A fazenda: Parte 5

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Quando Mu Qing acordou, a primeira coisa que ouviu foi o choro de uma criança. Deus apertou os olhos e os abriu devagar sem enxergar nada à sua frente, sentindo a cabeça doer e não conseguia mover as mãos para tentar se levantar. Ele soltou um murmúrio de dor e piscou algumas vezes, tentando fazer seu cérebro perceber que ele havia acordado. Sua boca tinha gosto de sangue e algo queimado que o estava dando um enjoo forte e por fim, seu corpo pareceu se mover em um espasmo e ele se apoiou em um dos braços para vomitar.

Recuperando o ar e se sentindo um pouco melhor, ele ergueu a cabeça e olhou diretamente à frente, arregalando os olhos para um pagode em chamas e corpos despedaçados espalhados a esmo pelo pátio do templo, agora destruído.

— O que... — começou a dizer com a garganta dolorida, mas sua voz saiu quebrada, tão baixa que ele mesmo mal ouviu.

— Deaozang Mu! — disse a voz de uma mulher e Mu Qing sentiu uma mão gelada em seu ombro. — Você está bem? Consegue se levantar?

Com dificuldade, ele tentou forçar o braço para erguer o corpo, mas apenas tremeu e caiu em cima da própria sujeira, soltando o choramingo de nojo e repulsa. Ele apertou os olhos tentando engolir a vontade de vomitar de novo e se concentrou, fazendo a energia espiritual correr por seu corpo apropriadamente para reaver o controle completo, se sentando devagar em seguida.

Ele encarou o chão onde estava, sem conseguir erguer os olhos direito pela claridade do fogo, reparando que a grama estava cheia de sangue, vômito e fuligem. Com uma careta, ele fechou os olhos de novo e ergueu a mão para a própria cabeça, tocando um lugar na parte de trás que latejava, sentindo ali um hematoma alto e uma crosta formada de sangue e cabelo.

— O que aconteceu? — questionou sem conseguir se situar e encolhendo os ombros para um grito repentino ao longe, mas que se encerrou do mesmo jeito que começou.

— O Zhu Xintong apareceu... — disse a mulher e Mu Qing a olhou, descobrindo ser Wu Wanli, mas sua voz estava tão rouca que ele nunca a reconheceria apenas por seu tom. — Ele... Ele queria Guang, ele mandou os servos a sequestrarem! Meu marido... aquele filho da puta... — Wu Wanli franziu o nariz e seus lábios tremeram. Mu Qing pensou que ela choraria, mas seu tom apenas se carregou com ódio quando ela continuou. — Aquele filho da puta Wu SiGon! Ele me prendeu em casa! Entregou nossa filha a alguns servos e os seguiu para o templo do demônio Zhu Xintong! Eu fui torturada por Huamei, aquela desgraçada, se não fosse por daozhang Feng... — Wu Wanli encolheu os ombros.

— Feng Xin... — murmurou Mu Qing ainda tentando recuperar as memórias, mas tudo era uma confusão de gritos. — Onde está Feng Xin? — perguntou calmamente e a mulher retesou os ombros, tremendo.

— Ele... eu não sei o que aconteceu com ele. O demônio Zhu Xintong deve ter feito algo... ele não parecia ele mesmo... — disse a mulher evitando os olhos de Mu Qing e ele franziu as sobrancelhas.

— Onde ele está? — Questionou mais firme e Wu Wanli apontou trêmula para o pagode em chamas. — Ele está ali? Ainda há monstros?

— Não... todos foram mortos. — disse a mulher engasgada e Mu Qing a encarou estreitando os olhos para ver melhor.

Em seus braços havia um embrulho pingando sangue e ela o apertava com força contra o peito.

O peito de Mu Qing afundou e imediatamente ele se moveu para perto, arrastando as pernas que estavam demorando a responder ao estímulo e arrancou o embrulho de seus braços com violência, rasgando os panos como se fosse uma fera.

Quando os olhos grandes e marrons de Guang o olharam, a menina riu soltando um balbuciar, alheia a toda a situação, parecendo muito feliz em ver os cabelos brancos e imundos de Mu Qing caírem sobre seu rosto e os agarrar.

O tempo que podemos terWhere stories live. Discover now