Grand Line, alto-mar (Fruta do Diabo)

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Por volta das três da tarde, no dia depois da festa com os Pierrôs em Woo Pululu, Flint ainda lavava as louças utilizadas no almoço e janta e, ao mesmo tempo, preparava uma pasta de menta para as queimaduras de Bertruska e Poyo, que por descuido, depois de acordarem para desenfronhar as velas, dormiram de volta no convés até perto do meio-dia. Isto posto, era de se esperar que a capitãzinha estivesse menos animada que os outros tripulantes, mas, pelo contrário, desde que convencera o cozinheiro e ex-marinheira a comprar uma piscina de plástico cheia de palhaços e elefantes caricatos na ilha anterior, não havia tempo ruim para ela e sua companheira galinha, que já desfrutava de um banho gelado mesmo enquanto a água enchia.

— Que inveja de você, Fio... — resmungou Poyo, de joelhos sobre o assoalho quente e vestindo uma camiseta pertencente a Morgan bem maior do que seu corpo, invés do biquíni que Bertruska lhe dera (afinal, precisava poupar ao menos um pouco a pele do sol). — Queria pular o tempo para quando já estivesse cheia... — e fez um bico para a ave.

Alguns metros a distância, observando a capitã pela porta da cozinha, Bertruska ria pequeno no balcão ao ver que o novo item havia roubado sua galinha de si, enquanto posicionava as bolsas de gelo em seus braços avermelhados. Ainda que estivesse queimada, teve a sorte de somente os membros superiores ficarem expostos ao sol, uma vez que caíra no sono na sombra do banco de madeira, tornando assim a dor, apesar de incômoda, infinitamente mais suportável; não demoraria para que pudesse retornar ao seu cronograma de malhação junto do cozinheiro. Suspirou.

— Visto daqui, nem parece que é galinha... — disse, puxando com o canto dos lábios um canudo e bebendo um pouco de água gelada.

— O Morgan, ou a Fionnula? — debochou Flint em resposta, referindo-se a noite anterior, quando o médico só faltou entrar no cu de Franz, de tanto que quisera se aproximar dele. Aparentemente, ele estava descreditando o perigo que corria pelo ciúmes da Larvinha e, enquanto não era obrigado a limpar os restos mortais de um desastre, restava ao cozinheiro rir da cara de ressaca do amigo. 

A combatente levantou a sobrancelha, levando um segundo ou dois para entender a piada, mas então soltou uma risada espalhafatosa, tentando, sem sucesso, levantar o punho para cumprimentar o cozinheiro; por fim, ela passou os olhos brevemente pela mesa de jantar, onde a navegadora e seu morceguinho posicionaram-se logo após o almoço de baixo de um guarda-sol, a fim de estudar o frasco que Morgan afirmou ter ganho como um presente do médico Pierrô. A feição desgostosa e o mau humor latente de ambos indicavam que talvez a prenda não tenha sido recebida com tanto fervor, mas não era muito difícil incomodá-los, pensou consigo mesma.

— De qualquer forma, depois dos bichos que vimos nessa última ilha, eu estive pensando...  Será que o que a Autumn dizia sobre a Fionnula era verdade? — perguntou a Flint, à esmo, e voltando sua cabeça para cozinha devagar.

— Que papo de bêbado — respondeu e, de prontidão, abriu um sorriso brincalhão ao ver o biquinho que se formara nos lábios da guerrilheira. Ele continua: — Tenho certeza que nem mesmo uma palavra do que aquela trambiqueira dizia era baseado em qualquer fato. Talvez nem um explícito "estou roubando vocês" — suspirou. — Não acho que você deveria manter suas esperanças.

— Mas não seria fofo? Ter um cisne, invés de uma galinha...

— Olha, cisne não dá para comer, né. Ou melhor dizendo, eu nunca tentei fazer um...

— FLINT! — ela interrompeu, alto.

No entanto, invés de se sentir acuado ao ver a feição desesperada da combatente, que nada podia fazer para defender sua aliada na condição em que estava, o cozinheiro apenas deu uma risada ladina, dando de ombros e, sem qualquer temor, sussurrou um "ainda", abrindo um sorriso de orelha a orelha enquanto aplicava a mistura para queimaduras. Bertruska torceu o lábio mais uma vez, aborrecida como uma criança ao perceber o deboche. Se não estivesse dependente de suas receitas para aliviar a dor, certamente o acertaria agora, disse a si mesma. Só por isso que não o quebrava na porrada agora, e apertou os olhos.

Prisão de GatoWhere stories live. Discover now