East Blue, alto-mar (Dawn Island)

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Estavam organizados em uma fila indiana, correndo pela praia em direção ao barquinho. Poyo era a primeira dos quatro, trotando na areia fofa sem se preocupar com a lama nos sapatos, e em seguida Morgan e a vagabunda vinham grudadinhos — por mais que o médico não parecesse de todo contente com a situação. Bertruska vinha no final de todos eles, velando pelos companheiros para que ninguém se perdesse dessa vez (ao mesmo tempo que aproveitava para checar se sua "bonequinha" estava sendo bem tratada). Quando avistaram Flint e Belka, deu-se um estardalhaço que só; imagine, não comiam a horas! A comoção era justificável. Após o anúncio (voraz) da capitã, a guerrilheira também declara:

— Eu também, se não comer imediatamente, vou desmaiar de fome! — sua voz foi alta o bastante para que a gata e o cozinheiro se arrepiassem por completo. Os fantasmas não só existem como também são estupidamente exigentes! Voltaram a vida somente para os atormentar. — Flint, pode preparar um rango pra oito pessoas, viu? Eu sozinha comerei por três — e riu alto, uma gargalhada retumbante que talvez tenha feito o mar se remexer. Mas só talvez.

Flint nunca sentiu tanto pesar por ver alguém respirando. Ó deus, clamava, ao menos levasse Bertruska, somente isso bastava, entretanto, todas as preces eram inúteis.

— Nós nem estamos na praia, seus filhos da puta. — ralhou a gata, infelizmente, quase chegando a beira-mar. — E falem baixo, minha cabeça dói.

Abicar com a canoa não fora de grande dificuldade, ao menos para Belka, que apenas pulou nas costas do cozinheiro e deixou que fizesse todo trabalho. Em sua mente havia somente uma preocupação: Morgan. Desde o singelo furto, temeu que o homem retornasse. Contudo, não acreditou que isso fosse de fato acontecer, afinal ele estava com Bertruska em busca da maluca, tudo estava contra a sua volta. Mas, de que adiantava a fé, se os deuses lhe traziam todos inteiros e com um extra na mala? Irritada, mexia o focinho de um lado a outro em negação; sabia que ter a obcecada em viagem traria problemas — a instabilidade facilmente tiraria o controle de suas patas felpudas — e sequer tinha noção de seus poderes, apenas sabiam que representava perigo (Bertruska lhe pagaria caro por isso). Dentre tantas incertezas algo era claro, precisava dar um jeito de dobrar o médico, pois em hipótese alguma lhe entregaria as suas jóias.

Ao pisar as patinhas na areia, após uma leve piscadela para Flint (que fora prontamente compreendida), partiu em direção a capitã, dando-lhe um cascudo. No fim das contas, estava extremamente grata por vê-la ali.

— Vamos comer e evacuar esta pocilga — ditou alto para que todos ouvissem claramente. Apontou para o drácar e virou-se para o oceano, em direção da caravela que surrupiaram na noite anterior. — Veem aquela embarcação no mar? É nossa nova carniça.

— Ai! — Poyo reclama, acariciando a própria cabeça, mas não levou um segundo para a dor ser ofuscada pelo interesse na caravela ao mar. Seus olhos quase se encheram d'água: era o navio perfeito para ser uma excelentíssima capitã!

O sol da manhã trouxe detalhes que Flint e Belka não puderam reparar na noite anterior. Era uma embarcação grandiosa em todos os mínimos detalhes, certamente digna do nobre que a tinha — até a noite anterior, no caso, porque agora pertencia a um bando pirata. O casco era da cor da madeira, um marrom avermelhado muito elegante que, devido ao minimalismo, só servia para destacar ainda mais a proa e bordas em dourado. As escotilhas laterais e outros detalhes que deveriam ser de metal também tinham o mesmo tom de dourado, todavia dessa vez eram entalhadas à mão com pequenos rococós entre os parafusos de metal, como se cada uma delas fosse uma obra de arte a parte. Tudo era muito requintado; muito chique. Era bem mais do que poderiam sonhar, e bem mais do que mereciam, considerando sua prole imunda.

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