O tempo que podemos ter

Farpas: parte 2

Não era possível dizer quanto haviam conseguido atravessar em meio a tanto gelo e branco. Mesmo com as duas mulheres presentes dizendo que estavam chegando, não era fácil acreditar sem poder ver nada mudar ao redor a não ser as estátuas de lobo em posições diferentes ao longo do caminho.

Por fim a noite já começava a cair e o acampamento deveria ser erguido com todas as magias necessárias e proteções, o que levaria algum tempo, então ao pôr do sol, Zhen Jiahui e Feng Xin andavam ao redor espalhando matrizes de proteção e barreiras, enquanto os outros quatro moviam a neve para criar dunas e barrar o vento da madrugada.

Com as barracas erguidas e a fogueira acesa, o grupo se sentou em roda enquanto Mu Qing e Chang Dasong preparavam o jantar na panela de ferro pendurada acima do fogo. O cheiro do caldo se espalhava e despertava o apetite, mas ninguém se atrevia a se aproximar e roubar um pouco antes de ficar pronto com aqueles dois protegendo tudo como se fossem lobos sobre a presa.

Quando o caldo ficou pronto, Mu Qing e Chang Dasong foram os primeiros a se servir, deixando que os outros pegassem por si mesmos suas partes, fazendo Zhen Jiahui rir achando novo e divertido não ser servido ou paparicado, mas ele não esperava ter de brigar por um pedaço de porco com Feng Xin quando se levantaram juntos para pegar suas porções.

— Se virarem a panela, eu juro que farei irem caçar no meio da madrugada cada ingrediente! — chiou Mu Qing sem nem mesmo os olhar, tomando seu caldo calmamente.

— Como se você pudesse. — disserem os dois homens parando de brigar e o olhando com desdém.

Mu Qing finalmente os olhou e piscou antes de sorrir parecendo gentil e voltar a beber seu caldo. Zhen Jiahui não achou que o ato deveria ser classificado como perigoso, mas mesmo assim sentiu que deveria tomar cuidado para não virar aquela panela.

— Manipulador de merda. — chiou Feng Xin movendo a concha com cuidado na panela para não deixar nenhuma gota cair.

— Mo-xiong, está muito bom! — disse Ming Tong claramente sendo sincera, os olhos brilhando. — O shixiong é realmente habilidoso!

— Muito tempo de prática. — disse Mu Qing sem querer se vangloriar de uma habilidade que nunca sequer quis ter de aprender, mas que foi obrigado.

— Mesmo assim! Está digno de um palácio! — elogiou a mulher.

— Ele já cozinhou para a realeza. — explicou Feng Xin se sentando relativamente distante de Mu Qing naquela roda, com Chang Dasong entre eles. — Teve de aprender a fazer algo que os agradasse...

— Ora, que interessante. — disse Zhen Jiahui olhando para Mu Qing e provando o caldo. — Realmente! Fuyao! Você quer ir para meu palácio cozinhar para mim?

— Não. — cortou Mu Qing seco virando a vasilha em sua boca.

— Que mal humor! Foi apenas uma brincadeira! — reclamou o homem franzindo o nariz.

— Ainda tem minha resposta. — disse Mu Qing o olhando e Zhen Jiahui estreitou os olhos bufando e comendo seu caldo. — Não gosto de cozinhar. — disse ele pegando um pedaço de carne entre os dedos e a mordendo.

— Meu shizun detesta cozinhar. — explicou Chang Dasong prestativo e olhando gentilmente para as mulheres e o líder de seita. — Mas ele detesta ainda mais comer comida ruim. Senhora Feng possui mãos encantadas para comida, então ele não se preocupa em casa, mas todas as missões que estivemos, ele faz questão de cozinhar.

— Isso é por trauma. — riu Feng Xin.

— Não seria se você tivesse me ajudado. — disse Mu Qing colocando a sua vasilha perto da fogueira. — Irei me retirar. Chang Dasong, você dividirá a barraca comigo.