Grand Line, anfiteatro de Woo Pululu (Jogos Piráticos)

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Hiroshi acordou em um sobressalto sobre o colchão improvisado sem saber ao certo onde estava. Não saberia dizer exatamente quando pegou no sono, mas no momento que abriu os olhos, teve certeza que não descansara por sequer um segundo e, se fosse para ser sincero consigo mesmo, talvez dissesse que estava mais cansado do que quando foi dormir. Estava miserável — e essa sensação de desamparo se repetia muito ultimamente, uma vez que faziam dias que não conseguia dormir sem ser atormentado por pesadelos e sonhos inconstantes, ou então pelas tão frequentes discussões dos demais tripulantes daquela estranha embarcação. Às vezes, também, era Poyo quem o acordava, dando-lhe uma bem-dada travesseirada apenas porque podia fazê-lo e, em síntese, ele não poderia fazer nada, pois, contra a palavra de sua capitã, sua voz não era nada.

Mais do que nunca, Hiroshi sentia-se a um passo do retrocesso de agarrar-se ao seu único bem: a mochila que por tanto tempo o acompanhara. Sabia que não poderia depender de um objeto para conseguir se manter firme no chão, ainda mais depois de ter aquela conversa com Flint sobre desapego, entretanto, nos últimos dias a vida andava tão difícil que ele não via problemas de, de vez em quando, sentar e conversar com o verdadeiro Hiroshi — o que ficara preso na fruta do diabo — e pedir-lhe conselhos de como sair daquela situação. Daria tudo para nunca ter entrado ali, dizia a ele; mas a Fruta não o encorajava a ir embora. Não tinha para onde ir, o outro Hiroshi respondia. E é por isso que tinha de se acostumar e ficar. 

Finalmente de pé, e sentindo um peso insuportável em suas costas, Hiroshi caminhou pelas pontas do pé para fora da barraca, temendo acordar qualquer um dos tripulantes enquanto o fazia, porque os momentos que passava a sós consigo mesmo eram os únicos que ainda prezava em sua vida. O desejo de tomar a mochila e sair andando até que alguém o encontrasse passou outra vez em sua mente, mas com medo de não poder explicar-se caso fosse encontrado antes de concluir seu objetivo, preferiu tomar um ar antes de tomar decisões sérias, e por isso seguiu ao acampamento com a cabeça quase tombada aos próprios passos, partindo sem rumo para qualquer lugar onde pudesse pensar em silêncio. 

O dia ainda não havia amanhecido, mas já tinha uma coloração mais clara que a noite e o vento não era insuportável o bastante para voltar e buscar um casaco. A passos firmes, passou por cada uma das tendas, imaginando se os demais tripulantes já estavam acordados numa hora dessas e se, por acaso, Flint não estaria por aí em vez de dormindo como sempre fazia no navio, mas logo dispersou esse pensamento de sua cabeça, lembrando a si mesmo que de nada adiantava procurá-lo agora, dado que não estavam mais no mesmo bando e nada se resolveria se apenas ficasse se lamentando e pedindo ajuda desse jeito. No limite de sua estabilidade emocional, pôs para si mesmo que tinha duas opções: ou caminhava pelos próprios passos até conquistar o respeito do resto do bando, ou então dava um jeito de ser repescado para outra tripulação — e, diga-se de passagem, nenhuma dessas opções contemplava ir atrás do cozinheiro. Não agora, ao menos.

Quando alcançou o limite da cidade e o caminho tortuoso que o levaria até o porto dos barcos, por fim, Hiroshi sentiu o peso sair de seus ombros e parou por um breve segundo para ver e ouvir o mar. Tendo vivido a maior parte de sua vida em um pequeno barco, ele não pensou que passar dias na gávea lhe faria tão mal quanto fizera realmente, mas apenas alguns passos do lado de fora o fizeram compreender que, de fato, estava muito errado em pensar assim. Como aquela liberdade e solidão lhe faziam falta..., disse a si mesmo. Isto é, já não podia dizer que estava sozinho, uma vez que fazia parte de uma tripulação, contudo, em comparação ao que vivera anteriormente, estar com os Gatos era o mesmo que se estar exilado: estava preso com pessoas que não gostava de conviver, sem poder sair de um minúsculo cesto ou deixar de se sentir amedrontado, e a cada dia que passava, temia ainda mais estar mais próximo de sua morte.

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