Grand Line, Acampamento em Woo Pululu (Jogos Piráticos)

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A luneta ampliando a visão não mentia: a praia da próxima ilha estava cheia, porém não de habitantes normais, e sim de piratas. Os piratas, aliás. Sua respiração ficou travada por alguns segundos, antes de soltar uma sôfrega lufada de ar: por que, dentre todos que navegam pelos mares, estava destinado a encontrar-se com Pieri novamente? Depois de tanto tempo evitando a insanidade dos mares, Hanzo nunca pensou que poderia desejar ficar louco. Tinha certeza de que não a veria tão cedo, já que postergaram na ilha anterior pelo máximo de tempo que puderam, aproveitando para resolver as formalidades da Marinha, receber seu pagamento e, finalmente, cortar seus laços; contudo, cá estavam, há quase um quilômetro de distância — mas isso já era mais perto do que gostariam.

— Me dê essa bosta aqui! — disse Kaze, o empurrando para o parapeito enquanto tomava o instrumento de suas mãos para olhar o além mar. 

Hanzo sentiu o desequilíbrio após o ricochete e também sentiu a idade quase o jogar para o mar, no entanto, isso não foi o bastante para tirar a atenção da praia e ele continuou a espremer o único olho para enxergar melhor. Yun, por sua vez, nem deu bola ao desconforto de seu capitão, e mal teve tempo de vislumbrar a ilha antes que seus olhos fossem capturados pela imagem imponente do Diabo Negro e, sobretudo, pela presença infame de Franz, que tomava sol deitado nas escamas metálicas do submarino. Involuntariamente torceu seus lábios para baixo para evitar o sorriso de genuína felicidade que teimava em se formar. Eles estavam de volta, pensou consigo mesmo: a empolgação de rever seu único amigo era algo que não poderia segurar. 

Finalmente, há alguns passos de distância, Fang jogava paciência na mesa externa, bastante distraído ao que se dava na proa do navio e, no cesto do mastro, Sherikan segurava a própria luneta, analisando a ilha em seus próprios termos. O submarino exuberante brilhava com os raios do amanhecer, mas, ainda mais chamativo que ele, havia ao seu lado uma segunda embarcação ancorada no cais que, ao basear-se nas reações dos piratas do deque, pensou que só ele teve o desprazer de reparar. Não notou bandeira, tampouco velas, entretanto teve certeza de que não era abandonado quando, ao longo do píer, viu além de Pieri uma outra garota correndo em polvorosa, sendo escoltada por mais alguns tripulantes de roupas de inverno. Não era preciso de muito para perceber que eram igualmente forasteiros: ele não precisava colocar os pés lá para saber que, seja lá onde estivessem, se tratava de outra baía tropical e usar roupas tão quentes era o equivalente ao suicídio (e, diga-se de passagem, qualquer imbecil era capaz de reconhecer turistas quando os viam, então não havia porque comemorar mérito em ser medíocre).

Passando por isso, e ainda de olhos nos desconhecidos, Sherikan se atentou àqueles que conversavam já na praia: uma mulher de cabelos curtos e negros cumprimentava de maneira bastante incisiva Yolanda, segurando suas duas mãos e ameaçando beijar cada uma delas, enquanto um homem loiro conversava com Apollo, oferecendo-lhe algo. Não teve jeito: ao observar aquela cena, sem nem pensar duas vezes, apoiou seu tronco ao parapeito e berrou descomedido aos confrades: — Fang! Encontramos seus namorados! E estão paquerando os dois!

No que lhe diz respeito, o navegador apenas levantou os olhos, revirando-os, e com um suspiro pesado, abandonou as cartas na mesa: estava a algumas rodadas de finalizar o jogo, porém não poderia deixar que Sherikan continuasse a falar besteiras no convés. O garoto estava empoleirado como uma galinha e os cabelos brancos e soltos tapavam boa parte de seu rosto por causa do ângulo, mas não era o bastante para esconder o sorriso maroto de quem espera por uma resposta. Que mal tinha manter contato com Yolanda e Apollo?, Fang amaldiçoou para si mesmo, crispando os lábios ao lembrar-se que deveria ter sido mais cuidadoso quando usava o caracol comunicador de Yun para contatar os amigos, sobretudo perto do espadachim, que se tornava um conhecido fofoqueiro quando estava por tempo demais no mar.  Era erro dele, afinal. No mais, além de ser alguém bastante seletivo com amizades — o que por si só era motivo o bastante para deixá-lo em paz quando achava alguém que se identificava —, era um peixe especialmente livre; adulto, dono de suas próprias barbatanas e que, claro, poderia fazer o que bem entendesse de sua vida sem dar satisfações a ninguém... mas quem disse que uma explicação lógica dessas era o suficiente para sanar as dúvidas de uma mente entediada? 

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