Capítulo I

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— Que que isso no seu jaleco? — Carol bufou enquanto esfregava um lenço na barra de seu jaleco tentando limpar uma mancha de vômito.

— O prazer de ser vomitada às cinco da manhã por uma criança você só encontra na pediatria - respondeu. — Quer trocar comigo?

— Amor, não. — a loira disse rindo.

— Rosamaria, por favor! — Carol juntou as mãos em uma tentativa desesperada de convecê-la.

— Carolana, não vai acontecer — declarou. — De todos o males, trauma é o menos pior. Se você tá' de babá, sofra sozinha.

Carol encarou a amiga. Levou uma mão ao peito, fazendo drama. — Então você não me ama? — Rosamaria suspirou e levou as mãos aos ombros da amiga, olhando diretamente em seus olhos.

— Até pro amor tem limites, Carol. — disse, se afastando com uma falsa tristeza estampada em seu rosto.

— É uma besta mesmo, né? — a loira gargalhou alto. — Pois fique sabendo que vai ter volta, sua ingrata!

Rosa, ironicamente, mandou um beijo e saiu da sala dos residentes, deixando uma Ana Carolina brava e resmungando consigo mesma. Tirou o estetoscópio do bolso do jaleco branco e o colocou em volta de seu pescoço enquanto caminhava em direção à recepção do hospital.

Ao longo do caminho, Rosamaria pensou no que deveria fazer no dia: até então, duas cirurgias e inúmeros acompanhamentos pós-operatórios da doutora Mariana, além de, é claro, cobrir a emergência. Levantou o braço esquerdo e olhou o relógio - passava das cinco e quinze da manhã; seria um longo plantão no trauma, mas felizmente o último antes do rodízio de especialidades se valer e chegar sua vez de prestar serviços à Jaqueline Carvalho, cirurgiã cardiotorácica Era definitivamente o serviço mais aguardado pela loira, que, desde seu primeiro ano de residência, achava que nenhuma outra especialidade cirúrgica chegava aos pés da cardio.

Chegou ao balcão da recepção e, com um tablet em mãos, usou seu login para acessar os prontuários de seus pacientes. Estava decidindo a qual quarto ir primeiro, quando ouviu passos acelerados atrás de si. Girou em seus calcanhares para se deparar com dois estagiários correndo até ela e, mais atrás deles, Gabriela caminhando a passos calmos.

— Qual o problema de vocês? — perguntou a loira, com uma mão na cintura — Tão' fugindo do bicho-papão?

Ana Cristina e Thales pararam de correr imediatamente e se entreolharam.

— A gente não queria atrasar e-

— Vocês trabalham em um hospital, com pessoas doentes e tudo o mais. - Gabi interrompeu. — Se não querem se atrasar, acordem mais cedo. — finalizou com um meio sorriso. Rosamaria revirou os olhos e ignorou a presença dos dois.

— E aí, como você tá? — Rosa perguntou.

— Tô' bem. Descobri hoje que tô' perdendo um caso maneiríssimo de um bebê com um coração fora do corpo. Tudo ótimo — ironizou.

— Um coração fora do corpo? — a outra perguntou, surpresa. Gabi confirmou com a cabeça. — Ah, mas que merda! — bufou — Mas trauma é legal, amiga. Vamos juntas! — fingiu entusiasmo.

— Yay! Trauma, super legal, hein. Uhul. — Gabi entrou na onda.

As duas se encaminharam para o primeiro paciente, seguidas dos dois estagiários.

Rosamaria e Gabi terminaram as rondas pouco antes das dez da manhã, quando decidiram ir à cafeteria pegar algo para comer.

— Ei, você soube que a chefe de neuro chega hoje? — perguntou Gabi, fazendo conversa na fila.

The brain's heartOnde histórias criam vida. Descubra agora