possa ser, elas jamais dirão a esse alguém o que o futuro lhe reserva, mas o que ele reserva a outros, a fim de que tudo aconteça como deve acontecer, da melhor forma possível. Em toda a minha longa vida, eu fiz muitas previsões, e vi todas elas acontecerem exatamente como previ que aconteceriam, porém você, tentando fugir do resultado de minha profecia, encontrou uma maneira de transformar aquilo que seria o seu fim em um novo começo. Há muitos anos, venho sendo coadjuvante nessa história, mas eu já me cansei, eu aprendi a amar este mundo, este continente e as pessoas que habitam nele... eu quero protegê-lo! Então sim, eu tive uma visão... a guerra para a qual você está se preparando... ela começará aqui, em Animarium! – Diz o Oráculo.

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