Grand Line, Shanchá (Final)

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"(...)O homem quer ser peixe e pássaro,

a serpente quisera ter asas,

o cachorro é um leão desorientado,

o engenheiro quer ser poeta,

a mosca estuda para andorinha,

o poeta trata de imitar a mosca,

mas o gato

quer ser só gato

e todo gato é gato

do bigode ao rabo,

do pressentimento ao rato vivo,

da noite até seus olhos de ouro. (...)"

— Ode ao Gato, de Pablo Neruda

Já era possível ouvir o vidro cedendo ao calor que se formava quando Yun terminava de despachar seus tripulantes para dentro da própria embarcação, afinal não era seguro que permanecessem por ali, sobretudo com a iminência da chegada da Marinha. Isto é, era fato que estavam chegando; não seria tolo de acreditar que, em todo esse tempo que permanecera calado, Hanzo apenas aceitaria suas ordens e o seguiria em voto de silêncio sem planejar algo por trás, mas de qualquer forma agora já era possível ver a fumaça tomando as altas janelas de Shanchá e, contra o fogo, não haveria arrependimentos que pudessem pará-lo.

Ao longe, era possível ver a carniça se distanciando sob sua ordem, deixando Belka e Poyo para trás, com a missão de atear fogo a cada centímetro da casa de banho para erguer uma cortina de fumaça que os escondessem de Apricot no mar.

Yun não poderia se dar ao luxo de colocar fogo na pousada sozinho; não enquanto era responsável por seus próprios tripulantes, além disso, ainda que estivesse disposto a ajudar, sabia que nenhum dos gatos era merecedor de seu sacrifício, muito menos o de um de seus companheiros.

A boca amargava ao pensar que seu plano poderia ter sido infinitamente mais simples e, talvez ele próprio pudesse segurar em suas mãos os fósforos e o álcool, contudo ainda lhe parecia arriscado demais, sobretudo porque haviam testemunhas demais naquele local e os diamantes que oferecera aos funcionários não comprariam o silêncio de seus empregos serem retirados à força. Eles não diriam nada sobre os serviços médicos, porém não estava certo que se manteriam calados caso vissem um dos cães destruindo a propriedade — além de que Hanzo não poderia saber que eram todos a se revoltar.

Era arriscado demais.

E por isso, quando pediu por voluntários para ficarem para trás, desejou que a capitã fosse egoísta e prezasse pela própria vida, mas certamente era pedir demais que um capitão abandonasse suas responsabilidades dessa maneira. Poyo estava disposta a morrer pela vida de seus companheiros e Belka, por outro lado, parecia simplesmente disposta a morrer. Independente de seus motivos, colocariam fogo abaixo a casa de banho e, saindo silenciosamente pelos fundos, viajariam com um pequeno barco em encontro aos gatos e, a partir dali, estariam por conta própria.

Sentia as mãos tremerem um pouco, algo bastante desagradável para um médico, observando a nuvem de fumaça tornar-se cada vez mais espessa e o ar mais difícil de se respirar. Não havia sinal das gatunas e, principalmente, não havia qualquer sinal de Hanzo.

Prisão de GatoWhere stories live. Discover now