Grand Line, Montanha Reversa (Reverse Mountain)

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— COLOCA TUDO NA MESA QUE MINHA BARRIGA TÁ NERVOSA, FLINT! — exclamou Bertruska, a primeira a colocar a cabeça para fora do alçapão. Em seguida vieram Poyo, Merin e Belka, nessa ordem.

No entanto, ao subirem para a sala de refeições, não havia uma mesa posta como o habitual para esse horário: isso porque, enquanto Belka e Poyo já tinham a primeira cama montada e foram dormir antes de todo mundo, sobrou para os homens não só montar a beliche de Merin e Bertruska (que ao menos puderam dormir um pouco), como também a deles. O resultado disso era um cozinheiro acabado atrás da bancada da cozinha, com os olhos fundos de quem não dormiu e, evidentemente, nada de comida feita (ou do médico).

— Podem fazer outra coisa enquanto isso, eu nem comecei — diz o homem, calmamente lavando os ingredientes que usaria para a refeição. Em sua bancada haviam algumas frutas já limpas, grãos, ovos e leite (uma iguaria que nem sempre tinham acesso em alto-mar, era hora de aproveitar).

— Como assim não está pronto? São sete da manhã! — a ex-marinheira vocifera indignada, mas não teve tempo de obter uma resposta pois Belka saiu atropelando sua fala:

— Quanto tempo?

— Não muito. Uns quinze minutos, vinte no máximo.

— Não é o suficiente para içar as velas, então. — Belka conclui. — Vamos esperar aqui mesmo, te fazer companhia — e deu uma risadinha ao ver Flint erguer uma das sobrancelhas, claramente consternado com aquela afirmação: mesmo que fossem da sua tripulação, não se dava bem com mulheres no geral.

Indiferente, a gata deu uma reboladinha, se preparando para saltar e tomar seu lugar de direito: a banqueta da cozinha americana. Uma vez sentada, cruzou as pernas como se fosse a madame mais chique de todas — de fato era, naquele navio — e somente ergueu a pata dianteira, esperando que o cozinheiro entendesse seu gesto. Flint suspirou; ela queria seu primeiro drinque do dia. Em que momento havia se tornado empregado daquela gente?, se perguntou, enquanto já ia secando as mãos na dólmã para ir buscar uma taça e garrafa de rum (afinal era um escravo muito treinado; desde criança teve dez montados em suas costas).

Colocou-as na bancada e despejou, sem pressa, até que ficasse a um dedo do limite. Antes de voltar a comida, Belka lhe pediu para colocar açúcar na mistura, para rebater o álcool, e então teve de outra vez largar seu posto para procurar entre os armários de condimentos (aprendera da pior maneira que não era bom preparar nada com açúcar no café da manhã da capitã).

— Por que a Belka tem prioridade e eu não...? — resmungou Poyo sentada, se esparramando na mesa principal.

— Porque ela é mais velha que você — Flint respondeu, ignorando os olhos furiosos que foram direcionados a sua cabeça.

— Mas eu tô com fome... — a menininha diz.

— Se você esperar, vai ficar com ainda mais fome e poderá comer mais! — ele respondeu em tom divertido, sem dar a menor importância quanto a veracidade dos fatos, apenas queria evitar gritos descontentes da pirralha.

Poyo se calou, enquanto coçava a cabeça com uma das mãos, completamente aflita: conseguia ver total sentido no que Flint falava, entretanto estava irritada em demasia com o cozinheiro para dar-lhe razão sobre algo. Resmungou calada, pensando em alguma forma de rebater, mas nada além de "imbecil" e um dar de língua passava por sua cabeça. Era uma tolinha, afinal. Uma tolinha completamente faminta.

Os minutos passaram arrastados depois disso, se alongando ainda mais com o cheiro embriagante que vinha da cozinha. "De quem foi a ideia de fazer uma cozinha embutida na sala, afinal?", Poyo se questionava; se pudesse, o mataria. Quando finalmente a comida veio a mesa, tinha certeza de que estava no meio de um delírio, de tão faminta que estava. Flint pôs as travessas em sua frente e, se não tivesse sido tão rápido, com certeza teria perdido o braço junto (porque, de repente, ele parecia um delicioso salsichão nos olhos da capitãzinha). Não obstante, o cozinheiro só andou em direção ao balcão, acendendo o segundo cigarro do dia — aquele que somente se permitia apreciar após servir a tripulação — e deliciando-se com a primeira tragada se juntou a gata, servindo a si mesmo uma grande xícara de café. Para ele, enquanto Bertruska e Poyo se digladiavam pela garrafa de melaço, era mil vezes preferível ficar ao lado de Belka, onde não correria o risco de ser acertado por nada ou, na pior das hipóteses, também virar refeição.

— Você não vai comer? — a imediata interpela, mexendo o conteúdo de sua taça ao mesmo tempo que fisgava um morango com suas garras afiadas.

— Você já devia saber, não tenho o costume de comer minha própria comida. — explicou, sem rodeios.

— Mas deveria — Belka o encarou pelo canto dos olhos — Saco vazio não fica em pé, e hoje em especial, o dia será bem cheio. Principalmente para ti e o senhor sabe bem disso.

— Ora, diga isso para a vagabunda, então. Não para mim — o cozinheiro deu um trago (ignorando o comentário sobre suas obrigações). A gata ergueu uma sobrancelha, olhando para trás.

Prisão de Gatoحيث تعيش القصص. اكتشف الآن