Capítulo XXII

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Tem coisas que são realmente perturbadoras.

Não importa o quanto elas pareçam estar resolvidas, ou até mesmo esquecidas, elas sempre vão estar no cantinho, esperando para voltar a tona.

E agora, depois do café da manhã, Carol estava irritada. Ela não sabia se era consigo mesma, por não conseguir esquecer o problema-que-não-era-mais-um-problema, ou com o universo que mandava flashes dele em sua mente.

Mas, afinal, Rosa estava certa – elas não se conheciam.

Isso não era, na verdade, um problema para Gattaz. Ela nunca se incomodou em conhecer as pessoas com quem se relacionava conforme o avanço da relação e dos dias; também nunca foi um empecilho para as outras pessoas. Mas agora tudo estava diferente. Era Rosamaria. Que planejava cada passo de seu dia e que nunca havia se enfiado nessas coisas com outras pessoas.

Mas elas tinham feito um acordo, elas estavam na mesma página. Rosa estava disposta a conhecer Carol. Então... por que isso ainda incomodava a neurocirurgiã, rondando sua mente e provocando pequenas reviravoltas em seu estômago?

E se Rosamaria não gostasse do que descobrisse? E se Carol fosse demais de novo? E se Rosa pensasse que ela não valia a pena? Que não valia o seu tempo?

Gattaz suspirou. Não devia pensar assim e sabia. Mas era inevitável. Tinha medo de pisar na bola dessa vez, com essa pessoa em particular. Não queria estragar tudo de novo. Queria ser sincera sobre quem e sobre como ela era, mas... e se?

Antes que Carol continuasse em seu ciclo autodestrutivo, porém, foi interrompida por alguém que há muito tempo queria ver.

— Quem é que cê' pensa que cê' é, Caroline? — silêncio. — O Lewis Hamilton?

Caroline bufou. Um esporro não era, exatamente, o que ela esperava receber de sua irmã naquele momento.

— Me dá um tempo, Renata — rebateu, com vincos entre as sobrancelhas. — Já fizeram essa piada e eu já falei que prefiro o Ayrton Senna.

— Rá, rá. Muito engraçado — disse Renata, irônica. — Tô' morrendo de rir.

Carol, novamente, não disse nada.

— Quem sabe dessa vez, que não foi só o seu carro que ficou quebrado, cê' não tira o pé desse acelerador, né!

— Qual o problema de gostar de andar rápido? — Carol perguntou, quase brava pela insistência da irmã.

— Alice fica sem a dinda dela e eu faço o quê? — indagou, com os olhos inquetos e grudados nos da médica. Gattaz apertou os olhos. — Eu fico sem a minha irmã e faço o que, Caroline?

Alice, o amor da vida de Gattaz. Ela não conseguia imaginar um mundo onde não teria a menina como sua afilhada. Sua família, como um todo, era muito importante, mas ninguém se comparava a Alice. As palavras de sua irmã foram parar direto em seu coração.

— Tô' morrendo de saudades dela — falou, baixinho, olhando seu colar. — Mas não traz ela aqui, por favor.

Com olhos marejados, Renata não entendeu. — Não quero que ela me veja assim. Ela vai querer brincar e eu não vou poder.

— Tudo bem — A irmã respondeu, depois de um instante. — Quando cê' tiver em casa eu levo ela.

— Agora, será que eu posso ganhar um beijinho da minha irmã, que eu não vejo há séculos?

Renata gargalhou. — Agora pode, besta.

As duas riram quando Renata se acomodou junto de Carol, em cima da maca, e beijou demoradamente sua bochecha. Elas conversaram sobre o acidente e sobre o braço da cirugiã (Renata ficou preocupada com a visão da tipóia), além de fazerem planos para o fim de ano que se aproximava.

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