Grand Line, praia (Pulvereta)

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Um pouco mais cedo naquele mesmo dia, a paz reinava na Carniça, e nem mesmo os miados mais altos de Belka, resmungando por qualquer coisa que fosse no andar de cima, poderiam tirar Bertruska de seu nirvana pessoal

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Um pouco mais cedo naquele mesmo dia, a paz reinava na Carniça, e nem mesmo os miados mais altos de Belka, resmungando por qualquer coisa que fosse no andar de cima, poderiam tirar Bertruska de seu nirvana pessoal. Quem diria que teria tamanho privilégio logo de manhã? Estava à poucos metros de sua musa, observando-a após sair do banho enquanto penteava seus cabelos com tranquilidade e cantarolava alguma canção relacionada a morcegos que havia acabado de inventar. Sem dúvida alguma, um anjo incompreendido. Junto das liras sacras — que certamente só ela, em toda a sua maluquice, poderia ouvir —, sua vozinha sombria lhe aquecia o peito e, claro, seu corpo semi-exposto lhe dava arrepios na nuca, imaginando que, por baixo daquela toalha, apenas a felicidade lhe aguardava. Tendo sido marinheira por tanto tempo, sabia que não deveria se deixar seduzir daquele jeito, mas, bem... Conscientemente havia escolhido se afundar no mar com aquela belíssima sereia.

Contudo, como não poderia ser diferente para aquele bando, nenhuma calmaria durava muito e, sem dó nem piedade, seus delírios foram interrompidos por um súbito salto de Merin, que mesmo após deixar sua toalha cair no chão pelo susto, pretendia correr exasperada em direção a cozinha, a fim de auxiliar seu amado médico que agora era alvejado pelos gritos furiosos do cozinheiro.

Ao ver aquela sem-vergonhice (isto é, decerto correr nua por aí era um sinal de pureza, tendo em vista que na vida selvagem isso era visto como aceitável, mas, droga, estavam em um barco pirata, não no meio da floresta, e tampouco num bordel!), Bertruska sequer titubeou em agir: se levantou do beliche no mesmo segundo que a mulher azul ameaçou abrir a porta do quarto das mulheres e fez o que toda mãe deveria fazer quando sua cria inicia uma crise de birra: tomou-a pelos ombros e a guiou de volta ao banquinho da penteadeira — de onde nunca deveria ter saído —, colocando-a de castigo.

— Termine de se trocar, e depois você vai ver o que aconteceu. — disse a ela, com um semblante sério. A índia pensou em dar uma resposta, explicando o porquê de ser imprescindível ir atrás de seu amado, mas o olhar sobre si secou sua garganta e não pôde responder.

No andar de cima, houve um pequeno minuto de silêncio, e em seguida os gritos se intensificaram — com o adendo de que, dessa vez, Poyo havia se juntado ao coro e chorava alto também.

Era sempre assim: quando a capitã resolvia se meter em uma briga, começava a chorar, e a partir daí todos os sentidos de Merin se embaralhavam, a impedindo não só de patrulhar o mar como também, bem mais importante que isso, de monitorar o que seu amado fazia e por onde andava. Sentada na banqueta, travou cada centímetro de seu corpo, concentrando-se apenas em reencontrar seu morceguinho em meio aos berros desesperados, mas infelizmente não conseguiu. Enquanto convivesse com aquela matraca, jamais serviria como o amplificador que deveria ser — ou que esperavam que fosse, que seja. Num suspiro cansado e de sobrancelhas franzidas, apenas uma coisa vinha a sua mente: "De que adiantava ter uma habilidade se a fraqueza desta estava a poucos metros de distância?"; Poyo era o pólo oposto de sua habilidade, e como duas forças contrárias, se anulavam mutuamente. Mordeu os lábios com força. Queria eliminá-la.

Prisão de GatoWhere stories live. Discover now