Capítulo XXI

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— A gente precisa melhorar a comida desse hospital.

Fernanda riu com a fala de Carol. — É sério, a do refeitório é ótima, mas essa aqui — disse, apontando para sua primeira refeição do dia. — É horrível, doentes merecem comer bem.

— Tá' bom, vamos colocar nos planos pro próximo semestre — concordou Garay, fazendo a loira levantar as mãos ao céus em sinal de agradecimento. — Só não pode deixar a Macris saber, se não ela vai ficar brava com o pessoal da cozinha.

— Ah, é verdade.

— Eu não posso saber do quê? — Macris surpreendeu-as, entrando no quarto. Caminhou até a maca de Caroline e sentou-se junto a ela.

— Nada! — exclamou Garay.

— A comida é ruim pra caramba — Gattaz soltou. Fernanda arregalou os olhos e cruzou os braços. — Eu não consigo mentir pra ela!

Garay reclamou do fato de que Carol havia descumprido o combinado das duas, mas logo começou a rir, pois Macris estava indignada com seu cardápio sendo mal executado. Era ela – a nutricionista – que fazia a dieta de todo o hospital – de funcionários e pacientes –, personalizando-a conforme preciso.

A loira acidentada e a chefe gargalharam quando, depois de uma garfada na refeição de Carol, Macris reclamou da quantidade de manteiga usada na preparação.

As três gastaram alguns longos minutos conversando sobre qualquer coisa que fosse distrair Caroline do fato de que seu braço estava imobilizado – vinha sendo um grande incômodo desde que ela percebera a falta de movimento do lado esquerdo. Além disso, as amigas sabiam que a neurocirurgiã talvez enlouquecesse se não tivesse com quem falar por muito tempo.

A manhã da loira já havia sido muito... complicada. Repleta de procedimentos de verificação e acompanhamento, Carol ficou de saco cheio.

Estava sendo uma experiência terrível, para ela como médica, passar por tudo aquilo. Ela sabia que era necessário – em sua maioria, pelo menos, pois desconfiava que Mari estava olhando coisas mais a fundo pelo fato de ela ser uma colega de profissão –, mas não deixava de ficar irritada por isso.

Gattaz foi, oficialmente, liberada para comer alguns minutos depois das onze da manhã. Pensou que nunca havia almoçado tão cedo em sua vida. Pensou, também, que eram muitas experiências novas em um período de tempo muito curto.

Um acidente de carro, que, por mais que ela gostasse de dirigir em alta velocidade, nunca tinha acontecido; estar aberta em uma mesa de cirurgia e um namoro. Este último não era, exatamente, uma novidade – ela já viveu muitos relacionamentos. Mas tudo sobre ele era. O contexto, o desenvolvimento, a forma como começou, a namorada.

Pelo que parecia ser a primeira vez, em seus quarenta anos, Carol se sentia deslocada. Ela não estava acostumada àquela posição. Precisava de cuidados, mas era ela quem cuidava; sentia-se impotente, quando era ela quem sempre sabia dos próximos passos. Era estranho demais, pensou.

E, além de tudo isso, havia mais uma coisa que a incomodava, fazendo cócegas em sua cabeça.

Ainda não tinha visto Rosamaria.

Havia pouco mais de vinte e quatro horas desde a última vez que se viram, depois que Carol acordou. Rosa tinha entrado após os primeiros exames de Mariana e Gabi, mas não ficou muito e saiu. Desde então, nem uma palavra dela. Ou sobre ela. Nada.

Isso provocava vincos entre as sobrancelhas de Caroline sempre que ela se encontrava sozinha.

Quando Garay e Macris retiraram-se para cumprir suas próprias funções, e porque enfermeiros informaram-nas da mudança de quarto de Gattaz, a médica voltou a se preocupar. Nem mesmo o alívio de sair da unidade intensiva a fez parar de pensar no sumiço de sua namorada.

The brain's heartHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin