East Blue, Goa Kingdom (Dawn Island)

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O caminho do "lixão" para a cidade — isto é, do ferro-velho em torno das muralhas para a capital — foi regido por apenas um sentimento: o arrependimento. Não só por ter deixado Bertruska sozinha na loja no dia anterior, ou por ter fraquejado na hora em que viu Flint ser contaminado pelas roupas feias; mas sim porque, mesmo sabendo que era uma má ideia, não pôde impedir que sua capitã fosse para o meio do mato, sob a tutela apenas de um criminoso que conhecera a não mais que um dia e uma mulher completamente desvairada. Acima de tudo, estavam agora os três em um ambiente desconhecido, numa busca infundada por uma mulher tão desequilibrada quanto sua guerrilheira, mas que, no máximo, só faria um mal para eles: levar o recém-admitido médico da tripulação embora (e isso não era de todo ruim). No melhor dos cenários somente a capitã voltaria e enfim retornaria a paz — ao menos até a pirralha encontrar outros lunáticos carismáticos ou mendigos simpáticos.

— Não se preocupe, ela vai retornar. — o cozinheiro afirmou, oferecendo um trago de seu cigarro a gata que, pendurada sobre seus ombros, descansava sob sua cabeça. Flint não desgostava da presença do médico, entretanto, se precisasse perdê-lo para se livrar de Bertruska, o perderia quantas vezes fossem necessárias.

— Agora é o momento de esquecer esses problemas tolos, logo mais teremos dores de cabeças para uma vida. — diz a gata, tomando o cigarro da mão do homem e puxando toda a fumaça que seu (pequeno) pulmão poderia aguentar. Ah, o que não daria por uns quarenta centímetros a mais de altura... Poderia fumar até três inteiros daquele, se tivesse! Mas era gato, e seu organismo não permitia esse tipo de alívio de estresse, infelizmente. — Se voltarem, voltam com mais uma para encher a porra do meu saco.

— Vamos precisar de saquê — riu nasalado, compartilhava do mesmo desespero que a imediata — E muitos cigarros.

— E você lá tem dinheiro para sustentar isso, engraçadinho? — Belka aproveitou a altura para puxar as bochechas de Flint, esticando-as para o lado com toda a força dos bracinhos miúdos.

— Não o suficiente, mas sabemos quem tem. — sorriu para a gata, sem se importar com a vermelhidão nas bochechas magras. — Nosso granfino não mediu palavras quanto ao seu tesouro. Jóias e uma boa grana. Ele não se importaria se pegássemos um pouco dessa fortuna, veja bem, o acolhemos tão bem ontem...

A gata ficou em silêncio, esperando os ávidos argumentos de seu, nesse momento, melhor companheiro.

— Nada mais justo que os baderneiros pagarem uma taxa a nós, seus salvadores. — Flint conclui, enquanto Belka abre um sorriso maldoso que expõe suas presas. É por isso que ele tinha um lugar no seu barco, enquanto Bertruska e Morgan, não.

O mau-caratismo define o meio pirata, não havia dúvidas sobre isso. Mesmo assim, dessa vez teriam de varrer (em partes) essa maldade, pois teriam de passar como pequenos cordeiros, se quisessem ter acesso ao portão principal da capital — não iriam saltar de novo, nunca mais.

O portão estava cada vez mais próximo e ao longe ouviam os gritos infantis e vozes afetadas das terríveis madames, mas nada temiam, estavam prontos. Munido dos pés as cabeças com as mais temíveis roupas e um trunfo, os elegantes botões da maltrapilha camiseta de Morgan. Aqueles elegantes botões eram a chave para passar sem muitas perguntas: pertenceram a um irrefutável magnata, e agora estavam costurados a camisa de Flint, um homem pobre em toda sua essência. Ele diz: — Coloque o chapéu, irmãzinha.

Chegar ao portão dava a gata um embrulho em seu estômago, nada relacionado com o álcool recentemente ingerido, apenas detestava a ideia de voltar para aquele local. Havia sido humilhada e fazia parte de seu preceito nunca mais pisar nos lugares que passou vergonha, com exceção do momento que fosse para destruí-los. Contudo, aquela era uma situação de emergência. Mais que vingança (daquele lugar), desejava um barco.

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