Periódico do Komainu, Shanchá (Casa de Banho)

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No exato segundo em que perdeu sua irmã mais nova de vista, Sherikan, embora tenha juntado forças para caminhar alguns passos, sentiu seus joelhos amolecerem e a pressão sanguínea cair. Já havia muito tempo desde a última vez que sentira tamanha insegurança, e o medo, esta curiosa sensação, era algo que pensava ter abandonado a muitos anos atrás junto de seu treinamento com a Marinha, contudo fora acometido por ambos os sentimentos no segundo em que viu as madeixas brancas de Izumi cruzarem o corredor da base militar e, em pouco menos de um instante, nem mesmo sua sombra continuava por lá.

Imediatamente teve vontade de vomitar. Não poderia negar que ela havia crescido; após tantos anos sem vê-la, não tinha dúvidas de que seu poder atual não se comparava ao dela, que certamente não teve o privilégio do descanso como ele (por mais que, de sua parte, preferisse que estivesse como antes, pequena e inocente, longe do inferno que viveu durante sua tenra infância e adolescência), mesmo assim, naquela tão breve fração de momento, a mesma Izumi de antes cintilou como uma tênue chama de vela, brilhando por um breve instante até que o vento a tirasse de si mais uma vez e os separasse por mais uma eternidade. Sherikan não teve tempo de pensar antes de suas pernas começarem a caminhar.

— Izumi, espere! — gritou, o mais alto que conseguiu, e então quebrou o corredor, não se importando com o que sua tripulação poderia pensar, tampouco com o lugar onde estava. Sem pestanejar, o capitão, Hanzo, que o encarava com a feição severa e o corpo contraído, avançou a fim de pará-lo (uma vez que estavam em um local inóspito e, já com um membro desmaiado em seus ombros, não poderia se dar ao luxo de permitir que mais um dos seus fosse derrubado desta maneira), no entanto Yun, quem já não tinha mais certeza de que poderia contar, súpeto forçou uma tosse alta, fazendo-o hesitar.

— Hanzo, você teria um lenço? — o imediato questionou, com a mão sobre a boca, direcionando a si um olhar severo.

— Não, não tenho — ele respondeu ríspido, compreendendo sua ação sem muito esforço. Parou de se mover: não deveria ir atrás.

— Tudo bem, eu posso arranjar em outro lugar. — Finalmente, Yun semicerrou seus olhos, ignorando a mandíbula travada do capitão e direcionando-se a Fang e Hide, que estavam atônitos no lugar. — Temos que partir agora. O contra-almirante arranjou um lugar para ficarmos.

— Você diz, aquele cara? — Hide balbucia, visivelmente abalado com os acontecimentos anteriores e comprimindo os lábios: apesar de incomodado com Sherikan e o corpo desacordado de Nicholas sobre os ombros de Hanzo, seu senso de autopreservação gritava para Apricot, que mal estivera naquela sala, mas deixara para trás uma aura podre; nociva.

— O próprio, Hide — Yun soltou o ar de seus pulmões e encarou-o solene, recebendo de volta o fitar obediente de um rapaz que aguarda ordens. Hanzo e Fang não disseram nada. — Ele irá fretar nosso navio para descarregarmos alguns barris e então ficaremos à espera de seu contato. Infelizmente não podemos avançar além disso, por enquanto — finalizou.

Desconfortável, Hide suspirou entrecortado, com um nó na garganta: não havia sido um pirata durante toda a vida para, logo no primeiro dia de viagem com o novo bando, acabar dentro de uma base da Marinha e, ainda por cima, ser feito de navio cargueiro. Estava indeciso, e portanto não conseguiu se segurar: — Sinto muito em perguntar, mas farei mesmo assim. Isto é seguro, Ka... quero dizer, Yun? — gaguejou, encarando-o com os olhos arregalados.

Então, mais bravo que um cão de guarda, o capitão latiu de repente: — Kaze! Vamos logo! — ordenou, marchando em frente aos demais.

Mas Yun não o seguiu e, ao invés disso, só revirou os olhos, voltando-se novamente ao rapazinho que continuava o encarando. (Hanzo parou de andar no momento em que não viu ninguém o seguir; não se virou, porém mordeu a parte interna do beiço inferior ao ouvir que Kaze iniciava uma resposta).

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