A Brand New Day | TAEJIN

I - A New Place

A brisa que bateu em meu rosto há três manhãs, completamente fresca e exalando cheiro de sal, já me fazia sentir saudades de casa. Em todos os meus 20 anos de idade, eu jamais saí das Províncias Praianas, onde cresci brincando nas areias quentes das praias e me molhando com a água salgada do mar. Era triste o fato de estar me deslocando por dias dentro de uma carruagem para o Norte, muito longe do litoral Leste, apenas para cumprir com um papel que eu sabia que não me definia por completo, no entanto eu não tinha escolha a não ser acatar calado e permanecer firme nos propósitos que meu pai havia declarado a mim.

Eu podia ver claramente o misto de sentimentos diferentes nos olhos de meus pais e de meus dois irmãos. Jungkook parecia um tanto animado enquanto em seus devaneios imaginava os Alphas que encontraríamos na Província da Nevasca. Sendo o mais novo e mais ingênuo de nós, casar-se com um bom Alpha e constituir uma família lhe parecia um sonho. Yoongi, meu irmão do meio, permanecia sério e neutro, não era fácil lhe ler por trás dos cabelos escuros e escorridos que lhe tapavam os olhos. Já eu não estava de todo feliz, mas tentava ao máximo esconder meu nariz torcido e os calafrios que já me tomavam a cada vez que nos aproximávamos mais do Norte.

Complicada era a palavra exata para definir a minha situação, uma vez que eu era totalmente contra aquilo, mas era simplesmente fora de questão discordar das convicções do Rei das Províncias Praianas. Eu deveria ir até o Norte, conhecer a família real e escolher um dos três príncipes Alphas, então algum tempo depois me casar e ser marcado, assim fazendo jus aos planos políticos de ambos os monarcas. Era claro que aquela escolha não era nada pessoal e muito menos íntima, era tudo um jogo de interesses onde ambos os reis saíam ganhando e eu, na posição de um Ômega que só servia para copular e ter filhos, só saía perdendo.

Eu não fazia ideia de como eram os três filhos do rei nortista, mas sabia que eram Alphas, então já estava mais do que ciente de que tudo o que eles queriam comigo e com meus irmãos eram satisfazer suas necessidades de Alpha e nada mais. Não achava que seria possível de fato me apaixonar por um deles, principalmente porque eu não queria.

No entanto eu estava em um beco sem saída, um túnel sem luz no fim. Olhava para o rosto impassível de minha mãe, que permanecera calada durante toda a vida e agora também, mas não encontrava saída e conforto algum. Não que ela fosse uma mulher fria e muito menos não nos amasse, contudo ela também não tinha no que opinar, afinal, também era uma Ômega. Nós não deveríamos opinar, falar, discutir e muito menos discordar. Nosso papel era apenas concordar com que os Alphas diziam, lhes dar o que queriam e permanecer sorrindo.

— Estamos chegando — meu pai bradou, fazendo-me olhar ao longe.

Era feio. Aquele lugar era simplesmente um poço de tristeza. Depois de uma montanha sinuosa, uma nuvem escura cobria o céu e a neve implacável caía do céu de maneira infindável. A Província da Nevasca era menor que o litoral, mas por meus conhecimentos, era ainda mais pobre no quesito população. Era um lugar de clima esquisito, onde por três meses nevava, três meses não, fazendo assim o ciclo anual ser conturbado, pois o tempo hábil para o plantio era ruim e os cidadãos tiveram que optar por outros meios para se sustentarem. A caça selvagem e o corte das madeiras provindas dos pinheiros eram seu maior sustento, mas claro, os maiores e mais saudáveis animais nunca iam para as mesas das famílias das vilas em volta do castelo, e sim direto para a barriga dos monarcas, sendo assim, a fome da população ainda era grande e a miséria também.

E aquela seria a minha casa depois que eu escolhesse meu Alpha. Talvez não sentir mais os ventos, a areia quente, a água salgada e a maresia fosse meu pior castigo, claro, depois de me casar com alguém que não conheço. Eu estava fadado a olhar para aquela paisagem aterrorizadora e sentir aquele frio descomunal pelo resto de meus dias.